Elle - Portugal - Edição 379 (2020-04)

(Antfer) #1

STA RS


62 ELLE PT


inato e profunda compreensão da música», diz o autor. «Quis
imediatamente fazer o possível para ajudar».

PODE SER DIFÍCIL imaginar que Zoë Kravitz tenha muito
em comum com Rob, mas o facto de nascer numa família
com credenciais de hipster imaculadas não foi tão fácil
quanto se poderia imaginar. O seu pai, Lenny, e a sua mãe,
Lisa Bonet – mais conhecida pelo seu papel como Denise
Huxtable no icónico The Cosby Show – separaram-se quando
ela tinha 2 anos, fazendo com que os seus primeiros anos
fossem passados numa vida simples e ao ar livre com a sua
mãe em Topanga Canyon, Califórnia. O acesso à televisão
era limitado e ela estudou numa escola de Rudolf Steiner,
que adorava. Aos 11 anos, mudou-se para Miami, onde
morava com o pai num cenário mais sofisticado, cheio de
celebridades. Não era um mundo confortável para ela: «Não
gostei da minha nova escola. Não conseguia encaixar-me em
nenhum lugar e estava cercada por uma enorme quantidade
de beleza e postura. Tinha 15 anos, uma
aparência perfeitamente normal, mas
tinha uma mãe muito bonita e magrinha
e um pai que namorava uma supermo-
delo, e sentia-me baixa e desajeitada.»
A certa altura, Nicole Kidman – sua
futura coestrela em Big Little Lies –
estava secretamente noiva do seu pai,
tornando-se uma potencial madrasta.
«Era uma adolescente mal-humorada
com ela», lembra.
Tudo isto se revelou demasiado intenso
e complicado para Zoë, o que resultou
num diagnóstico de bulimia. Pouco tem-
po depois, mudou-se para Nova Iorque,
para, numa fase inicial, poder esconder
a sua condição dos pais. Mas depois eles
descobriram o que estava a acontecer e a atriz começou a
fazer terapia. Teve essa doença durante cerca de uma década.
«Agora estou bem», diz pensativa. «Mas sou muito vigilante.
É uma doença e eu nunca me permito esquecer isso.»
Em Nova Iorque, a atriz matriculou-se noutra escola
Rudolf Steiner e, posteriormente, teve aulas de teatro no
Conservatório de Artes Dramáticas. Foi quando estava na casa
dos 20 anos que conseguiu os papéis – no pós-apocalíptico
Mad Max: Fury Road de 2015, seguido de Big Little Lies
em 2017 – que a catapultariam para as principais ligas.
Estes projetos abordaram questões delicadas sobre mulhe-
res e empoderamento num momento em que Hollywood
foi obrigado a reavaliar o seu próprio comportamento.
«Aprendi muito com minha família de Big Little Lies»,
afirma. «Por muito que toda a gente gostasse que fôssemos
mal-intencionadas e competitivas, damo-nos muito bem.»

Zoë conta com Reese Witherspoon como uma das suas
melhores amigas. E da “adolescente rabugenta”, Kidman
agora diz: «Sinto-me protetora dela, como uma irmã mais
velha. Ela está a traçar o seu próprio caminho com confiança e
elegância. Ela está a ter uma fase muito boa neste momento,
mas só vai ficar maior. Ela é uma ameaça tripla porque sabe
dançar, cantar e representar. É profundamente feminina,
e cheira sempre tão bem!»
A vida familiar raramente é fácil para um ator, mas Zoë é
pragmática. «Estou habituada a que a minha família more
em cidades diferentes, mas continuamos próximos enquanto
todos fazemos as nossas coisas.» O mesmo se aplica ao ma-
rido? «Sim. Quer dizer, o Karl tem a sua própria carreira e
precisa de se concentrar nela, mas estamos juntos há alguns
anos e sabemos onde estamos. De qualquer forma, a melhor
parte de nos casarmos é sermos capazes de ter uma briga
estranha e sabermos que nenhum de nós vai sair porta fora.
O compromisso provoca uma sensação de segurança.»
Kravitz tem a sua família de atores
para sair enquanto estiver em Londres.
Hoje à noite, vai encontrar-se no Jazz
Cafe, um dos locais de concertos mais
prestigiados de Londres, com Ben-Adir e
Callum Turner, sua colega em Monstros
Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald.

MAS PRIMEIRO, há compras para fa-
zer. Decidimos pegar numa taça de
champanhe e aproveitar os pisos de
moda do Dover Street Market, que
têm uma curadoria incrível. Quilos de
tule de Molly Goddard são comprados,
deliciosas carteiras de camurça da The
Row são admiradas, e a genialidade das
malhas retorcidas do diretor criativo da
Bottega Veneta, Daniel Lee, comentada com respeito. Zoë
pega num top de estilo vitoriano estampado de Peng Tai.
«Isto ficaria incrível à minha mãe, mesmo ela não ligando
muito a moda... Ao contrário de mim, que adoro.» Mas é
na cave da loja, onde estão as peças dos jovens designers
mais disruptivos, que ela fica realmente empolgada. Uma
vez posta, uma boina com padrão leopardo da marca Noah
não sai mais da sua cabeça. Depois pega numa saia de seda
amarela da Ashley Williams coberta de gatos pretos e leva-a
para um provador para experimentar. A assistente olha para
ela quando sai, encantada com o look e diz: “Olhe para
você, parece a Catwoman!” Kravitz vira-se para mim com
uma risada cúmplice. «Oh meu Deus, ela nem sabe! Isto é
um sinal!» Como se ela precisasse de um, penso eu. O seu
nome está lá no alto, no sítio onde os holofotes iluminam
com mais intensidade.n F.G.

«SER ADOLESCENTE
E JOVEM ADULTA
TAMBÉM FOI
UM DESAFIO
GRANDE PARA MIM,
E ENCONTREI
NA MÚSICA UM
REFÚGIO, UM
LUGAR PARA ME
ESCONDER.»
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