Valor Econômico (2020-03-02)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 17 da edição"02/03/2020 1a CAD A" ---- Impressapor LGerardi às 01/03/2020@18:23:1 2


Sábado,29 de fevereiro, domingoesegunda-feira, 1e2demarçode 2020
|

Valor
|

A


De qual reforma falamos?

Instituiçõesprecisamtornarseutrabalhomaisacessívelaopúblico.PorHowardDavies


“Nãopercamos


de vista que


não há pior


alternativa nas


recessões que


a austeridade


fiscal”.


DeAlberto Fernández, presidente


daArgentina,aoapresentarseu


planodegovernoaoCongresso


Gustavo Loyola


São evidentes os ganhos


que podemser colhidos


coma adoção de um IVA


nacional, com a


tributaçãono destino


O

Congresso Nacional


acaba de constituir


uma Comissão Mista


paratratarda reforma


tributária.Se praticamenteunâ-


nimeé aopiniãode que osiste-


ma tributárionecessitaurgente-


mente ser reformado, há, entre-


tanto, grande divergênciasobre


qual deveser oteor das mudan-


ças, tendoem vistaos múltiplos


interessesparticularesemjogo.


EsseproblemaocorrenoBrasil


de maneiramaisaguda, em ra-


zão da coexistência de um sem


númerode regimesespeciais de


tributaçãoque favorecem deter-


minadascategorias de contri-


buintes,sacrificando a coerência


eaconsistência do SistemaTri-


butário Nacional.Em vista disso,


dependendoda dinâmicada tra-


mitação do temano Legislativo,


pode-se criarum climade incer-


teza entre os agenteseconômi-


cos, prejudicando a recuperação


do investimento privadoespera-


dapara2020.


Comrelação aos objetivos prio-


ritários da reforma tributária, há


distintaspercepções em jogo, não


necessariamente conciliáveis en-


tre si. Há aquelesque buscamcom


a reformaaumentar a progressivi-


dadeda taxação, comomeio de re-


duziras desigualdades de renda


no país. Para outros, a reforma te-


ria comoalvo principal asimplifi-


cação do sistema tributário, redu-


zindoos custos de compliancee


aumentando a segurança jurídica


paraoscontribuintes.Poroutrola-


do,aeliminação ou reduçãodain-


terferência da taxação sobreaalo-


caçãoeficiente de recursos na eco-


nomiaéaprioridadepara os que


têm comoobjetivo o aumentodo


potencial de crescimento econô-


mico. Há aindaaqueles que priori-


tariamenteenxergamna reforma


umaoportunidadepararepensar


aFederação, alterando adistribui-


ção da receita e da administração


tributárias entre aUnião, os Esta-


doseosmunicípios.


O fato é que nenhumgrupo de


contribuintes quero aumento da


sua carga tributária, do mesmo


modoque nenhum dos entesda


Federação quer sair da reforma


comumaarrecadação menor do


que têm hoje. Nessas condições, a


únicamaneira de viabilizarum


consensomínimopara aaprova-


ção de um projeto de reforma pa-


rece repousar no convencimento


dos diversos grupos de interesse e


dos entes arrecadadores de que


comamesmaseriapossívelimpac-


tar positivamenteocrescimento


econômico, afetando favoravel-


menteas receitas futuras, sem ne-


cessariamente implicar um au-


mentoda carga tributária como


proporção do PIB. Isso sugere que


aquestãodamelhoradoambiente


de negócios deveria ter centralida-


de no debatesobreasmudanças


tributárias, precedendo quaisquer


outrasconsiderações.


Nesse contexto, levando em


conta a teoria eaprática interna-


cional, quanto maispróximo do


conceitode um Imposto sobre Va-


lor Agregado (IVA) nacional che-


gar a pretendidareforma tributá-


ria, maiores resultados devem ser


esperados em termos de aumento


do potencial de crescimentoeco-


nômicoao longodo tempo.São


evidentesos ganhosque podem


ser colhidos com aadoção de um


IVA nacional, com a tributação no


destino. Haveriaumasimplifica-


ção enorme do emaranhado nor-


mativohojevigente,comfortaleci-


mentodasegurançajurídica,além


da obtençãode maiorneutralida-


de do sistematributário nas deci-


sões dos agentes econômicos,no-


tadamentenosinvestimentos.


Ademais,as exportaçõesdei-


xariamdesertaxadas,elevandoa


competitividade da produção


nacional. Vale dizeraindaque a


adoçãodeum IVAalinhariao


Brasilaos melhorespadrõesde


tributaçãosobreoconsumoexis-


tentesnomundo.


