O Estado de São Paulo (2020-03-12)

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A12 QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Internacional


Sanders rejeita abandonar disputa


democrata após vitórias de Biden


Refugiados


Grécia usa prisão secreta


para manter migrantes


sírios. Pág. 14


CHARLES KRUPA)/AP

Campanha. Senador Bernie Sanders deixa entrevista coletiva em que disse que irá manter sua candidatura dentro do Partido Democrata: derrotas seguidas


WASHINGTON


O senador Bernie Sanders re-


jeitou abandonar a disputa de-


mocrata, mesmo após as der-


rotas nas prévias de terça-fei-


ra para o ex-vice-presidente


Joe Biden. Ontem, ele afir-


mou que sua campanha está


vencendo o embate ideológi-


co e ganhando o voto dos jo-


vens, mas reconheceu que


vem perdendo o debate sobre


“elegibilidade”, já que a maio-


ria acredita que Biden tenha


mais chance de vencer Do-


nald Trump em novembro.


“A noite passada obviamente


não foi boa. Mas nossa campa-


nha segue vencendo entre os


eleitores mais jovens, não só os


de 20 anos, mas de 30 e 40 anos,


com números fortes para apoi-


ar nossa campanha”, disse San-


ders, que falou diretamente a Bi-


den, questionando sua capaci-


dade de enfrentar os principais


desafios dos EUA.


“Joe, o que você pretende fa-


zer?”, perguntou Sanders. “Co-


mo vai resolver os problemas


do sistema de saúde, da desi-


gualdade, das mudanças cli-


máticas, da pobreza e do encar-


ceramento em massa?”


A noite de terça-feira foi de-


sastrosa para Sanders. De seis


Estados, ele perdeu em quatro,


incluindo Michigan, no Meio-


Oeste, de caráter industrial e


crucial para uma vitória contra


o presidente. Em 2016, Trump


derrotou Hillary Clinton no Co-


légio Eleitoral com os votos de


Estados com perfil demográfi-


co semelhante.


Por isso, Michigan era impor-


tante para determinar qual dos


dois – Biden ou Sanders – seria


mais forte contra o republica-


no. O ex-vice-presidente ameri-


cano venceu com folga as primá-


rias nesse Estado, com 53% a


36% dos votos, derrotando o ri-


val em todos os 83 condados.


Biden também venceu as pré-


vias de Idaho (49% a 42,5%),


Missouri (60% a 35%) e Missis-


sippi (81% a 15%). Sanders ga-


nhou apenas em Dakota do Nor-


te (53% a 40%), Estado com pou-


ca importância eleitoral. A apu-


ração em Washington, toda rea-


lizada pelo correio, não termi-


nou, mas está empatada, com


os dois candidatos dividindo os


delegados estaduais.


Com isso, Biden ampliou sua


vantagem sobre Sanders no pla-


car de delegados. Segundo pro-


jeções do New York Times, o ex-


vice-presidente americano tem


864 delegados. O senador, 710.


Vence a candidatura do partido


quem obtiver 1.990 delegados,


maioria simples de um total de


3.979, na convenção nacional


do partido em Milwaukee, en-


tre os dias 13 e 16 de julho.


O senador agora aposta todas


as suas fichas nas primárias de


terça-feira em quatro Estados


que também são cruciais na dis-


puta direta contra Trump: Illi-


nois, Flórida, Ohio e Arizona. De


acordo com pesquisas recentes,


Biden lidera em todos com certa


folga e poderia desferir o golpe


final na candidatura de Sanders.


Ontem, o senador deu pistas


sobre sua estratégia de campa-


nha. Ele agora aposta tudo no


debate contra Biden, domingo,


em Phoenix, no Arizona – en-


contro que será realizado a por-


tas fechadas em razão da epide-


mia de coronavírus.


“Trump deve ser derrotado e


farei tudo que estiver a meu al-


cance para que isto aconteça.


Na noite de domingo, no primei-


ro debate cara a cara desta cam-


panha, o povo americano terá a


chance de definir qual é o me-


lhor candidato para conseguir


esse objetivo”, afirmou San-


ders. / AP e NYT


Eleições nos EUA. Ex-vice-presidente americano amplia número de delegados e vantagem sobre senador, ficando cada vez mais


próximo de enfrentar Donald Trump em novembro; debate de domingo e as quatro primárias do dia 17 podem definir candidato do partido


WASHINGTON


A Suprema Corte dos EUA deu


ontem uma importante vitória


ao governo do presidente Do-


nald Trump ao manter em vi-


gor o programa “Permaneça no


México”, que permite enviar ao


país vizinho mais de 60 mil soli-


citantes de asilo.


O tribunal deu razão ao go-


verno americano, que pediu


com urgência a suspensão de


um bloqueio parcial do progra-


ma imposto pela Corte de Ape-


lações do Nono Circuito dos


EUA, com sede em São Francis-


co. Os juízes da Suprema Corte


concederam uma suspensão


temporária da decisão do tribu-


nal inferior até que o assunto


seja totalmente analisado.


