O Estado de São Paulo (2020-03-04)

(Antfer) #1

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A10 Política QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


VERA


MAGALHÃES


A


final, para que são as manifes-
tações convocadas para o dia
15? Elas começaram a ser ges-
tadas como resposta ao chamamen-
to do general Augusto Heleno, que
chamou os congressistas de “chan-
tagistas” por terem se assenhorado
da destinação de cerca de R$ 30 bi-
lhões do Orçamento.
Nunca um número de veto presi-
dencial ficou tão famoso. Pessoas
que nunca leram um projeto de lei
passaram a fazer tuítes pela manu-
tenção do veto 52.
Agora: se o governo tinha a força
da rua e do argumento, por que nego-

ciou o envio de um Projeto de Lei (PL)
do Congresso Nacional renegociando
a divisão de parte dos R$ 30 bilhões
com o mesmo Legislativo que antes
era chantagista?
Jair Bolsonaro, com seu desapego
aos fatos, foi logo para o Twitter posar
de vencedor e durão. “Não houve qual-
quer negociação em cima dos 30 bi-
lhões. A proposta orçamentária origi-
nal do governo foi 100% mantida.” Co-
mo ele explica o PLN então?
Agora que o acordo foi feito, setores
do governo tentam manter as ruas mo-
bilizadas. Depois de o próprio presi-
dente mandar por WhatsApp vídeos

convocando para os atos, foi a vez do
ministro Paulo Guedes (Economia)
usar encontro com movimentos como
Nas Ruas e Vem pra Rua para pedir que
as manifestações se transformem em
atos pró-reformas.
Ele mostrou aos organizadores dos
atos um cronograma de reformas e dis-
se que tem só 15 semanas para “mudar
o Brasil”, numa referência ao semestre
legislativo que se encerra em julho.
Acontece que o cronograma é irrea-
lista – algumas reformas que constam
ali, como a administrativa, nem foram
mandadas para o Congresso ainda.
Numa só semana de julho o ministro
estima votar a PEC 188 (do pacto fede-
rativo) em segundo turno no plenário
da Câmara, a reforma tributária em se-
gundo turno no plenário do Senado, a
reforma administrativa no plenário do
Senado e o projeto de lei 6407 (que
muda o marco para o gás natural) no
plenário do Senado. Não vai rolar.
Guedes chegou a se emocionar ao
relatar dificuldades para os integran-

tes dos movimentos. A eles, a estimati-
va de “15 semanas” soou como um ulti-
mato. Aliados do ministro garantem
que não há prazo para que a agenda da
Economia seja implementada, e que o
“posto Ipiranga” continua plenamen-
te abastecido.
Diante de uma ferida ainda não cica-
trizada entre governo e Congresso, e
com a evidência de que Bolsonaro can-
tou de galo para seu público, mas fe-
chou um acordo com os políticos que
chama de “velhos”, será um risco con-
vocar as ruas, mesmo que com pauta
“a favor”.
Isso porque o chamado sempre será
entendido como licença para malhar o
pixuleco do Rodrigo Maia (DEM-RJ), e
não para pedir em uma só voz por refor-
mas que ninguém sabe do que tratam
ou que o governo nem conseguiu ende-
reçar ainda.
O episódio todo do acordo depois
desfeito e refeito em torno das emen-
das deveria ensinar o governo que ele
precisa acertar sua negociação políti-

ca, que ainda não disse a que veio.
Não será possível apagar incêndios
um atrás do outro, e o passivo acu-
mulado em episódios como esses é
absolutamente desnecessário.
Mais: apelo a instrumentos per-
manentes de democracia direta
num governo que é usina de crises e
com a economia se recuperando de-
vagar pode ser um tiro no pé. Afinal,
até ontem os mesmos generais que
hoje conclamam as pessoas a saí-
rem de casa viam o risco de golpe
caso elas ousassem ocupar as pra-
ças para contestar o governo, como
ocorria no Chile. O que poderia en-
sejar até medidas de exceção como
um novo AI-5.
É preciso deixar de lado as convo-
cações e governar. Se a agenda são
as reformas, que Guedes cobre o pre-
sidente que envie a administrativa e
que diga qual tributária vai defen-
der. As ruas não só não têm nada
com isso como só vão atrapalhar o
necessário entendimento.

