Sabor Club - Edição 38 (2020-03)

(Antfer) #1

12 | Sabor. club [ ed. 38 ]


Qual é exatamente o conceito do Fire and
Ice, seu futuro restaurante com fogo e gelo?
Quero uma grande cozinha aberta, com
mesas ao redor e sem garçons, um serviço
diferente do que conhecemos. De um lado
haverá um grande bloco de gelo e bancadas
para alimentos que podem ser preparados
crus, além de bebidas e drinques. Do outro,
fica a fogueira onde tudo será grelhado.
É assim que a cozinha se comportava há
milhares de anos.

É esse também o futuro da gastronomia?
Sim, para mim o futuro é a comida com cada
vez menos interferência. Um caminho como
o japonês e a sua comida crua. Ou grelhada
na brasa. São as coisas que amo comer e
preparar. De volta para o futuro.

Em seu livro Scraps, Wilt and Weeds’
você ensina a cozinhar com as sobras que
vão para o lixo. Qual é a responsabilidade
dos chefs no combate ao desperdício?
Na Dinamarca está na cultura usar todas as
partes dos alimentos, nunca foi fácil obtê-los
em nosso clima. Em Nova York me deparei
com um desperdício enorme e considerado
normal. Pensei que deveria escrever um livro,
porque tudo o que é comestível pode ser
delicioso, e as pessoas têm que aprender a
comer para descobrir que é possível cozinhar.
Você respeita a natureza e valoriza seu
dinheiro.

O que mais te chama a
atenção na comida brasileira?
A cachaça (risos). Sou grande fã do Brasil,
minha namorada é brasileira e tinha receio
de que eu não gostasse de nada, diz que sou
muito exigente. Mas aqui vi como vocês usam
frutas dentro de pratos saborosos. O brasileiro
cozinha com inteligência.

O menu que recebemos na véspera de
seu jantar foi alterado com surpresas
como um coco verde aberto com o peixe
cru. Quando esse prato foi criado?
Hoje, com a oferta dos cocos na praia.
Não gosto de fechar menus com antecedência
quando viajo. Tenho que chegar, olhar ao
redor, tocar, provar e criar. É assim que
trabalho.

Você é sempre citado como fundador
do Noma, ao lado de René Redzepi,
onde ficou apenas por alguns meses.
Por que não seguiu no projeto, que
seria eleito quatro vezes o melhor do
mundo? Há arrependimento?
De forma alguma. Fizemos uma linda viagem
pela região nórdica para pensar no restaurante
e descobrir ingredientes. Eu tinha apenas 25
anos, havia muitos chefs na cozinha e minhas
visões eram diferentes. Hoje René é um amigo
especial, convivemos e viajamos juntos. Ele
criou algo lindo e inspirador, é o melhor chef
do mundo, uma espécie de herói para mim.

|| Sabor. club [ ed. 38 ]

No menu
Mads Refslund criou
os pratos horas
antes de serví-los

Coco verde aberto,
com um sashimi de
dourado sobre a
polpa, mergulhado
na água da fruta e
rodeado de folhas
de capuchinha.

Sopa de batata dentro
de uma imensa batata
crua, bebida por um
canudo escondido
em arbusto de
salsa fresca.

Cavaquinha tostada
com alecrim
sobre chamas.

Arbustos, coco verde
e muita criatividade
no Marine, do hotel
Fairmont, no Rio
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