32 | Valor| Sexta-feira,6demarçode2020
Cânceréque serãoregistrados 66.280novos
de casosde câncerde mamano Brasilneste
ano. Aincidênciada doençano país costu-
ma ser alta. Em 2018,oBrasil figurouna se-
gundafaixamais elevadaentretodosos paí-
ses, que são agrupadosem cincofaixas,com
62,9casospor100milmulheres.
Pormês, oInstituto Protea ajuda no trata-
mentode 22 novos casos no SantaMarcelina.
A previsão para este ano é de um aumento de
18%, com 26 novaspacientes sendo atendidas
a cadamês. No primeiro ano de atuaçãodo
Projeto Amar, entrenovembrode 2018eodo
anopassado, 864 mulheres forambeneficia-
dasdealgumamaneirapelasaçõesdoinstitu-
to, afirma Cristina. No tratamentopropria-
mentedito,foram264pacientes.
Algunscasossão especialmentecomple-
xos. O Proteaencontrouum parceiropara
facilitarasmamotomias,um tipo de biópsia
empregadaquandoé difícil encontraro nó-
dulo. Para se submeterao exame,a paciente
precisaser anestesiadaem um centrocirúr-
gico, numaintervençãoespecialmentedis-
pendiosa.CadaagulhautilizadacustaR$1,5
mil esó podeser usadauma vez. E cadanó-
duloexigeousodeumaagulhadiferente.
Sob aparceria,aclínicaNovaMedicina
Diagnósticadoa umaagulha por paciente,
alémdamãode obra especializada.“Umavan
leva as mulheres de Itaquera [na zonaleste]
atéaVilaNovaConceição[nazonasul].Assim
conseguimosliberar ocentro cirúrgico [do
SantaMarcelina]e reduziro tempo de espera
das cirurgias de 75 dias paramenosde 30”,
contaGabriella. “É tudouma questãode ges-
tão,dedizerquaissãoosgargalos.”
Gestãoestá no centroda carreiraprofis-
sionaldeGabriella.SóciadaAceGestãoGlo-
bal, empresade investimentocriadaem
2013 paracuidarexclusivamentedoportfó-
lio de açõesde um “familyoffice”—onome
dadoaempresasqueadministramfortunas
familiares—, ela trabalhou anteriormente
no GoldmanSachs,no qual permaneceu 16
anos.Antesdisso, foi vice-presidentedo
HSBC,semprena área de gerenciamentode
ativos.Éformadaemeconomiapela PUC-RJ
e tem mestradoem finançaspela Escolade
AdministraçãoSloan,doInstitutodeTecno-
logiadeMassachusetts,oMIT.
Casada,mãe de três filhos,Gabriella tem,
entresuas tarefas,odesafiode extrair ome-
lhor rendimentopossível do modelofinan-
ceiroque sustenta as atividadesdo institu-
to, do qualédiretora-presidente.Umadas
principaisfrentesna captaçãode recursosé
acontribuiçãoindividual.Emumano,onú-
merodedoadoresdoProteasaiudezeropa-
ra poucomaisde 1,2 mil pessoas,com dois
terços delas contribuindomensalmente,comsomasapartirdeR$10.Osdemaisfize-
ramdoaçõesumaúnicavez.
Ametaparaesteanoéaumentaronúme-
ro em 200 doadoresmensais,mas para isso
oProteatem de se tornarmaisconhecido
do públicoe conquistarsua confiança. “O
que ‘pe ga’nahora de o brasileirodoaré a
credibilidade[da instituição]”, diz Gabriel-
la. “Estamostrabalhandocom uma audito-
riaparaatestarquenossotrabalhoésério.”
Em algumasocasiões,nas quaisa doen-
ça é maislembrada,as contribuiçõesau-
mentam. “Arrecadamosbastanteno Outu-
bro Rosa[mêsda campanhade conscienti-
zaçãoglobaldo câncerde mama],mas há
mulheres com câncertodosos meses”, diz
afundadorado Protea.“Nossosonhoé
chegara1milhãode doadoresque contri-
buamcom R$ 10 por mês.”Até agora, foram fechadascerca de 50 par-
ceriascom empresas, afirmaCristina. Em al-
gumas,oacordoprevêatitudessimples,como
ouso pelosfuncionários do lacinho rosa que
remeteaocombate àdoença. Outras compa-
nhiasconvidam especialistas do Protea para
fazerpalestrasou ajudar na elaboração de
campanhasdeprevenção.Asprópriascompa-
nhiasdecidem o valor com que querem con-
tribuir,quandofazemdoações.
