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Durante seis meses, Ingo Arndt captou mais
de sessenta mil fotografias, compondo um
retrato inédito das abelhas selvagens.
exemplo, fungos acumulados), criando uma su-
perfície lisa sobre a qual as outras abelhas po-
dem aplicar uma laca conhecida como própolis.
“O própolis é uma secreção produzida pelos
botões das árvores na Primavera”, diz Jürgen
Tautz. “É muito pegajoso, mas as abelhas reco-
lhem-no porque é antifúngico e antibacteriano.
Faz parte da farmácia da floresta.”
O projecto permitiu a documentação inédita
de outros comportamentos, como a fotografia
que Ingo Arndt captou de uma abelha a abrir,
em pleno voo, uma glândula emissora de fe-
romonas. “Ninguém o mostrara antes”, diz
Thomas Seeley. O especialista acredita que es-
tas imagens íntimas poderão atrair a atenção do
público para a beleza, na sua maior parte oculta,
das abelhas selvagens.
“Estamos tão habituados a ver as abelhas, ou
a pensar nelas, como criaturas que vivem numa
caixa quadrada branca”, argumenta o especia-
lista. “É assim que vivem para os apicultores,
mas não foi assim que viveram durante milhões
de anos sozinhas.” j
Quando a temperatura exterior baixava, as
abelhas seguravam nas patas umas das outras
para formarem uma colcha viva sobre a superfí-
cie dos favos. Jürgen Tautz compara a estrutura
a um saco-cama, mas com tecido composto por
abelhas entrelaçadas e que pode ser apertado ou
afrouxado de modo a ajustar a temperatura.
EM ALGUNS CASOS, Ingo Arndt e Jürgen Tautz con-
seguiram explicar comportamentos que há muito
intrigavam os apicultores. Por que razão os insectos
roem a madeira das suas caixas, sem qualquer van-
tagem significativa? No interior da árvore, desco-
briram que esse comportamento fazia mais
sentido. “Elas raspam todas as partículas soltas da
superfície interior da concavidade”, diz Tautz.
Este comportamento talvez permita retirar
potenciais agentes patogénicos perigosos (por
As abelhas enlaçam frequentemente as patas entre
si quando estão a trabalhar no ninho. As cadeias
vivas são importantes durante a construção das
colmeias, porque a temperatura não pode baixar de
350 C para manter a cera mole e maleável.