EDITORIAL (^) | MARÇO
A promessa da
economia circular
POR SUSAN GOLDBERG FOTOGRAFIA DE LUCA LOCATELLI
IMAGINANDO
‘‘O FIM
DO LIXO”
e reciclagem desde a década de 1970.
Há gerações que em Prato, na Itália, as
camisolas de lã velhas são reduzidas a
fios e são depois transformadas em rou-
pas novas. Durante décadas, o cobre foi
extraído dos sinos e estátuas de igrejas
e reaplicado. Hoje, é mais provável que
provenha de iPhones e monitores.
Enviámos Rob e o fotógrafo Luca
Locatelli para documentarem os locais
onde a nova economia circular está a
ser testada. A equipa encontrou muitos
exemplos. Em Nova Iorque, filamen-
tos de fungos são utilizados para criar
embalagens compostáveis. Em Londres,
usa-se desperdício de cerveja para ali-
mentar insectos, depois transformados
em rações. Nas cozinhas de hotéis de
todo o mundo, os chefs reduzem o des-
perdício de alimentos, medindo-o com
recurso a latas de lixo com dispositivos
de inteligência artificial.
A ideia de que podemos acabar com
o lixo pode parecer absurda, mas é uma
quimera útil. Rob gosta de citar uma
frase proferida por uma personagem
do filme “Adeus, Amigos!”: “Se não
tiver bons sonhos, você terá pesadelos.”
A economia circular é assim: é um sonho
que devemos tentar tornar realidade.
Obrigado por ler a National Geographic.
SENTIMO-NOS MAL quando deitamos
fora objectos que não deveriam ter-se
tornado lixo (como produtos não con-
sumidos ou que perderam a validade)
ou quando gastamos recursos desne-
cessariamente (como as luzes deixadas
acesas quando estamos fora de casa).
Esse sentimento de culpa está profun-
damente enraizado na nossa cultura.
Mas desperdiçamos mesmo em doses
grandes e pequenas. O resultado é este
facto chocante: dos minerais, combus-
tíveis fósseis, alimentos e outras maté-
rias-primas que retiramos da Terra e
transformamos em bens, cerca de dois
terços tornam-se resíduos. E, com pro-
babilidade, esse desperdício tornar-se-á
um problema ambiental maior.
“O lixo de plástico escapava à deriva
pelos rios e oceanos e o mesmo acon-
tecia aos nitratos e fosfatos que escor-
riam dos campos adubados. Um terço
da totalidade dos alimentos apodreceu,
enquanto a Amazónia era desflorestada
para produzir mais”, escreve o editor
Robert Kunzig na reportagem deste mês.
E se pudéssemos recuperar o lixo e
transformá-lo noutra coisa? Este con-
ceito, chamado economia circular, não
é inteiramente novo. Os ambientalis-
tas defendem a redução, reutilização
Nestas instalações de
Prato (Itália), pacotes de
têxteis descartados serão
processados e utilizados
para criar novas roupas,
um exemplo concretizado
de economia circular.
antfer
(Antfer)
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