E-MAIL: [email protected]
TWITTER: @VERAMAGALHAES
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/COLUNAS/VERA-MAGALHAES/

Rua total flex


Tânia Monteiro


Luci Ribeiro / BRASÍLIA


O presidente Jair Bolsonaro edi-


tou ontem a Medida Provisória


(MP) 923/2020, que recria os


sorteios de prêmios nas redes


nacionais de televisão aberta do


País. O texto altera lei de dezem-


bro de 1971, que não previa essa


modalidade de programação.


Publicada no Diário Oficial da


União (DOU), a MP autoriza a


distribuição gratuita de prê-


mios a título de propaganda,


quando efetuada mediante sor-


teio, vale-brinde ou concurso,


por parte de emissoras de TV


com abrangência nacional.


No Palácio do Planalto circu-


lam informações de que a medi-


da foi publicada a pedido de
emissoras aliadas de Bolsona-
ro, como a Record e a RedeTV!.
Integrantes do governo afirma-
ram ao Estado, porém, que a ini-
ciativa cria novas receitas em
tempos de crise para todas. Des-
tacaram, ainda, que a realidade
de hoje é muito diferente daque-
la do momento em que esses
sorteios foram proibidos, já
que, atualmente, muita gente as-
siste TV pelo celular.
Em nota, a Associação Brasi-
leira de Emissoras de Rádio e
Televisão (Abert) afirmou que
não participou das discussões
nem foi consultada sobre o te-
ma pelo Executivo. A entidade,
que representa Globo, SBT e
Band, afirmou que “certamen-
te” acompanhará a tramitação
da matéria no Congresso.
Já o presidente da Associação
Brasileira de Televisão (Abra-
tel), Marcio Novaes, que res-
ponde por Record, Rede TV! e
CNT, diz que foi consultado e
defende a medida como “extre-

mamente importante para o se-
tor por permitir uma nova recei-
ta de publicidade”.

Receita. Na avaliação do Pla-
nalto, em época de retração do
mercado publicitário, essa re-

ceita adicional será importante
para as emissoras de TV.
A nova MP prevê justamente
que a distribuição de prêmios
poderá ser autorizada para re-
des de TV aberta, reconhecidas
pela Agência Nacional de Tele-

comunicações (Anatel),
“que prestem serviços de en-
tretenimento ao público por
meio de aplicativos, de plata-
formas digitais ou de meios
similares”./ COLABOROU
EDUARDO RODRIGUES

Marinha compra


quatro fragatas


por R$ 9,1 bilhões


PODER NO MAR


VELOCIDADE ECONÔMICA 14 nós


ACOMODAÇÕES 136 tripulantes


AUTONOMIA 30 dias


DESLOCAMENTO 3.455 toneladas


107,2 M

CANHÃO
CALIBRE 76 MM

TORPEDOS
533 MM

RADAR
SENSOR COMBINADO DE
BUSCA VOLUMÉTRICA

RADAR
DE DIREÇÃO DE TIRO

RADAR
DE NAVEGAÇÃO

MANSUP/EXOCET
MÍSSIL ANTINAVIO
ALCANCE: 180 KM
SEA CEPTOR
MÍSSIL ANTIAÉREO
ALCANCE: 25 KM

CANHÃO
CALIBRE 40 MM

GRUPO AÉREO
1 HELICÓPTERO
1 DRONE

●As fragatas brasileiras da classe "Tamandaré" terão recursos stealth, de redução da visibilidade.
Os novos navios serão armados com canhões, mísseis, torpedos e metralhadoras

