O Estado de São Paulo (2020-03-12)

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A10 Política QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


A desembargadora Suimei Mei-


ra Cavalieri, da 3.ª Câmara Cri-


minal do Tribunal de Justiça do


Rio, suspendeu as investiga-


ções sobre suposto esquema de


“rachadinhas” – prática que


consiste na devolução de parte


ou a totalidade do salário do ser-


vidor ao político que o contrata



  • envolvendo o senador Flávio


Bolsonaro (sem partido-RJ), fi-


lho do presidente Jair Bolsona-


ro, quando ele era deputado es-


tadual na Assembleia Legislati-


va do Rio (Alerj). A decisão é


liminar e deverá vigorar até vo-


tação colegiada – que não há da-


ta para acontecer.


O recurso foi apresentado pe-


la defesa de Flávio na semana


passada, e buscava tirar o caso


das “rachadinhas” das mãos do


juiz Flávio Itabaiana Nicolau, ti-


tular da 27.ª Vara Criminal do


Tribunal de Justiça do Rio. Se-


gundo a defesa, como Flávio


Bolsonaro era deputado esta-


dual à época do suposto crime,


deveria responder perante a se-


gunda instância.


Desde o início das investiga-


ções, a família Bolsonaro tem


criticado a atuação do juiz Ita-


baiana Nicolau, que já autori-


zou 24 mandados de busca e


apreensão, quatro quebras de si-


gilo bancário e 28 quebras de si-


gilo telefônico no curso das in-


vestigações. Entre os que tive-


ram seus sigilos quebrados es-


tão Flávio, sua esposa, Fernan-


da Bolsonaro, e as contas da Bol-


sotini, loja de chocolates de pro-


priedade do senador.


Além do senador, a decisão ju-


dicial de suspender as investiga-


ções alcança também duas filhas


do ex-assessor parlamentar de


Flávio na Alerj, Fabrício Queiroz



  • Nathalia e Evelyn – a ex-mu-


lher dele e outros 88 ex-funcioná-


rios do gabinete, incluindo a ir-


mã e a mãe do ex-capitão do Bo-


pe Adriano da Nóbrega, milicia-


no morto no mês passado em


operação policial na Bahia.


Movimentações. A investiga-


ção teve início em dezembro de


2018, após relatório do Conse-


lho de Controle de Atividades


Financeiras (Coaf) apontar


uma “movimentação atípica” –


R$ 1,2 milhão no período de um


ano – nas contas de Queiroz. No


final de abril de 2019, a Justiça


do Rio autorizou a quebra de si-


gilo de 88 ex-assessores de Flá-


vio, além de Queiroz e do pró-


prio senador.


A quebra do sigilo bancário


de Flávio cobriu movimenta-


ções de janeiro de 2007 a dezem-


bro de 2018 enquanto o levanta-


mento do sigilo fiscal ocorreu


entre 2008 e 2018.


Em novembro passado, o Mi-


nistério Público do Rio apon-


tou que Queiroz teria recebido


R$ 2 milhões por meio de 483


depósitos bancários feitos por


servidores do gabinete de Flá-


vio, e que parte do dinheiro des-


viado teria sido lavado na Bolso-


tini. Além dos depósitos, o Mi-


nistério Público afirma que


Queiroz “executou uma inten-


sa rotina de saques em sua pró-


pria conta corrente”, chegando


ao total de R$ 2,9 milhões em


espécie – ele é apontado pelos


promotores como o “arrecada-


dor dos valores desviados”.


Defesa. Na ocasião, a defesa


de Queiroz afirmou que “os va-


lores milionários vem sendo


apresentados de forma distorci-


da, para que a opinião pública


veja ilegalidades onde não há”.


“Fabrício Queiroz recebia par-


te dos salários de alguns asses-


sores para aumentar a base de


atuação do deputado, ou seja,


com a mesma finalidade públi-


ca dos recursos, não constituin-


do qualquer ilegalidade”, afir-


mou a defesa.


