Fotografe - Edição 279 (2019-12)

(Antfer) #1

MATÉRIA DE CAPA


Para obter boas
fotografias de rua
é preciso andar
muito, perder-se
pela cidade e, ao
encontrar um
cenário propício,
parar e saber
esperar pelo
momento ideal

Não há outra forma de se desenvolver
na fotografia de rua senão andar muito,
bater muita perna em busca de imagens. É
preciso se perder pelas vias para encontrar
cenas únicas, instigantes, engraçadas ou
inusitadas. Ao descobrir um cenário de
interesse, é o momento de parar e observar
o movimento ao redor, buscar se antecipar
aos acontecimentos, saber esperar.
As saídas a campo devem ser
intercaladas com uma constante busca por
referências, tanto no universo da fotografia
de rua como provenientes de outras áreas
e mesmo de outras artes. É essencial
possuir uma cultura visual para conseguir
encontrar um caminho próprio. As boas
imagens não surgem apenas do acaso e
da sorte, mas principalmente de um olhar
treinado e educado para captar o “algo a
mais” no cotidiano.
Para Gibson, a receita para um bom
fotógrafo de rua reúne ingredientes como
técnica, faro, paciência e sorte. Lembra
ainda que a própria palavra “rua” inspira
malícia, astúcia e atitude, e que os espaço
públicos também podem ser repletos
de momentos humanos comoventes,

engraçados e até violentos. “Para mim, a
fotografia de rua é qualquer tipo de imagem
feita em um espaço público. Em geral,
envolve pessoas comuns em suas vidas
cotidianas. A importância fundamentral é
que ela nunca é encenada, é real”, defende.
A fotografia de rua também envolve
questões éticas. A princípio, não é
necessário solicitar autorização para uso
de imagem de pessoas fotografadas em
espaços públicos. Porém, o fotógrafo estará
suscetível a ações judiciais caso haja algum
tipo de dano à imagem do cidadão, que
não deve ser fotografado em uma situação
constrangedora ou degradante.
Gibson já sofreu críticas por fotos que
fez, como a de um velhinho que caminha
arquejado, escorado por uma bengala,
diante de uma vitrine onde se lê “last few
days”, ou “últimos dias”,em português (veja a
foto na página 44). “Não fiz o flagrante com
intenção de ser engraçado, de me divertir à
custa do personagem, mas de provocar um
reflexão sobre a finitude da vida, pois todos
vamos envelhecer e morrer. Porém, algumas
pessoas me criticaram, dizendo que fui cruel
ou coisa parecida”, afirma ele.

Flagrante nas
ruas de Londres
realizado por David
Gibson explora
relação entre as
crianças e o aviso
escrito no muro

O ATO DE SABER ESPERAR


David Gibson
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