Elle - Portugal - Edição 378 (2020-03)

(Antfer) #1
ELLE PT 71

com apenas 19 anos – no ano passado
esta empresa ganhou a designação de
unicórnio depois de ser avaliada em mil
milhões de dólares). Mas, na verdade,
isto não é nada mais do que idadismo
interiorizado, o «último preconcei-
to aceitável» na nossa cultura e, sem
dúvida, afirma Rauch, «uma questão
ligada ao género; má para os homens,
mas pior para as mulheres».
Quando Christina Patterson, colunis-
ta britânica do jornal Independent, foi
demitida pelo seu editor (um homem)
numa tentativa de “refrescar” o jornal,
referiu: «Nunca tinha visto o mundo
através de uma lente particularmente
sexista nem me tinha sentido discrimi-
nada.» Devido aos seus colegas do sexo
masculino terem mantido os empregos
e ela não, «essa palavra “fresca” dá a sen-
sação de que, repentinamente, passaste a
tua data de validade. Pela primeira vez na
minha vida, senti que era uma mulher de
meia-idade, como costumam dizer, e»,
lembra, «fiquei consumida pela dor».

Mas, com essa experiência, Patterson
escreveu o seu primeiro livro, The Art
of Not Falling Apart. E agora concorda:
«Estou a viver o meu terceiro ato. Penso
que nenhum de nós é totalmente feliz
em todos os aspetos da sua vida, mas
estou mais feliz do que nunca.»
«Adoro estar na casa dos 50. Se tivesse
de destacar apenas um grande benefício
de envelhecer, seria o autoconhecimen-
to», afirma Doughty. «Existe mesmo
uma vida incrível do lado de lá da preo-
cupação permanente acerca do que as
outras pessoas pensam sobre ti.»
Sair da fase menos boa e partir em
direção a um novo nível de realização pro-
fissional ou pessoal deve ser um processo
consciente, diz Patenall. «Conseguimos
colocar muita pressão em nós próprios
quando nos sentamos com um caderno
e tentamos pensar sobre quais os temas

que nos apaixonam, e a página fica em
branco. Mas eles virão à tona», afirma.
Em parte, isso ocorre porque após os 40
anos, conhecemo -nos melhor, explica
Patenall. «Conseguir compreender quais
são os teus pontos fortes e os fracos é o
que dá origem à confiança. A inquietação
desaparece e é substituída por uma calma
interior e um sentimento de pertença
ao mundo e a si mesmo. Percebes que
não és assim tão fácil de deitar abaixo.»
E, neste intermédio, as mulheres estão
mais à frente no processo – famosas ou
não – e continuam a puxar o limite de
idade para cima, recusando tornarem-se
invisíveis, irrelevantes, e redefinindo o
significado de meia -idade e o que cada
um de nós pode escolher fazer com ele.
Temos muito por que esperar. «Temos
de encontrar satisfação pessoal», afirmou
a atriz Glenn Close no seu discurso de
agradecimento nos Globo de Ouro. «Te-
mos de seguir os nossos sonhos.Temosde
dizer: “Eu posso fazer istoe nãopreciso
de validação de ninguém”» M.M.

TIFFANYHADDISH Atriz
«É nisto que tenho trabalhado
nos últimos 19 anos. Estou
mesmo a trabalhar e a
trabalhar,e osfrutosestão
a começaracomeçara apareceraaparecer.»

DEBBIE
HARRY Cantora
«No princípio, quando
subia ao palco,
esperava que o público
respondesse. Mas
descobri pouco a pouco
que tinha de fazerpor
isso acontecer. Existem
alguns prodígios
instantâneos... Mas
a maioria de nós tem
de praticar, praticare
praticar para ficar bom

o

m


JANE LYNCH Atriz
«Tinha 40 anos quando
comecei a ganhar dinheiro
com isto... Se é daquelas
pessoas que têm um
objetivo, que pensam já
estar num certo patamar
quando tiverem alcançado
uma certa idade, isso é
estúpido. Não faça isso.»

AS LÍDERES DO TERCEIRO ATO


MARINA
ABRAMOVIC
Artista
«As pessoas
perguntam-me como me
sinto por me ter tornado
uma estrela. Isso não é
um problema. Talvez se
fosse mais jovem quando
tudo isto aconteceu, teria
sido diferente. Mas porque
o sucesso demorou tanto
a chegar e foi um caminho
tão difícil de percorrer,
não é um problema.»
Free download pdf