PROPULSÃO
COM 2 EIXOS, HÉLICES DE
PASSO CONTROLADO

SONAR
DE CASCO

LANCHAS
DE CASCO SEMIRRÍGIDO
DE ALTA VELOCIDADE

INFOGRÁFICO/ESTADÃO

IMAGEM: MARINHA DO BRASIL
15,95 M

É o primeiro contrato da área militar do governo Bolsonaro; acordo


prevê que os navios de guerra sejam construídos em Santa Catarina


Cartilha critica


agressões


a jornalistas


Roberto Godoy


A Marinha do Brasil formali-


za amanhã o contrato de R$


9,1 bilhões da compra de qua-


tro avançadas fragatas da no-


va classe Tamandaré. É o pri-


meiro contrato da área mili-


tar do governo Jair Bolsona-


ro. Os navios serão construí-


dos em Santa Catarina, nos


estaleiros Oceana, de Itajaí,


por meio do consórcio


Águas Azuis, formado por


três empresas: a alemã Thys-


senkrupp Marine System, as-


sociada com as brasileiras


Atech e Embraer Defesa e Se-


gurança. A primeira fragata


será entregue em 2024 e a úl-


tima em 2028.


A cerimônia de assinatura se-


rá um evento técnico, no Arse-


nal do Rio de Janeiro. A próxi-


ma etapa é dedicada à elabora-


ção do projeto executivo e vai


exigir um ano de adequações e


estudos antes do início da cons-


trução da flotilha. A Marinha


considerou até o segundo se-


mestre de 2019 a produção de


corvetas, embarcações mais le-


ves e com menor poder de fogo.


Entretanto, o projeto ganhou di-


mensões decorrentes da aplica-


ção como unidades de escolta,


vigilância do mar e controle de


área. Ontem, o comando da for-


ça decidiu que os navios pas-
sam a ser designados como fra-
gatas. A plataforma de referên-
cia é a família Meko A100, da
Thyssenkrupp, com alterações.
São máquinas de guerra sofis-
ticadas, lançadoras de mísseis e
torpedos pesados. Incorporam
recursos stealth, de redução de
visibilidade ao radar, no dese-
nho e no revestimento. Deslo-
cam cerca de 3.500 toneladas e
medem 107 metros. Levam ape-
nas 136 tripulantes, mais um he-
licóptero, capaz de realizar ope-
rações antissubmarino, e um
drone, veículo não tripulado de
uma nova geração, com capaci-
dade para pouso e decolagem
verticais.
Os mísseis antiaéreos Sea
Ceptor, com 25 km de alcance,
são disparados por lançadores
verticais. Os mísseis antinavio
do tipo Exocet, europeus, e os
nacionais Mansup, atualmente
na campanha final de testes,
tem alcance entre 70 km e 180
km. Os recursos de precisão per-

mitem que possam ser dirigi-
dos também contra outros al-
vos – instalações em terra, por
exemplo. Ambos os tipos, carre-
gando ogivas de 180 kg de explo-
sivos de alto rendimento, utili-
zam o mesmo sistema de lança-
mento.
Não é só. As novas fragatas
tem dois canhões de tiro rápido
e duas lanchas de casco semir-
rígido em compartimento inter-
no. Servem para levar grupos de
forças especiais em missão de
abordagem ou desembarque
furtivo. Para defesa próxima há
duas metralhadoras .50 a bom-
bordo (lado esquerdo) e esti-
bordo (lado direito). Torpedos
pesados de 533 mm com raio de
ação de 50 km e 250 kg de carga
explosiva, completam o arsenal
de bordo.
A força de fragatas atualmen-
te em uso tem cerca de 40 anos.
São da classe Niterói, de 3,2 mil
toneladas, compradas no Reino
Unido durante o governo do ge-
neral Ernesto Geisel, e moderni-
zadas ao menos duas vezes nes-
se período. O envelhecimento
do grupo é um problema para a
defesa dos 5,7 milhões de km²
no Atlântico Sul que a Marinha
chama de Amazônia Azul.
Nesse espaço, equivalente a
mais da metade do território na-
cional, estão recursos como as

reservas de óleo e gás do Pré Sal
e os depósitos de recursos mine-
rais estratégicos. Os 228 portos
locais movimentam por ano 1
bilhão de toneladas de produ-
tos – 95% do movimento das ex-
portações e importações reali-
zadas no País.