Dentreos projetosque se en-


contramhoje sob examedo Con-


gresso Nacional, a meu ver,oque


melhoratendeaesse objetivoéa


Proposta de EmendaàConstitui-


ção(PEC)45,cujoautoréodepu-


tadoBaleiaRossi.Oprojeto, ba-


seadoem estudo do economista


Bernard Appy, do Centrode Ci-


dadaniaFiscal,tem comoprinci-


pal pontoaunificaçãode tribu-


tos federais(PIS, Cofinse IPI), es-


taduais (ICMS) e municipais


(ISS),mediantea criaçãodo Im-


postosobreBens eServiços(IBS),


tributoque seguiriaomodelodo


IVA,aplicadoemmuitospaíses.


Oprojetodo IBS éparticular-


mente engenhoso, pois prevê


umatransiçãogradualdedez


anospara o novoregime e a ges-


tão conjunta do tributo pela


União, Estados e municípios.


Comisso, se amortecebastante


os impactosda transiçãoe se re-


A

decisãodo presidente


dos Estados Unidos,


DonaldTrump, de no-


mearaeconomistaJu-


dy Sheltonparaumadas vagas


no conselhodo FederalReserve


(Fed) colocouofuturoda inde-


pendênciado bancocentralde


voltana agenda.Sheltonlançou


uma dúvida sobrea necessidade


eabaselegalda independência


do Fedao afirmarno ano passa-


do que “nãovejo nenhumarefe-


rênciaà independência na legis-


laçãoque tenhadefinidoo papel


do FederalReserve”. E ela defen-


deu “umarelaçãomaiscoorde-


nadacom o Congresso e o presi-


dente”. Se a políticado Fed fosse


“coordenada” comTrump,ficaria


claroquemiriadarasordens.


Éclaro que um novopresiden-


te regionaldo Fed não consegui-


ria mudardécadasde práticas.


Mas há indicaçõesde que, se no-


meada,Sheltonpoderásubsti-


tuir Jay Powell quandoomanda-


todestechegaraofimem2022,o


que deixaria uma raposacuidan-


dodogalinheiro.


E não é só nos EstadosUnidos


que a independênciadobanco


centralestáameaçada.NaTurquia,


opresidenteRecepTayyipErdogan


demitiu o presidentedobanco


central no ano passado, dizendo


que“dissemosaeleváriasvezespa-


ra cortar as taxasde juros”, mas ele


não obedeceu. Na Índia, o governo


pediu ao Reserve Bankque repas-


sassepartedesuasreservaseopre-


sidente UrjitPatel renunciou por


“razões pessoais”. Seu principal vi-


ce fez o mesmologodepois com


um ataqueverbal violentodirecio-


nadoao governo do primeiro-mi-


nistroNarendraModi:“Governos


que não respeitam aindependên-


cia do bancocentral cedo ou tarde


enfrentam a ira dos mercados fi-


nanceiros”.


Bancos centraisde todasas


partesdo mundoestãopreocu-


padoscom essesindícios. Otmar


Issing, oprimeiro economis-


ta-chefedo BancoCentralEuro-


peu (BCE),escreveusobre“o fu-


turoincertoda independência


do bancocentral”. O entãopresi-


dentedoBCE,MarioDraghi,emi-


tiu uma defesafirmedo conceito


antesde deixarocargo.OBanco


deCompensaçõesInternacionais


(BIS)mencionou “o extraordiná-


rio fardocolocadosobrea ativi-


dadede bancocentraldesdea


crise[financeiraglobalde2008]”


ealertouque os bancoscentrais


não podematuarde acordocom


as expectativasque as pessoas


têm. JoachimFels, da Pimco, con-


cluiuque “o apogeuda indepen-


duz as incertezaspara os agentes


econômicos, aumentandoavia-


bilidadepolíticade sua aprova-


ção pelo Congresso.Evidente-


mente,não se podeminimizara


complexidade do período de


transição,mas trata-se de um in-


vestimento relativamentepe-


quenodiantedos ganhosque


podemser colhidoscom a ado-


çãoplenadeumIVA.


As críticas ao projeto do IBS


surgidasaté aqui não odesmere-


cem como sendo amelhor opção


paraareforma.Porexemplo, a


crítica de que o novotributo ele-


varia proporcionalmente as re-


ceitas dos Estados maisricos em


desfavordosmaispobrespoderia


ser eliminada pela introdução de


algum critério redistributivo de


parte das receitas para beneficiar


asregiõesmaispobresdopaís.


