O Estado de São Paulo (2020-03-04)

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A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






O receio dos chineses de con-


trair o coronavírus provocou


um efeito inesperado: o au-


mento na procura por carros.


A novidade está em pesquisa,


antecipada pela coluna da So-


nia Racy, feita pela Ipsos —


“Impact of coronavírus on


new car purchase in China”.


Ela revela que 77% dos atuais


interessados na compra de au-
tomóvel apontam como causa
o temor de infecção da doen-
ça. Dos 56% que utilizavam
metrô e ônibus como meio de
transporte antes do coronaví-
rus, apenas 24% estão usando
no momento esses transpor-
tes coletivos.
http://www.estadao.com.br/e/china

O


Afeto que se Encerra é
um antigo livro de
Paulo Francis. Não há
como não fazer uma associa-
ção com esse título quando
nos debruçamos sobre o sen-
timento que perpassa tantos
brasileiros no meio dessa po-
larização tóxica que está afe-
tando a sua relação com o
País em que vivem. O que
muitas pessoas têm colocado
entre nós nos últimos anos é
uma pergunta tão angustian-
te quanto existencial: o que
fazer quando o sentimento
de pertencimento a uma na-
ção se dá em relação a algo
que não existe mais?
Dizia-me recentemente
um velho amigo, numa con-
versa sobre estas questões:
“Eu sinto que, nos últimos
anos, os vínculos afetivos
que me uniam ao Brasil fo-
ram se diluindo”.
“Onde se nasce é um aci-
dente”, dizia Mario Vargas
Llosa. E adicionava: “A verda-
deira pátria é aquela que a
gente escolhe com a alma”.
Refazendo a pergunta ante-
rior: o que fazer quando nos-
sa alma entra em conflito
com o lugar que habita? Co-
mo se estabelece esse divór-
cio? Ou ainda: o que fazer pa-
ra que ele não ocorra?
Como evitar a sangria de al-
gumas de nossas melhores ca-
beças, que, cansadas da polari-
zação que está estragando o
Brasil, desistem do País, com
o qual não mais se identifi-
cam? Ubi bene ibi patria (onde
se está bem, aí é a pátria), pre-
gava Cícero, o filósofo roma-
no. O que fazer com todos os
que estão virando “apátridas
afetivos”, mesmo (ainda) mo-
rando no Brasil, muitos ape-
nas por falta de alternativa?
“Alma nacional” é uma ex-
pressão-chave. Jorge Luis Bor-
ges escreveu que “a amizade
é feita dessa língua comum,
dessas palavras e lembranças
compartilhadas, referências.
É isso que faz uma pátria”.
“Pátria”, eis o termo funda-
mental, ainda que talvez um
pouco ultrapassado pelos fa-
tos da vida moderna, que tor-
na as coisas mais parecidas

entre si. Uma loja da Gucci
no Brasil se assemelha muito
a uma que pode haver perto
dos Champs Elysées, em Pa-
ris. O cappuccino da Star-
bucks de São Paulo tem o
mesmo sabor que o dessa loja
em Londres. Parte da nossa
juventude das classes mais fa-
vorecidas e que fez intercâm-
bio se vira no Rio de Janeiro,
em Madri ou em Sidney. Não
há como quem viajou muito
não se sentir um pouco cida-
dão do mundo.
E mesmo assim o ser huma-
no se pergunta: “Com que lu-
gar eu me identifico? A quem
me sinto ligado? Por que des-
tino eu me preocupo? Em
qual causa eu me engajo?”. O
leitor sente-se muito afetado
quando lê notícias sobre as-
sassinatos no Iraque ou mais
um ataque terrorista no Afe-
ganistão? Provavelmente,

não. O noticiário chega aqui
como se fossem coisas que
acontecem em outro planeta.
Todos sabem que, de alguma
forma, todos moramos no
“condomínio Terra”, mas ele
tem muitos prédios...
Chegamos, então, à ques-
tão-chave. O filósofo Ortega
y Gasset nos ensinou que
“uma nação é um projeto de
vida em comum”. E em seu li-
vro Espanha Invertebrada, es-
crito no começo dos anos 20
do século passado, ele se quei-
xava de que não haveria uma
vértebra que permitisse aos
espanhóis serem unificados
por um ideal comum, que le-
vasse cada cidadão a sair da
contemplação para uma atitu-
de ativa, em favor da constru-
ção do futuro. Nesse contex-
to, como alguém já resenhou
opinando sobre o livro dele,
cada parcela da sociedade
passa a existir como um gru-
po à parte do resto. Ortega es-
tava se referindo ao que hoje
denominaríamos de “tribos”.
A nação, porém, na concep-