Questionamento. O processo
para aquisição dos novos na-
vios encarou dificuldades. O
Sindicato dos Trabalhadores
da Indústria Metalúrgica, Mecâ-
nica e do Material Elétrico de
Pernambuco apresentou, em ju-
lho do ano passado, denúncia
de irregularidade na escolha do
consórcio Águas Azuis.
Em dezembro, o Tribunal de
Contas da União (TCU) rejei-
tou a ação e arquivou o proces-
so. Pouco depois disso, o presi-
dente Jair Bolsonaro aprovou o
aporte suplementar de R$ 4,
bilhões para a capitalização –
iniciada em 2018 – da Emge-
pron-Empresa Gerencial de
Projetos Navais, organização
corporativa da Marinha que vai

cuidar da gestão de todo o em-
preendimento. Segundo o almi-
rante Petrônio Augusto Siquei-
ra de Aguiar, chefe da Diretoria
de Gestão de Programas, “esse
modelo vai conferir a necessá-
ria agilidade de execução ao pro-
grama Tamandaré”.
O contrato é amplo. Tem am-
plas cláusulas de compensa-
ções comerciais e de transferên-
cia de tecnologia em todas as
áreas e fases. A primeira fragata
terá cerca de 32% de índice de
nacionalização. Os três navios
seguintes terão 41,5%.
A Marinha estimam que o pro-
jeto vai gerar 2 mil empregos di-
retos e mais 4 mil indiretos em
Itajaí e em toda a rede nacional
de fornecedores.

ADRIANO MACHADO/REUTERS

Julia Lindner / BRASÍLIA


Após o presidente Jair Bolsonaro
ser criticado por ataques à im-
prensa – ele chegou a dar “bana-
na” a repórteres –, o governo di-
vulgou ontem a reedição de uma
cartilha sobre proteção a jornalis-
tas e comunicadores. Elaborado
pelo Ministério da Mulher, Famí-
lia e Direitos Humanos, coman-
dado pela ministra Damares Al-
ves, o texto traz uma nova versão
do documento, lançado no gover-
no de Michel Temer, e prevê que
“as autoridades públicas têm a
obrigação de condenar veemen-
temente agressões contra jorna-
listas”. O manual diz ainda que
“os agentes do Estado não devem
adotar discursos públicos que ex-
ponham jornalistas”.
Na semana passada, Bolsona-
ro atacou a editora do BR Políti-
co e colunista do Estado, Vera
Magalhães, que divulgou a notí-
cia de que o presidente havia
compartilhado dois vídeos para
seus contatos no WhatsApp,
convocando para manifesta-
ções em defesa do governo e
contra o Congresso.

Medida Provisória altera


lei de 1971 que proibia


a prática; Abert afirma


em nota que não foi


consultada sobre o tema


Presidente autoriza


sorteios de prêmios


em programas de TV


lAgilidade
“Esse modelo (de
contrato) vai conferir a
necessária agilidade de
execução ao programa
Tamandaré.”
Almirante Petrônio Augusto
Siqueira de Aguiar
CHEFE DA DIRETORIA DE
GESTÃO DE PROGRAMAS

NA WEB
TV Estadão. As
novas fragatas da
classe Tamandaré

estadao.com.br/e/fragatamarinha
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Bolsonaro ganha


boneco durante


cerimônia


No momento em que tenta “do-
mar” o Congresso para garantir o
controle do Orçamento e da desti-
nação de recursos de emendas
parlamentares, o presidente Jair

Bolsonaro ganhou ontem um
boneco no qual é retratado
montado em um búfalo. O brin-
quedo foi entregue durante ceri-
mônia no Palácio do Planalto.
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