De todo modo, a âncora da re-


formatributária deve repousar so-


bre umaperspectiva de ganhos


longo prazo, em que é possível a


todos os agentes econômicos se


beneficiaremdela. No curto prazo,


porém,éinevitávelhaverperdedo-


reseganhadores,oquesugereque


mecanismos devem ser adotados


com o intuito de mitigar os efeitos


redistributivosmaisimediatos.


GustavoLoyola, doutor em Economia


pelaEPGE/FGV, é ex-presidente do BC e


Sócio-diretor da TendênciasConsultoria


Integrada,em São Paulo


dênciadobancoficouparatrás”.


Estarãocertos essesprofetas


da perdição?Veremos em breve


o controlesobre os jurosde volta


às mãosautocentradasdos mi-


nistrosdas finanças?Nas pala-


vras de umamúsicaconhecida,


será que aindependênciado


bancocentral é uma “faseidiota


porqueestamospassando”?


Acredito que não.Amais recen-


te pesquisa globalfeita peloseco-


nomistas Nergiz DincereBarryEi-


chengreen, embora confessada-


mente conduzida em 2014, mos-


tra que ainda há um “movimento


contínuo em direção auma maior


transparência e independência ao


longodotempo epoucas indica-


ções de que essas tendências estão


sendo repensadas”. Alguémpode


ter razões para nãogostar das me-


didas de independência que eles


usam—segundoo modelo dos


dois,o Quirguistãotem obanco


central mais independente do


mundo—, mas não conseguirá en-


contrar nenhum casode imple-


mentação de mudanças na legisla-


ção que colocaram um bancocen-


tralsobcontrolepolítico.


No Ocidente, emboracontra-


riado, Trumpnomeou Powell,


um homemcom instintose de-


terminação convencionais. O


primeiro-ministro do ReinoUni-


do, BorisJohnson, resistiuà ten-


taçãode nomearum defensordo


Brexitpara o Bancoda Inglaterra


(BoE)e nomeouum veteranoe


conhecedorprofundodo BoE,


AndrewBailey, que tem a inde-


pendêncianosossos.


Na zonado euro, umaescolha


também neutra foi feita em rela-


çãoaosucessordeDraghi,alémdo


que umamudançano status do


BCE exigiriaum novotratado para


aUniãoEuropeia.Aschancesdisso


são muito pequenas. Os líderes da


UE não dão sinaisde querer assu-


mir orisco de abriraconstituição


paraoutrosreferendos,comoseria


necessárioemalgunspaíses.


Alémdisso,partedapressãopo-


líticapor ação diminuiu. Acon-


fiançanoBCEcaiubastantedepois


da crise da zonado euro há quase


uma década,mas ela foi recupera-


da na maiorparte dos países nos


últimos doisanos. Atémesmona


Grécia oBCE émais dignode con-


fiançadoqueogovernonacional.


Éfato que está havendouma


mudança na retórica política.


Apósum longoperíodoem que


os governosresistiramaquais-


quercomentários sobreas deci-


sões sobreos juros,algunsagora


se tornarammaiseloquentes.Ja-


cobRees-Mogg,olíderConserva-


dor da Câmarados Comuns,cha-


mouMarkCarney, opresidente


do BoE que está de saída,de um


“políticocanadensede segunda


linha” que não deu contado re-


cadoem casa,depoisque Carney


discordoudo julgamentoeconô-


micode Rees-Mogg sobre os cus-


tos do Brexit.ETrumpcaracteris-


ticamente se aproveitou disso


comcríticasaoFednoTwitter.


Será que os bancos centrais de-


veriam ter essapolêmica renova-


da como uma coisaruime perigo-


sa? Eles poderiam,se quisessem,


mas suspeito que eles estejam ig-


norandoarealidade. Entramos


em umaera menosreverente, o


que não surpreende dados os er-


ros cometidospelos bancos cen-


trais (e outros) depoisda crise de


2008.Em vezdelamentar oau-


mento dos comentários e contes-


tações, os bancoscentraispreci-


sammelhorar seu desempenho,


aumentar sua transparência eme-


lhorar na explicação ejustificativa


de suas ações e decisões.


Andy Haldane, economis-


ta-chefe do BoE, mostrou que


grande parte do que os bancos


centrais dizem só écompreendido


por umapequena parcela da po-


pulação. Somente 2% da popula-


ção consegue ler eentenderas mi-


nutasdoComitêdeMercadoAber-


to do Fed, oFomc,que estabelece


as taxasde juros, enquanto70%


consegueentenderumdiscursode


campanhade Trump.Essa lacuna


precisa ser fechada eos bancos


centrais deveriamtornar seu tra-


balhomaisacessível ao público.