Anunciado em dezembro de


2018, e implementado um mês


depois, o programa foi batiza-


do de Protocolos de Proteção


aos Migrantes (MPP, na sigla


em inglês). Ele determina que


todos os solicitantes de asilo


que chegarem à fronteira ameri-


cana aguardem a resolução de


seus casos no território mexica-


no. Antes, os imigrantes ilegais


eram detidos, mas libertados


em seguida e aguardavam o jul-


gamento do processo nos EUA.


De acordo com a Casa Bran-


ca, mais de 60 mil migrantes, a


maioria de países da América


Central (Guatemala, El Salva-


dor e Honduras), que fogem


da pobreza e da violência do


crime organizado, foram de-


volvidos ao México nos 13 me-


ses de implementação do pro-


grama. Pelo menos 35 detidos


eram brasileiros, dentre eles


quatro crianças.


O Tribunal de Apelações do


Nono Circuito considerou a po-


lítica ilegal e ela foi suspensa


temporariamente até uma deci-


são da Suprema Corte. Para der-


rubar a suspensão, o governo


americano argumentou que, se


essa ordem entrasse em vigor,


“um número substancial dos 25


mil estrangeiros que aguardam


um processo no México se


apressaria imediatamente para


entrar nos EUA”.


A Suprema Corte, que se tor-


nou mais conservadora após


duas indicações de Trump, con-


cedeu ao governo republicano


várias vitórias significativas


em temas de imigração nos últi-


mos meses. A decisão de ontem


só não foi aprovada por um dos


nove magistrados, a juíza Sonia


Sotomayor. Após o anúncio, ad-


vogados dos imigrantes critica-


ram a medida.


Risco. “Os requerentes de asi-


lo enfrentam grave perigo e da-


nos irreversíveis todos os dias,


e essa política depravada per-


manece em vigor”, afirmou


Judy Rabinovitz, advogada da


União Americana pelas Liber-


dades Civis (Aclu), que luta


contra o programa.


Pelo menos mil pessoas de-


volvidas pelo programa foram


atacadas ou ameaçadas no


México, de acordo com um rela-


tório da Human Rights Watch,


de fevereiro, que documentou


sequestros, estupros e agres-


sões. / AP e REUTERS


C


om uma série de vitórias na terça-fei-


ra – Michigan, Missouri, Mississippi


e Idaho –, Joe Biden parece estar


pronto para completar uma das reviravol-


tas mais marcantes na memória recente das


campanhas de suas três candidaturas presi-


denciais, encontrando-se na liderança ape-


nas 10 dias após sua primeira vitória esta-


dual. Sua notável virada resultou em banir


o senador Bernie Sanders para um poleiro


eleitoral familiar: um progressista insurgen-


te e esforçado contra o favorito do esta-


blishment.


O ex-vice-presidente americano venceu


no Sul, no Nordeste, no Meio-Oeste. Biden


ganhou em Estados grandes e pequenos.


Ganhou também em lugares onde sua força


com os negros poderia elegê-lo e em outros


Estados onde esses residentes são em me-


nor número e mais distantes entre si.


O controle de Biden é tão relevante ago-


ra que qualquer colapso provavelmente


exigiria uma reviravolta política tão acen-


tuada quanto a que precipitou sua ascen-


são. E, enquanto 2020 entra em uma fase


logisticamente incerta, com comícios can-


celados por temores de coronavírus e elei-


tores mais propensos a privilegiar uma li-


derança mais estável, Biden segue consis-


tentemente superando Sanders de uma ma-


neira que se tornou crucial: em quem deve-


mos confiar em tempos de crise, como mos-


tram as pesquisas.


As disputas da próxima semana incluem


Estados em que Biden, novamente, deve


ter um bom desempenho. Na Flórida, o


maior prêmio do mapa até o final de abril,


seu apelo aos eleitores moderados e mais


velhos, com a resistência a Sanders junto


aos cubano-americanos, faz com que Bi-


den esteja se preparando para levar delega-


dos aos montes.


Ao contrário de 2016, quando Sanders


estendeu sua disputa pessoal contra Hil-


lary Clinton com uma série de vitórias


em caucuses, um formato em que ele se


destacou, o calendário deste ano tem mui-


tas primárias mais tradicionais, oferecen-


do menos chances para que ele conquiste


delegados.


O resultado – por mais implausível que


pudesse parecer no mês passado, quando


Biden vacilou tanto em Iowa quanto em


New Hampshire (Estados em que os demo-


cratas do establishment se entregaram a


fantasias sobre uma convenção rachada,


para conter Sanders) – aponta para uma


corrida que pode estar chegando ao fim.


]


SÃO JORNALISTAS

lResistência


Suprema Corte autoriza Trump


a manter imigrantes no México


]


ANÁLISE: Matt Flegenheimer e Katie Glueck / THE NEW YORK TIMES


Reviravolta em apenas


10 dias deve levar a


uma primária curta


“Trump deve ser


derrotado. Na noite de


domingo, no primeiro


debate cara a cara desta


campanha, o povo


americano terá a chance de


definir qual é o melhor


candidato para conseguir


esse objetivo”


Bernie Sanders


CANDIDATO DEMOCRATA

CHARLIE RIEDEL/REUTERS-2/3/

Programa do governo


americano, que abriga


solicitantes de asilo no


país vizinho, vem sendo


contestado nos tribunais


Cerco. Carro patrulha a fronteira entre o México e os EUA


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