66 ELLE PT
Encontro-me aqui, cara a cara com a estrela, no cama-
rim, sem agente, sem relações públicas, sem ninguém para
interromper com um “essa pergunta é demasiado pessoal”.
E, mesmo assim, não me atrevo a fazer perguntas sobre as
suas relações amorosas tão mediáticas. Concentrado e a ouvir
atentamente, Pattinson repete por vezes as questões em voz
alta, assimilando-as e depois dissecando-as antes de dar a
resposta. A entrevista torna-se uma conversa espontânea- acompanhada por uma Coca-Cola – com um dos atores
mais sexy da atualidade.
ELLE: Começou a representar aos 18 anos, e em 15 anos
já fez 34 filmes (e ganhou oito prémios...). Porque é que se
mantém tão ativo? O que é que o move?
ROBERT PATTINSON: Agora divirto-me mais a fazer filmes!
Quanto mais aprendo sobre como fazer as coisas, mais por-
tas se abrem à minha mente. E quanto mais confortável te
sentes, mais livre te sentes também. Costumava pensar na
representação como um teste, no qual havia a possibilidade
de falhar. Mas quando deixas de pensar no resultado... Nunca
sabe se vai ser bom ou ser mau, por isso o melhor mesmo
é aproveitar! E, assim que passas a ter esta atitude, tudo se
torna muito mais divertido.
E, ao ficar mais velho, talvez possa escolher mais os papéis
e com quem quer trabalhar?
Sim. Isso acontece quanto mais velho ficas e quanto mais
projetos fazes. Podes falar com o realizador. É mais uma
colaboração criativa. Quando és mais novo, tens aquela
mentalidade de escola. Alguém está
a dizer-te o que tens de fazer e por isso
só te apetece dizer que não a toda a
hora. Mas depois apercebes-te de que
estão todos no mesmo barco. E que
todos querem fazer um bom filme!
O que é que diria aos professores que
o desencorajaram de se inscrever no
clube de teatro?
Ainda bem que o fizeram. Quando penso nisso agora... Na
altura, fiquei tão zangado que não queria ter nada que ver com
o universo das artes na escola. E, depois, acabei por arranjar
um agente, o que não teria acontecido se eu tivesse feito
parte do clube de teatro na escola. Às vezes, ter um pouco de
ressentimento é bastante bom. Dá-te mais fogo.
Acha mesmo que conseguiu captar um público mais “mas-
culino”, como chegaram a sugerir alguns profissionais do
meio, depois do filme Cosmopolis?CINEMA
Para ser sincero, nunca pensei num público. Mas a primeira
vez que reparei que os homens me aceitavam melhor deve
ter sido com Good Time. E foi um pouco estranho... Mas,
mais uma vez, é a mesma lógica do professor de teatro. Eu
gostava quando o público masculino me dizia “Ah, és um
idiota”, porque me dava vontade de ir à luta! Essas coisas
dão energia. O que é perigoso é não ter inimigos. Precisamos
sempre de um bom inimigo!
Lê os comentários sobre si na internet?
Quando estreia um filme? Sim.
E quando são maus, isso afeta-o ou já se considera suficien-
temente forte para aguentar?
Quando era mais novo, afetava-me. Mas agora... é uma coisa
estranhamente viciante. Ler os comentários maus é mais
viciante do que ler os comentários bons. Podes ler cem bons
e um mau e, não sei se é por causa disso, mas agora os maus
já não me afetam. A não ser que envolvam também outra
pessoa. Se for só sobre mim, aguento bem.
E se for sobre alguém importante para si?
Isso não acontece muito. E acho que consigo separar bem as
coisas. É uma das vantagens de não ter conta de Instagram.
Corta-se o acesso. Sempre tive uma barreira e por isso não há
problema. É tudo só barulho.Vai fazer 34 anos em breve e faz parte dos chamados Millennial.
O que é que isso significa para si? Reconhece-se como mem-
bro integrante dessa geração?
Acho que sou mais um último reduto da geração anterior.
Não me sinto de todo um Millennial. Muitas das coisas que
as pessoas acham importantes, como as redes sociais... para
mim não são de todo importantes. Aborrecem-me. Não vejo
qual é a razão para ter, para publicar, para tirar fotografias de
mim próprio e pô-las online... Tudo isso me parece louco.
Fez vários filmes recentemente. Waiting for the Barbarians,
The King (Netflix), The Devil All the Time, The Lighthouse
e Tenet (atualmente em filmagem). Quantos guiões recebe
por mês? É o Robert que escolhe cada papel?
Para ser honesto, não recebo assim tantos guiões. Exceto
quando se trata de um realizador com o qual quero mesmo«COM CADA NOVO TRABALHO, TENHO TENTADO
FAZER O OPOSTO DO ANTERIOR, PARA
CONSEGUIR SURPREENDER-ME A MIM PRÓPRIO»