Fotografe - Edição 279 (2019-12)

(Antfer) #1

FOTÓGRAFO POR AMOR
O uso do analógico e o prazer sentido
em postergar a revelação dos negativos
se tornam viáveis na medida em que
Guillermo Franco não desenvolve seu
trabalho tendo em vista a difusão nas redes
sociais ou a comercialização. Seu sustento
vem do trabalho como programador no
Cineclube Municipal de Córdoba, como
crítico e professor de cinema. Assim, o
tempo está do seu lado.
“Vivo da fotografia no melhor sentido
da expressão ‘viver de’. É a fotografia que
me anima, que funciona como uma pulsão
de vida, e não os retornos monetários.
Não busco me inserir no mercado
editorial, pois não me considero
documentarista, muito menos no
mercado de arte, pois tampouco me
vejo como artista. Sou feliz por ser um
simples fotógrafo, não profissional,
mas literalmente amador, pois pratico
por amor”, conta Franco, que esteve
no Brasil em 2017 para apresentar
seu trabalho no Festival de Fotografia
Paraty em Foco.
Quando se trata de referências,
Guillermo Franco é generoso e
menciona uma série de fotógrafos que
admira e estuda: Helen Levitt, Robert
Frank, Willy Ronis, Sabine Weiss, Ed
van der Elsken, Garry Winogrand,
André Kertész, Tony Ray-Jones, Jacques
Henri Lartigue, Ramón Masats, Sergio
Larrain, Shirley Baker, Tish Murtha,
Elliott Erwitt, Lisette Model, Izis, Martine
Franck, Édouard Boubat, Viktor Kolar
e Diane Arbus em sua primeira fase.
Dentre os argentinos, sua obra


favorita é a de Jorge Aguirre.
Suas referências vão muito além da
fotografia. Bastam algumas menções para se
ter uma ideia. “O que leio de John Berger, a
tipografia das máquinas de escrever, o som
das caixinhas de música, algum verso de
Garcia Lorca, o humor cordovês, uma estrofe
de Alfredo Le Pera, o enquadramento nas
pinturas de Edgar Degas, algum desfoque
de William Klein, recordar do meu pai, os
romances de John Fante, as mentiras de
Federico Fellini...” A declinação termina com
uma referência bastante pessoal: “também,
é claro, o que façam e digam Julieta e
Joaquim, meus filhos”.

Quem é ele


Guillermo Franco nasceu em
Córdoba, Argentina, e tem 52
anos. Formou-se em Comunicação
e Fotografia. Trabalha desde
2000 como programador do
Cineclube Municipal Hugo del
Carril, na cidade onde vive, dá
aulas e escreve sobre cinema.
Pratica a fotografia de rua desde
2009 por paixão. Avesso às novas
tecnologias, nunca fotografou com
celular, não tem site nem perfil em
redes sociais.

O argentino Guillermo
Franco faz suas fotos
principalmente em
Córdoba, onde vive

Fotógrafo de rua deve
estar atento às rimas
visuais do cotidiano

Arquivo pessoal
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