National Geographic - Portugal - Edição 227 (2020-02)

(Antfer) #1

26 NATIONAL GEOGRAPHIC


JoAni Johnson, que
iniciou a carreira como
modelo depois dos
60 anos, posa para
um retrato na cidade
de Nova Iorque. Ela
já desfilou e participou
em campanhas
publicitárias na
imprensa escrita para
marcas como Fenty,
Eileen Fisher e Tommy
Hilfiger. As campanhas
publicitárias eram,
tipicamente,
dominadas por
modelos jovens.

Há não tanto tempo como isso, a marca de rou-
pa Universal Standard divulgou uma campanha
publicitária com uma mulher que veste um tama-
nho 56. Ela posou de cuecas, camisola interior e
meias brancas. A iluminação era básica, o cabelo
apresentava-se ligeiramente frisado e as coxas en-
covadas por celulite. Não havia nada de mágico ou
inacessível naquela imagem. O realismo era exa-
gerado, o oposto de um anjo da Victoria’s Secret.
Todos os pressupostos da beleza foram subver-
tidos. Este era o novo normal e era chocante. Há
até quem possa afirmar que era bastante feio. Por
mais que peçam inclusão e aparência normal (as
ditas pessoas reais), muitos consumidores conti-
nuam desalentados com o facto de isto... enfim,
isto ser considerado beleza. Olham para uma mu-
lher com 90 quilogramas e, depois de reconhece-
rem rapidamente a sua autoconfiança, começam
a exprimir preocupações relativamente à sua saú-
de, apesar de nunca terem visto a sua ficha clínica.
É um tema de conversa mais educado do que o
argumento de que ela não é bonita. No entanto, o
simples facto de esta modelo da Universal Stan-
dard andar de roupa interior sob os holofotes –
como os anjos de Victoria’s Secret se apresentaram
na geração anterior – é um acto de protesto políti-
co. Não se trata de querer ser uma pin-up, mas de
querer que exista o direito de um corpo existir sem
ser julgado negativamente. Enquanto sociedade,
ainda não lhe reconhecemos o direito a simples-
mente existir. Pelo menos, o mundo da beleza está
a dar-lhe uma plataforma para ela se exprimir.
Não é apenas uma exigência das mulheres
corpulentas. As mulheres mais velhas insistem
em ocupar o seu lugar na cultura. As mulheres
negras exigem que as mostrem com o seu cabe-
lo natural, mas não existe um território neutro.
O corpo, o rosto e o cabelo tornaram-se políti-
cos. Beleza significa respeito, valor e direito a
existir sem precisarmos de alterar a essência de
quem somos. Para uma mulher negra, o facto de
o seu cabelo natural ser considerado bonito sig-
nifica que os seus caracóis crespos não indicam
que ela seja pouco profissional. Para uma mu-
lher corpulenta, o facto de os seus pneus serem
incluídos nas conversas sobre beleza significa
que ela não será castigada por estranhos por co-
mer uma sobremesa em público. Ela não terá de
provar ao seu empregador que não é preguiçosa,
que não lhe falta motivação ou autocontrolo.
Quando as rugas de uma mulher mais velha
são consideradas belas, isso significa que essa
mulher está a ser reconhecida. Não está a ser


ignorada como um ser humano pleno: sexual,
divertida, inteligente e, provavelmente, preocu-
pada com o mundo à sua volta.
A aceitação de beleza nos músculos trabalha-
dos de uma mulher é aceitar a sua força, mas
também a rejeição da ideia de que a beleza fe-
minina equivale a fragilidade e fraqueza. A força
física pura é deslumbrante.
“Sê quem és”, lia-se numa T-shirt do desfile de
Primavera de 2020 da Balmain, em Paris. O direc-
tor criativo da marca, Olivier Rousteing, é conheci-
do por se concentrar na inclusão na beleza. Junta-
mente com Kim Kardashian, ele ajudou a populari-
zar a noção de “magra com curvas”, a descrição do
século XXI de uma figura de ampulheta, ajustada
através da prática desportiva. “Magra com curvas”
descreve uma mulher com um traseiro, seios e co-
xas proeminentes, mas um tronco esguio e tonifi-
cado. É um tipo de corpo que vendeu inúmeras cin-
tas de treino e foi utilizado para descrever mulhe-
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