ção de Ortega, vai muito
além da simples convivência
no mesmo espaço geográfico
e se refere a um conjunto de
pessoas em que há laços de
identificação e solidariedade
que levam cada um a contar
com o outro.
É algo que se foi perdendo
no Brasil nos últimos anos.
Somos um país de uma desi-
gualdade que choca qualquer
estrangeiro que nos visita,
com uma divisão de classes
que lembra sociedades estra-
tificadas e com níveis de po-
breza que contrastam com a
riqueza de muitos lugares. En-
tretanto, tínhamos caracte-
rísticas em comum. Que na
luta política fratricida dos úl-
timos anos se foram perden-
do. É isso que está levando
tanta gente (tantos eleito-
res!) a se perguntar: “O que
me une ainda a este lugar e
seus habitantes?”. A percep-
ção de que há cada vez menos
itens nessa lista talvez seja
um dos fenômenos recentes
mais importantes. Vale para
todas as classes. É um senti-
mento que, em alguns casos,
exacerbado, pode levar ao
egoísmo e à indiferença.
Virou moda a menção à fra-
se de J. Carville, o famoso
“marqueteiro” de Clinton,
“It’s the economy, stupid”,
dando a ideia de que é a situa-
ção da economia que coman-
da o voto do eleitor em qual-
quer eleição. A economia é
um elemento poderoso na ho-
ra de o cidadão decidir quem
vai eleger. E o Brasil precisa,
desesperadamente, deixar pa-
ra trás a crise, o desemprego
elevado e a piora do nível de
vida. Há também, contudo,
no País elevada demanda por
unificação, para deixar para
trás esta “era da infâmia” do
atual século, de divisão de
amizades e famílias. Quem ti-
ver essa leitura estará em boa
posição para o futuro, diante
de uma população cada vez
mais cansada do País em que
vivemos. Antes que o afeto pe-
lo Brasil acabe de vez.

]
ECONOMISTA

Intimidações da direita es-
tão levando gestores munici-
pais a se demitirem.

http://www.estadao.com.br/e/direita

MÉXICO


Porcos selvagens


estão desaparecendo


CHINA


Coronavírus eleva venda de carros


A exploração de terras que
antes eram florestadas limi-
tou o território dos animais,
que são muito vulneráveis à
atividade humana.

http://www.estadao.com.br/e/porcos

l“Parece até que os servidores são merecedores das vantagens que
têm. Deveriam se preocupar em prestar um bom serviço à população.”
CARLOS LINO

l“Enquanto não mexerem nos salários e auxílios das autoridades (políti-
cos, juízes, promotores, desembargadores), a reforma não resolve nada.”
CARLOS OLIVEIRA

l“Estado repressor. Se fazem isso com os professores, imaginem o
que não fazem com a população?”
SONIA MIRANDA

l“Política e mudança não se fazem só na eleição! O momento é ago-
ra. Gravem nomes e partidos que votaram a favor desse absurdo.”
FLAVIA MONTEIRO

COMENTÁRIOS


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Corte rejeitou caso que pe-
dia a proibição da prática
em qualquer circunstância,
mas também disse que não
tornará o aborto legal.

http://www.estadao.com.br/e/aborto

MAURICIO DUEÑAS CASTAÑEDA/EFE

Espaço Aberto


E


stá em plena ebulição
no Planalto Central do
Brasil uma luta aberta

entre os Poderes Executivo e


Legislativo em torno da libe-


ração de R$ 46 bilhões, R$ 31


bilhões ou R$ 15 bilhões para


emendas parlamentares que


beneficiarão prefeitos e gover-


nadores estaduais sem neces-


sidade de fiscalização. Na


prática, é uma queda de bra-


ço na qual quem puder mais


chorará menos. Qual das par-


tes tem mais legitimidade pa-


ra decidir sobre o Orçamento


da União? Eis a questão, a ser


definida por três princípios


básicos da democracia: todo


poder emana do povo e em


seu nome é exercido, todos


são iguais perante a lei e cada


cidadão, um voto.


Em teoria, nem deveria ser


aberta a polêmica. Afinal, sa-


be-se que o Poder que real-


mente representa a socieda-


de não é o Executivo, que exe-


cuta leis e orçamentos, nem o


Judiciário, que, como deter-


mina o próprio nome, julga


se a ordem dada está, ou não,


dentro da lei e fiel à Constitui-


ção. Certo? Não necessaria-


mente. Afinal, no rigor mate-


mático dos fatos o único Po-


der com mandatário escolhi-


do na base de cada cidadão,


um voto é o Executivo. Seja


federal, estadual ou munici-


pal. Em mandatos de quatro


anos, que só podem ser repe-


tidos uma vez, os chefes de


governos federal, estaduais e


municipais passam por pro-


cessos eleitorais de dois tur-


nos para que se garanta sua le-


gitimidade. Na aferição dos


votos nas urnas eletrônicas


não há dúvidas: garantida a


igualdade de condições na dis-


puta, toma posse o eleitor


mais votado.


O mesmo não se pode dizer


da escolha para a composição


do Parlamento de 513 deputa-


dos federais e 81 senadores.


Os primeiros são eleitos pelo


sistema de voto proporcional.


Os últimos preenchem três va-


gas, com oito anos de manda-


to, dois num pleito e um no


outro, e podem ser reeleitos


para todo o sempre, amém.


