VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - Nº 26

(MARINA MARINO) #1

Poesia


No poema Não Identificada

(p. 07 ), queabre o livro,na primeira
parte Poema-Início , a voz lírica se


(re)busca a si no outro,


(re)afirmando-se por meio da


negação. Às vezes, o outro se


encontra muito próximo, aponto do


choque;noutras,estádistantedesua


percepção, éapenasuma lembrança.
Eu me aferro a toda a pluralidade


humanaque pulsanopoema, desejo


prender-me aele; tambémno velho


“quemsoueu”quepasseiaoseunovo


dianteminhainquietapercepção.Éa


traquinagem do verbo fazendo
furdunçonosmeussentidos!Háuma


casaqueseconstróinaintimidadedo


ser e, nesse espaço, ressoa e


repercute em mim, há um eco


acolhedor que se projeta, consigo


identificá-lo, possui sonoridade
envolvente, tem ritmo musical... Se


traduz na doce voz de Adriana


Calcanhoto cantando o poema 7 , de


Sá-Carneiro:“Eunãosoueunemsou


o outro, / Sou qualquer coisa de


intermédio:/Pilardapontedetédio/


QuevaidemimparaoOutro”.


Fragmento-me, acompanhada pela
melodia perfeita que meu
pensamento recria nas imagens do
poema. Tudo é perfeito dentro de
mim, no meu silêncio movente. Por
favor,nãodiganada,correoriscoda
mínima sílaba toldar as águas
barrentas do meu Solimões de
pensamentos, não quero mesmo
saber“oqueserádemim”,queroser
o ser destes versos poéticos, neste
aqui e agora e apenas sentir,
assimilandoque

Naressonância,ouvimoso poema,
narepercussãonósofalamos,pois
énosso. Arepercussão operauma
reviradadoser.Parecequeoserdo
poetaénossoser.Amultiplicidade
das ressonâncias sai então da
unidadedoserdarepercussão(...)
poema nos prende por completo.
Essatomadadoserpelapoesiatem
umamarcafenomenológicaquenão
engana. A exuberância e a
profundidade de um poema são
sempre fenômenos da dupla:
ressonância-repercussão.
(BACHELARD, 1978 : 187 )
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