National Geographic - Portugal - Edição 228 (2020-03)

(Antfer) #1
LINCE-IBÉRICO ́ 67

conservaçãodanaturezae omundoruralcoe-
xistamemharmonia”.


SAMUELPLÁ,daFundaçãoCBD-Habitat,outra
organizaçãodedicadaà conservaçãodeespécies
ameaçadasque,à semelhançadaWWF,coordena
acçõesemproldolince-ibéricodesdeo início,
acompanhaoslincesreintroduzidosnaExtrema-
dura.Nototal, 356 exemplaresforamequipados
comumacoleiraderádio,permitindoaoscientis-
tasmonitorizarosseuspassoscomprecisão,num
esforçocomplementadoporimagensobtidaspor
armadilhasfotográficasemtodososterritórios
comlinces.“Graçasa isto,sabemoscomosedes-
locampeloterritório,o quenospermiteconhecer
ossítiosideaisparacriarcorredoresbiológicos,
umtemadecisivoparaqueaspopulaçõespossam
interligar-see mantera viabilidadegenéticaneces-
sária”,explica.“Ocontrolodosexemplarestam-
bémserveparadetectarcasosdecaçafurtivae os
locais de atropelamento mais graves.”
No que diz respeito aos atropelamentos, a CBD-
-Habitat e a WWF colaboram com as autoridades
na sinalização dos corredores dos linces, na colo-


caçãodelombase bandassonorasparaqueosau-
tomóveisdiminuama velocidadenesseslocais,o
desbastedasbermasdasestradasparaaumentar
a visibilidade,tantodoslincescomodosconduto-
res,e a construçãodecorredoresdefauna.

TODASASEXPERIÊNCIASacumuladasaolongo
destesvinteanosforamdebatidasnodecursodas
jornadastécnicasrealizadasemMadridnopas-
sadomêsdeSetembro,ondesepassouemrevista
o trabalhorealizadoe definiram-seobjectivos
escalonadosatéaoano2040.Umdelesconsiste
ematingirumadimensãomínimaviáveldapopu-
laçãoqueexigeaté 750 fêmeasreprodutorasdis-
tribuídasnãosópelosnúcleosdelincesactuais,
mastambémemmaisoitopopulaçõesemnovas
regiõesqueseriamincorporadasnosfuturospro-
gramasdereintrodução.Comestenúmero,a
UICNpoderiareduziro níveldeameaçapara
“Preocupaçãomenor”,o quesignificariauma

E AGORA? O QUE FAZEMOS?
CONSOLIDAR UMA POPULAÇÃO VIÁVEL ATÉ 2040:
750 FÊMEAS REPRODUTORAS DISTRIBUÍDAS PELOS NÚCLEOS
ACTUAIS E, NO MÍNIMO, EM MAIS OITO.

A Junta da Extremadura afirma que, só na sua
comunidade autónoma, um território essencial
para a ligação dos diferentes núcleos com lin-
ces, há uma centena de animais. Um sucesso
reprodutor possibilitado pelo forte acolhimento
que a espécie encontrou entre os habitantes das
diferentes áreas de reintrodução e o apoio das
autoridades locais. Isto é reforçado pela Junta
da Andaluzia, onde também foram implemen-
tadas diversas acções para afastar o felino do
abismo: “Nestes anos, a superfície com linces-
-ibéricos passou de 125 para quase 3.000 quiló-
metros quadrados.”
Em Portugal, Eduardo Santos, da Liga para a
Protecção da Natureza (LPN), parceira no pro-
jecto de conservação do lince, defende que “a
sua recuperação é fruto de uma associação entre
países que trabalham na mesma direcção, o que
nos permite continuar a acreditar numa paisa-
gem mediterrânea com biodiversidade, onde a

constatação da vitória do programa de conserva-
ção do nosso lince. Uma tarefa hercúlea que exige
o apoio económico de governos, instituições, orga-
nizações de conservação, fundos europeus e a
contínua sinergia dos agentes sociais que torna-
ram possível tudo o que se alcançou até à data.
Muitos proprietários de quintas privadas e
sociedades de caçadores comprovaram, em pri-
meira mão, que a presença do lince os beneficia:
pelas melhorias verificadas nos terrenos na me-
dida em que o lince afugenta outros predadores
e também porque a sua presença pode gerar re-
ceitas adicionais através do turismo, cuja tem-
porada é muito mais longa do que a da caça.
“A biodiversidade é o nosso recurso mais va-
lioso e o menos apreciado”, disse em tempos o
ecologista Edward O. Wilson. Casos como o do
lince-ibérico sugerem que talvez estejamos dis-
postos a mudar o chip. j

O fotógrafo de natureza Andoni Canela
está actualmente imerso no projecto Grandes
Felinos. Eva van den Berg é colaboradora
habitual da National Geographic.
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