Procurado, o criminalista Fre-


derick Wassef, que defende o se-


nador Flávio Bolsonaro, não


quis comentar o caso. / P.R.N.


Bruno Ribeiro


Ricardo Galhardo


Integrantes da cúpula do PT


avaliam que os assassinatos


de duas pessoas ligadas ao ve-


reador Senival Moura (PT-


SP) no intervalo de uma sema-


na terão influência na esco-


lha do candidato do partido à


Prefeitura de São Paulo. Seni-


val é do grupo político do ex-


deputado Jilmar Tatto, favo-


rito na disputa interna pela le-


genda do PT na capital paulis-


ta desde que o ex-prefeito Fer-


nando Haddad recusou a can-


didatura, na semana passada.


Tatto foi secretário de Trans-


portes em duas gestões do PT


na cidade, enquanto Senival


tem nos perueiros da cidade


seu reduto eleitoral.


Os assassinatos de Francisco


Pereira de Brito, o “doutor Ti-


to”, secretário de Esportes de


Ferraz de Vasconcelos, na Gran-


de São Paulo, e de Adauto Soa-


res Jorge, presidente do consór-


cio Transunião, empresa de


transporte que opera na zona


leste da capital, viraram muni-


ção para os adversários inter-


nos de Tatto.


Ontem, petistas contrários à


indicação do ex-deputado com-


partilharam fotos de Doutor Ti-


co com Senival e outros inte-


grantes do grupo político de


Tatto, entre eles o deputado fe-


deral Nilto Tatto (PT-SP), ir-


mão do pré-candidato. Tico foi


assassinado com 20 tiros na vés-


pera. Em uma rede social, Seni-


val diz que o deputado destinou


emenda parlamentar para


obras da Secretaria de Esporte


de Ferraz de Vasconcelos.


Segundo integrantes da cúpu-


la do PT, a proximidade das víti-


mas com lideranças petistas e


boatos disseminados sobre as


circunstâncias dos homicídios


constrangem o partido e po-


dem respingar no processo de


escolha do candidato a prefeito


da maior cidade do Brasil.


A morte de Jorge, na semana


passada, já havia chamado a


atenção dos petistas. O empre-


sário de ônibus era amigo do ve-


reador há 30 anos. Depois da


morte, com dois tiros na cabe-


ça, em uma padaria do bairro La-


geado, zona leste, Senival havia


pedido escolta da Polícia Mili-


tar à Câmara Municipal.


Após a segunda morte, mem-


bros da bancada na Câmara Mu-


nicipal descreveram o vereador


como “isolado”, e disseram que


ele tem evitado conversar so-


bre os crimes. Ontem, quando o


parlamento estava lotado para


a votação de um projeto de lei


da área de transportes – mudan-


ças nas regras para serviços por


aplicativo, como Uber e 99 – Se-


nival ficou em seu gabinete, con-


versando com aliados.


Segundo pessoas próximas, o


vereador está irritado com o


uso político das mortes. Ele pre-


tende manter sua candidatura


para a reeleição neste ano e apoi-


ará Jilmar Tatto nas prévias do


PT para a Prefeitura.


Para Tatto, “Senival é uma


vítima” da violência e a proximi-


dade do vereador não atrapalha


sua candidatura. “Não atrapa-


lha. Quem está dizendo isso é


gente preocupada em perder a


prévia no primeiro turno”. Tat-


to disse ter apoio de seis verea-


dores, cinco deputados esta-


duais e três federais.


Além de Jilmar Tatto, dispu-


tam as prévias o vereador Eduar-


do Suplicy, os deputados Car-


los Zarattini e Alexandre Padi-


lha, o ex-deputado Nabil Bon-


douki e a militante Kika Silva.


