Entrevista
Marina:É umgrande prazer abrir
as páginas da nossa Revista para
você, Néllys. Gostaria que
começasse se apresentando aos
nossosleitores.
Néllys: Olá,o prazer émeude estar
aqui. Eu sou uma mulher preta
gaúcha, que mora na Serra, em
Gramado, casada, mãe dedois filhos
adolescentes. Que se descobriu
durante a pandemia, que entendeu
queeraumamulherpreta,quetinha
sofridopreconceitoavidatodaeisso
fezcomqueeuvivesse“personagens
aceitáveis”.Esomentedepoisdedois
episódiosmuitoimportantes,aminha
primeirapostagemqueeufuiouvida
evistasendoEUeamortedoGeorge
Floyd,Eupercebitudooqueeutinha
vivido e que muita coisa não tinha
acontecido, ou aconteceu de forma
erradopelopreconceitoqueeusofria,
e não entendia que isso existia
comigo. A partir desse momento
renasci.
Marina: Você nasceu em um dos
grupos mais excluídos de nossa
sociedade.Quais foram osmaiores
desafiosqueenfrentou?O quevocê
játevedesuperar?
Néllys: Na verdade, considero três
grupos:Mulher,PretaePobre.Muitas
vezesacheique tudoera poreu ser
pobre, filha de mãe solo. Que as
oportunidades não chegavam a
minhaporeunãoterdinheiro,queeu
nãotinhaamigasporquenaépocade
escola, anos 80 , eu era uma das
únicas sem pai, mas aos pouco fui
percebendoque sempreera a única
nos espaços, que os olhares eram
diferentes, porém eu achava que a
culpa sempre era minha... Isso me
causou dores imensas, traumas que
atéhojetrabalho,poismuitasdenós
mulheres pretas não nos achamos
merecedoras de sucesso, reconhe-
cimento ou até muitas vezes de um
amor,umafamília,desermosfelizes.
Sermospretasnoscolocamuitas