Elle - Portugal - Edição 378 (2020-03)

(Antfer) #1

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ESTILO


um estilo. Para mim, o mais importante é que a globalidade
do meu trabalho contribua para o crescimento desta casa,
para desenvolver um vocabulário que, sim, me pertence, mas
que forja um caráter para a Louis Vuitton. É uma história de
moda recente, com pouco mais de 20 anos. Marc Jacobs foi o
primeiro responsável. Eu sou o segundo. É um papel muito
interessante, uma função nova e, por isso, muito ambicionada.»
Nicolas Ghesquière já não presta contas a uma figura maior da
alta-costura, tão imponente como era Cristóbal Balenciaga,
cuja marca liderou durante 15 anos. Hoje, participa noutro
género de história. Responde a um artesão, Louis Vuitton, e
ao seu histórico savoir-faire. É uma história que o toca, esta
de um homem – autodidata como Ghesquière – cuja criação
nasceu das suas próprias interrogações sobre como melhorar
as suas malas de viagem. A abordagem é diferente: «Aqui,
há uma história de movimento, e a minha inspiração vem
daí. Há sempre uma ideia de função subjacente, a ideia de
criar um guarda-roupa global. E a peça deve participar neste
movimento. Há um guarda-roupa relativamente clássico ao
qual vou acrescentando peças mais híbridas e experimen-
tais. Uma colagem que corresponde a viagens no tempo, a
misturas de épocas diferentes. É a minha própria colagem.»
Como acontece com a coleção para o próximo verão, ins-
pirada na casa de família de Louis Vuitton, em Asnières,
que transportou o criador para a Belle Époque. Este é o seu
espírito para imaginar a roupa de hoje. «A Louis Vuitton
é uma casa absolutamente fascinante, que segue vários ca-
minhos diferentes e é preciso sabermos mover-nos no seu

interior. Há uma celebração do património, mas também
uma vontade de avançar sem fim. E depois há o espírito
do próprio Louis Vuitton, instintivo e visionário, que vê
o mundo evoluir à sua volta e que se adapta. Um inventor
que coloca a si próprio questões pessoais e fornece respostas
universais. Adoro essa ideia, é apaixonante.»
A sua máxima? Nunca esquecer que o que é intemporal
hoje foi novo um dia. Foi assim que imaginou a famosa Petite
Malle, um exemplo notório da sua reflexão. Foi a sua primeira
carteira, a qual revelou logo no primeiro desfile e que se tornou
um clássico. Um êxito alucinante, um reflexo do nobre papel
do diretor artístico «que dá a descobrir coisas que são da ordem
da estética e da emoção. E quando as pessoas aderem, é a mais
bela das recompensas». Nicolas Ghesquière segue na sua rota
de designer de moda, pois é o que lhe interessa, mas mantém
o desejo secreto de poder deixar uma pegada estilística. Vai
por este caminho e o futuro, que tanto gosta de imaginar na
moda que cria, abre-lhe perspetivas sem fim. n

«NO TRABALHO, COMO NA VIDA,
PRECISO DE PACTOS DE AMIZADE.» NICOLAS GHESQUIÈRE
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