No caso da dita Câmara Al-
ta o cidadão não é representa-
do nem em teoria. Afinal, o
plenário dos seniores (do la-
tim “mais velhos”, mas nem
sempre) representa cada Esta-
do da Federação por absurdos
mandatos de oito anos, inexis-
tentes no modelo do qual a de-
mocracia brasileira só imitou
o exemplo teórico, o dos Esta-
dos Unidos da América, inven-
tados pelos pais fundadores,
no que interessava diretamen-
te à oligarquia monarquista
que deu o golpe da República
em 1889. Senadores america-
nos têm mandatos de quatro
anos e a chamada Casa dos Re-
presentantes, modelo de nos-
sa Câmara federal, de dois. O
modelo adotado ao norte do
Rio Grande contempla a con-
dição especial da história de
sua independência de um con-
junto de colônias.

A Federação, essencial para
os inspiradores, é uma ficção
que nunca se justificou nos
131 anos de nossa insana Repú-
blica. O sistema bicameral é
uma excrescência tropicalista
do Atlântico Sul, herdada do
império dos Bourbons, que
ruiu 11 anos antes da chegada
do século 20. Na República à
brasileira dos barões da mo-
narquia que se adaptaram ao
novo regime imposto por mili-
tares irredentos e positivistas
autoritários, o Senado do im-
pério derrubado virou uma
tal câmara de revisão, que
tem servido ao longo deste sé-
culo de instituições surrealis-
tas. Mas o que revê o Senado
e o Senado revê o quê?
No cotidiano sujo do truco
do poder, o mando é executa-
do pelo chefe do Executivo,
quando este tem força políti-
ca. Ou, quando não tem ou a
perde, pela Câmara dos Depu-
tados. Em teoria, essa é a
prática mais aproximada do ci-
dadão. Mas a composição de
seu plenário o nega.

Deputados federais e esta-
duais e vereadores munici-
pais são escolhidos por um re-
gime do “me engana que eu
gosto”. No processo herdado
da Constituição de 1946 o vo-
to proporcional deu o mando
às elites dirigentes dos Esta-
dos atrasados sobre os eleito-
res mais numerosos dos Esta-
dos mais ricos. O voto de um
acriano em São Paulo tem um
poder 13 vezes menor na esco-
lha de seu representante do
que o de um mineiro em Ro-
raima. A distorção matemáti-
ca foi ampliada pela Constitui-
ção fajuta dos militares em
1967 e da dita, mas nunca pro-
vada, “cidadã” da soi-disant
Nova República. No meio dis-
so, o tal pacote de abril dos ge-
nerais Geisel e Golbery des-
truiu de vez a representação,
criando senadores indiretos,
“biônicos”, uma versão exa-
cerbada que não vingou do
que são, no fundo, os eleitos.
O Brasil oficial (apud Ma-
chado de Assis), que briga pe-
los bilhões do bolso furado
dos pagadores de impostos, é
uma aberração que cospe na
lógica de Aristóteles e dos to-
mistas, pois só 7% dos deputa-
dos ganharam eleições com o
número de votos depositados
nas urnas: e são chamados de
“puxadores de votos” – como
Enéas, Tiririca e Janaina Pas-
choal. Os restantes 93% de-
pendem do quociente eleito-
ral de seus partidos e coliga-
ções para serem diplomados.
Os beneficiários dessa distor-
ção se elegem chefões do Po-
der dito “representativo”
com apoio de opostos, caso
de Rodrigo Maia, elevado à
presidência da Câmara pelo
DEM de Onyx Lorenzoni e pe-
lo PCdoB do Orlando “Tapio-
ca” Silva. Davi Alcolumbre,
do remoto Amapá, lançado pe-
lo onipresente ministro da Ci-
dadania de Bolsonaro (que
ironia!), venceu o alagoano
Renan Calheiros numa fraude
de 81 eleitores e 82 votos.
Quem esse chinfrim teatro
do absurdo representa?

]
JORNALISTA, POETA E ESCRITOR

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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3855-

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3950-
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COLÔMBIA
ALY SONG/REUTERS
Tribunal rejeita

legalização do aborto


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APOLINAR BASOR

]


José Nêumanne


Tema do dia


Se Johnson insistir em nor-
mas próprias, fábricas pode-
rão perder encomendas.

http://www.estadao.com.br/e/brexit

A crise na representação


que ainda assola o País


Maia só serve a DEM e


PCdoB e Alcolumbre


foi eleito num pleito de


82 votos e 81 eleitores


Um afeto


que se encerra?


O que fazer com todos


os ‘apátridas afetivos’,


mesmo morando no


País por falta de opção?


AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
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FAX: (11) 3856-
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AO ASSINANTE
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DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-
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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Previdência de SP


é aprovada em meio a


tumulto na Alesp


Foram 59 votos a favor e 32 contra no
2º turno da votação; tropa de choque e
servidores entraram em confronto

]
Fabio Giambiagi

No estadao.com.br


POLÍTICA


Prefeitos alemães


recebem ameaças


COMÉRCIO


Grã-Bretanha terá de


jogar as regras da UE

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