Até a semana passada dirigen-


tes petistas ainda acreditavam


que Haddad poderia mudar de


ideia e aceitar a legenda para dis-


putar a prefeitura pela terceira


vez. Em conversa com o presi-


dente municipal do PT, Laércio


Ribeiro, no entanto, Haddad


reafirmou que não será candida-


to. Ele alega motivos familiares


e pessoais para recusar a legen-


da, mas líderes petistas dizem


que o motivo real é a falta de


apoio na direção nacional do


PT. Haddad não conseguiu em-


placar nenhum aliado na Execu-


tiva Nacional do partido, hoje


dominada pela presidente da le-


genda, Gleisi Hoffmann, desafe-


ta do ex-prefeito.


Procurados, os diretórios mu-


nicipal, estadual e federal do PT


não se manifestaram.


Cenário. Após a desistência de


Haddad, outras forças de es-


querda anunciaram seus pré-


candidatos à Prefeitura paulis-


tana. O PSOL deve ter chapa for-


mada pelo líder sem-teto Gui-


lherme Boulos e pela deputada


e ex-prefeita Luiza Erundina. O


ex-governador Márcio França


(PSB) anunciou que vai dispu-


tar em aliança com o PDT.


Inquérito sobre


Lulinha sai


de Curitiba


lApuração


Liminar suspende investigação sobre gabinete de Flávio


Contratada pelo MEC teve


edital anulado pelo TCU


lO Tribunal Regional Federal da


4ª Região decidiu ontem soltar o


ex-diretor de Serviços da Petro-


brás Renato Duque, condenado a


mais de 130 anos de prisão na


Lava Jato. A Corte impôs a ele


medidas cautelares, como proibi-


ção de deixar o País e uso de tor-


nozeleira eletrônica. Duque foi


preso em fevereiro de 2015. Ele


está detido no Paraná.


Paulo Roberto Netto


Pepita Ortega


O Tribunal Regional Federal da


4.ª Região (TRF-4) determinou


que a investigação contra o fi-


lho do ex-presidente Luiz Iná-


cio Lula da Silva, o empresário


Fábio Luís Lula da Silva, o Luli-


nha, seja enviada para a Justiça


Federal em São Paulo. A deci-


são tira o inquérito das mãos do


juiz Luiz Antônio Bonat, que as-


sumiu a 13.ª Vara Federal de Cu-


ritiba após saída de Sérgio Mo-


ro, hoje ministro da Justiça.


Lulinha é investigado na fase


69 da Lava Jato, a Mapa da Mi-


na, que apura contratos de R$


132 milhões firmados pela


Oi/Telemar com a Game-


corp/Gol. A força-tarefa de Curi-


tiba afirma que tais repasses


eram contrapartidas a atos de


Lula em benefício ao setor de


telefonia, e que recursos ilícitos


foram usados no sítio de Ati-


baia, pivô da condenação do pe-


tista a 17 anos, um mês e dez


dias de reclusão.


A transferência do inquérito


atende a pedido da defesa de Lu-


linha. O criminalista Fábio To-


fic Simantob argumentou que o


caso não tem vínculos com cor-


rupção e desvios da Petrobrás


investigados pela Lava Jato.


Cabral. O relator da Lava Jato


no TRF-4, desembargador João


Pedro Gebran Neto, desconsi-


derou manifestação da força-ta-


refa de Curitiba para inserir,


nos autos, declaração do ex-go-


vernador do Rio Sérgio Cabral


(MDB) contra Lulinha. Na auto-


declaração, Cabral dizia que, a


pedido de Lula, teria solicitado


pagamentos de R$ 30 milhões à


Oi, que seriam repassados à Ga-


mecorp/Gol como prestação de


serviços na área de educação.


Gebran afirmou que “não é


possível ponderar a autodecla-


ração realizada fora dos autos”


e “sequer é possível identificar


em que contexto a declaração


foi firmada (local e data), já que


não há referência” ao acordo de


delação de Cabral perante o Su-


premo Tribunal Federal (STF).