O J.P. Morganpropôsumadisputaaos
funcionários em São Paulo paracontribuir
com oProtea.Reunidosem um restaurante,
e divididosem duasequipes,eles participa-
ram de uma happyhourna qual os direto-
res do bancofaziamos drinks.Em algumas
horas,abrincadeirarendeuR$ 35 mil, que
reforçaramocaixadoinstituto.
O aumentodos recursos é fundamentalpa-
ra oProtea fechar acordoscom maishospitais
e diversificar suas ações. Encabeçado por um
conselho de 12 mulheres, seis das quaisjá ti-
veramcâncer, oinstitutotem umasériede
projetos engatilhados. Um deles é trazerao
país uma tecnologia de inteligênciaartificial
desenvolvida pelo MIT paradiagnosticarnó-
dulosem estágios bem primitivos, difíceis de
detectarsobosexamesatuais.Oprimeiropas-
soévalidarosistemanoBrasil.
OProteatambémplanejacomeçarum
trabalhode pesquisaparaentendero per-
cursoque as mulheresfazematé chegarao
SantaMarcelina—umaformadeidentificar
problemase sugerirmelhoriasnessarota —
e está recebendovoluntáriosde diversas
disciplinas, que vão da psicologiaaté ioga,
com o objetivode criargruposem que as
mulherespoderãocompartilhar suas histó-
riasereceberapoiomultidisciplinar.
Pela experiênciafamiliar, Gabriellasabe
oquantoissoéimportante.Antesdela,uma
avó teve câncerde mama—diagnosticado
aos 70 anosde idade—; umatia, com 82
anos;alémda irmã,que descobriuotumor
quandotinha34 anosehavia acabadode
terminarum ciclo de amamentação. Na
época,Gabriellamorava em Londrese deci-
diu voltarao Brasilcom afamília.Felizmen-
te,nenhumdessescasossemostroufatal.
Gabriellaperdeuocabeloaolongodapri-
meiraquimioterapia.Não se importoumui-
to.“Foiumtratamentopesado,masmesenti
gratapor ter umadoençatratável”, recor-
da-se. Hoje plenamente recuperada, ela
sempreabordamulheresque saemem pú-
blicode turbanteou chapéuem consequên-
cia dos medicamentos.Ao se aproximar, ela
contaque passoupela mesmacoisae, numa
nota de esperança,diz que está curada.“De-
poisdepassarporalgoassim,amelhorcoisa
éasolidariedadequevocêrecebe”, diz.■“Otratamento é eficaz
em 95 %dos casos de
câncer demama,mas
desde quea doença
sejadiagnosticada
suficientemente
cedo”, dizGabriella
Oinstitutotambémtem procurado par-
ceriascom empresas,sob diferentesforma-
tos. Essasalianças têm rendidohistóriascu-
riosas,comoadaLojas Marisa.Em 2018,co-
mo partedo OutubroRosa,a rede varejista
lançouo“sutiãdorecomeço”,umapeça
com compartimento internopara que mu-
lheres com mastectomiapossamusar uma
prótesemóvel.Oprodutofoi criadodepois
queuma cliente, a advogada Elizabeth
Trammel,enviou umacartaà empresa.No
texto,elaexplicavaqueencontrara,emuma
lojadarede,oúnicosutiãqueahaviaajuda-
doarecuperaraautoestimadepoisdacirur-
gia, mas que a peçanão era maisvendida.
Em resposta,a Marisacriouo novosutiãe
fezumacampanhaemtornodapeça.
Meses depois, contaCristina, a Lojas Marisa
entrou em contato com o Protea para infor-
marquedecidiradestinararendaobtidacom
o sutiãaumaorganização não governamen-
tal e escolhera o institutopara receberadoa-
ção. Em outubro do ano passado, o “sutiã do
recomeço” voltou às lojasda rede,destavez
acompanhadodeumlogotipodoinstituto.Canal Unico! O Jornaleiro