Talvez uma viagem coletiva para o


Quirguistãosejaboaparaobservar


asmelhorespráticasemação.(Tra-


duçãode Mário Zamarian)


HowardDaviesé presidente do Royal


Bankof Scotland.Copyright:Project


Syndicate, 2020.


http://www.project-syndicate.org


Cartasde


Leitores


Independência dos BCs já era?

Frase do dia


New Holland


Emrelaçãoàmatéria“NewHol-


landtrazmáquinasquetêmres-


triçõesnosEUA”, publicadano


Valornaquinta-feira(27),escla-


recemosqueasinformaçõespu-


blicadassãoinverídicas,carecem


defundamentosesebaseiamem


merasespeculações.


ANewHollandConstruction,


marcadaCNHIndustrial,nãoco-


mercializapáscarregadeiraspesa-


dasnosEUAdesdequeanunciou


globalmenteaestratégiadefocar,


naquelemercado,naofertade


equipamentosCompactLine.Isso


ocorreuem2014.Aspáscarrega-


deirasdamarca,acimade13tone-


ladas,produzidasemFargo,na


DakotadoNorte,sãovoltadasex-


clusivamenteparaexportação.


ParaoBrasil,especificamente,


existeapenasaprevisãodelan-


çamentodeumanovasériede


páscarregadeirasem2023,por


razõesestratégicasecomerciais.


OsEUAjáproduzemmáqui-


nasequipadascomacertificação


Tier2paraexportação. Portanto,


éequivocadodizerqueolança-


mentodaspáscarregadeirasno


Brasilserámotivadoporrazões


deemissões.


Emmomentoalgumavice-pre-


sidentedaNewHollandConstruc-


tion,PaulaAraújo,afirmouqueos


EUAadotarãooTier5em2023e,


emrazãodisso,aproduçãodas


páscarregadeirasteriadeser


transferidaaoBrasil.PaulaAraújo


apenasapontouaexpectativade


queosEUAadotemumpróximo


passoemníveldeemissõesnos


próximosanos,oquepodeocor-


rerdeformanaturalaté2023.


Aafirmaçãodorepórterde


queaempresacalculacomer-


cialmenteaproduçãonoBrasile


outrosmercadoslatino-america-


nosbaseadaemregrasmenos


exigentesdeemissõesdepo-


luentesnãopassademerailação.


Cabedestacarqueatualmen-


te,enosúltimos10anos,nãoex-


portamosprodutosparamerca-


dosdaÁfrica.


Antesdaimplementaçãodo


Tier3noBrasil,em2017,aNew


HollandConstructionjádispo-


nibilizava70%dalinhadepro-


dutoscomaatualcertificação


exigidanoBrasil.


Esclarecemosaindaqueaesti-


mativadealtade10%nasvendas


para2020foiapontadacomba-


senopercentualestimadopela


AssociaçãoBrasileiradeTecnolo-


giaparaConstruçãoeMineração


(Sobratema).Comoempresa


pertencenteàCNHIndustrial,


comaçõeslistadasnaBolsa,a


NewHollandConstructionnão


divulgaexpectativasdemercado


antesdedivulgardadosaosin-


vestidoresoficialmente.


BrunoFreitas


Assessoriade Imprensa


Notada Redação:OValorman-


témas informaçõespublicadas.


Perguntadasobreporquea empre-


sa passariaa produzirpásnoBrasil


e nãomaisnosEUA,PaulaAraújo,


vice-presidentedaNHCnoBrasil,


disse:“Por causadasnormativasde


emissão. OsEUAem 2023 vãopara


Tier5. Hojea legislaçãobrasileiraé


Tier3, emrelação aonívelde emis-


sãode poluente.NoBrasilperma-


neceráem 2023 Tier3, a nãoser


quehajaalgumamodificação”.


Grandeparte do que os


bancoscentrais dizemé


compreendidopor


poucos,2% da população


consegue entender as


minutas do Fed (FOMC),


que estabelece as taxas


de juros, enquanto 70%


conseguementender


um discurso de Trump.


Essa lacuna temde


ser fechada


Opinião


Correspondênciaspara


Av. 9 de Julho,5229 - Jardim


Paulista- CEP01407-907 - São


Paulo - SP, ou para


[email protected],comnome,


endereço e telefone. Os textos


poderãoser editados.


Canal Unico PDF - Acesse: t.me/jornaiserevistas

Free download pdf