Vereador. Senival Moura pediu proteção policial na Câmara


88


investigados por prática de


“rachadinha” no gabinete do


então deputado estadual Flávio


Bolsonaro na Assembleia


Legislativa do Rio tiveram o


sigilo quebrado.


DIDA SAMPAIO / ESTADÃO - 25/9/

Suspensão vigora até


decisão colegiada do


TJ do Rio, o que não


há data para acontecer;


MP apura ‘rachadinha’


Recurso. Decisão atende a pedido de defesa do senador


Patrik Camporez / BRASÍLIA


Vencedora de uma licitação do


Ministério da Educação (MEC)


para vender kits escolares, a em-


presa Brink Mobil já foi alvo de


suspeitas de fraude em outro ne-


gócio com a pasta. Em março de


2019, um edital para a compra


de kits de robótica, no valor de


mais de R$ 1,3 bilhão, foi anula-


do por determinação do Tribu-


nal de Contas da União (TCU)


por “vícios” no pregão que po-


deriam beneficiar a empresa.


O Estado mostrou na sema-


na passada que, mesmo tendo


sido alertada de que a Brink Mo-


bil e seu proprietário, Valdemar


Abila, são acusados de envolvi-


mento em esquema que des-


viou R$ 134,2 milhões de dinhei-


ro público da saúde e da educa-


ção na Paraíba, o Fundo Nacio-


nal de Desenvolvimento de Edu-


cação (FNDE) prosseguiu com


a contratação da empresa para


fornecer os kits escolares.


Na decisão que anulou a con-


tratação anterior, o TCU diz


que os pregoeiros do MEC pre-


pararam um edital com regras


para beneficiar a Brink. O pro-


cesso de licitação havia sido


aberto um ano antes, em março


de 2018, ainda na gestão de Mi-


chel Temer. O tribunal enten-


deu que a “fixação de critério”


pelo pregoeiro “apresentou ris-


co de restringir a competitivida-


de do certame e de não garantir


a contratação de empresa apta


ao cumprimento do objeto”.


Os kits de robótica eram com-


postos de material de apoio pe-


dagógico para alunos e educado-


res de todo o País. No seu voto,


o ministro-relator, Walton


Alencar Rodrigues, afirmou


que o FNDE iniciou o certame


“sem prever, de modo adequa-


do, requisitos de qualificação


técnica necessários e suficien-


tes para garantia da boa execu-


ção dos futuros contratos”.


O MEC foi procurado pela re-


portagem, mas não se manifes-


tou sobre o cancelamento do


pregão em 2019. A Brink Mobil


também não respondeu aos


questionamentos.


Em outra decisão do TCU,


mas sobre a contratação dos


kits escolares na gestão de Jair


Bolsonaro, os ministros da Cor-


te também viram vícios no edi-


tal que poderiam beneficiar a


Brink. Apesar das decisões des-


favoráveis no tribunal e da acu-


sação na Paraíba, a Brink conti-


nua apta a firmar contratos


com o poder público. A Contro-


ladoria- Geral da República, res-


ponsável pelo Cadastro Nacio-


nal de Empresas Inidôneas, não


respondeu se as suspeitas pode-


riam justificar a declaração de


inidoneidade da empresa.


TRF-4 manda soltar


Renato Duque


NA WEB


Documento. Veja


decisão do relator


da Lava Jato


estadao.com.br/e/gebranlulinha


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JOSE PATRICIO/ESTADÃO - 1/8/

Assassinatos


influenciam


prévias do


PT em SP


Mortes de duas pessoas têm sido usadas


por opositores internos de Jilmar Tatto


Disputa. Ex-secretário Jilmar Tatto pretende concorrer à Prefeitura de São Paulo pelo PT


ANDRÉ BUENO / CAMARA MUNICIPAL SP-4/12/

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