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A16 Internacional QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
V
ladimir Putin gosta de sur-
preender. Mais do que isso:
ele gosta de confundir. Co-
mo ex-agente da KGB, ele se sente
à vontade operando sob a neblina,
principalmente quando distorce a
lei – ou até mesmo quando traça
um plano político. É essencialmen-
te o que Putin vem fazendo há dois
meses, desde que anunciou mudan-
ças constitucionais que se desti-
nam a mantê-lo no poder depois
de 2024. A atual Constituição diz
que ele deverá deixar o cargo nesta
data. Mas, como indicou em 10 de
março, ele não tem a menor intenção
de fazê-lo.
Podemos perdoar os russos por se
sentirem tão confusos. Em 6 de março,
Putin disse a eles que não repetiria a ex-
periência dos líderes soviéticos que
morreram no cargo. “Gosto do meu tra-
balho, mas, para manter o poder que te-
nho, (teria de) concordar com algum
esquema que seria inaceitável para o
país (...) ou então destruí-lo.”
Quatro dias depois, ele fez o con-
trário, dizendo à Duma (parlamento)
que está disposto a reiniciar o reló-
gio dos limites do mandato presiden-
cial e pode continuar no cargo de-
pois de 2024. Assim, mais dois man-
datos de seis anos poderiam – caso
ele confirme sua intenção e vença as
reeleições – manter Putin na presi-
dência até 2036, quando ele terá 83
anos.
Putin ponderou e provavelmente re-
jeitou vários métodos para manter o
poder: fundir a Rússia com a Bielo-Rús-
sia e, então, governar um novo país;
presidir um conselho estatal supremo;
ou se tornar primeiro-ministro em um
novo sistema parlamentar. Quando
confrontado com uma dificuldade se-
melhante em 2008, ele simplesmente
trocou de emprego com Dimitri Med-
vedev, então primeiro-ministro. Desta
vez, ele parece ter escolhido o método
mais cruel, mas talvez o mais garanti-
do: mudar a Constituição e continuar
como presidente.
Suas declarações foram tão som-
brias quanto as emendas à Constitui-
ção, que são confusas e contradizem
outros artigos. A princípio, ele disse
que as medidas fortaleceriam os pode-
res do Parlamento e das regiões. Mas,
na verdade, as emendas concedem ao
presidente um poder quase absoluto,
reduzem ainda mais a autoridade dos
prefeitos eleitos e acabam com a pri-
mazia das normas internacionais so-
bre as leis russas.
Em uma ressurreição estilística das
monótonas sessões do Partido Comu-
nista, Valentina Tereshkova, parla-
mentar, disse que não havia sentido
em tentar erguer construções políti-
cas muito complicadas. Seria muito
melhor pedir a Vladimir Vladimirovi-
ch que continuasse na presidência, pa-
ra o bem do país.
Aproveitando a deixa, a Duma votou
a favor das emendas. Putin deve assi-
ná-las em 18 de março, sexto aniversá-
rio da anexação ilegal da Crimeia. Na-
turalmente, as mudanças na Constitui-
ção teriam de ser aprovadas pelo Tri-
bunal Constitucional, que ele contro-
la, bem como pelo povo russo.
Seu consentimento está marcado pa-
ra a data comemorativa do aniversário
de Lenin, em 22 de abril. Haverá “vota-
ção de todas as pessoas”, o que parece
não ser um referendo nem uma elei-
ção, mas sim uma vaga demonstra-
ção de apoio, sem base na lei russa,
provavelmente envolvendo algum
espetáculo televisionado.
O objetivo, porém, é dar à mano-
bra de Putin um ar de falsa legalida-
de. E, caso alguém pense em protes-
tar, as autoridades de Moscou proibi-
ram qualquer reunião de mais de 5
mil pessoas, sob a justificativa do co-
ronavírus, pelo menos até 10 de
abril.
Putin ofereceu algum consolo aos
muitos russos que estão fartos dele,
prometendo: “Não tenho dúvidas
de que chegará o dia em que o po-
der supremo e presidencial da Rús-
sia não será tão personalista”. Mas
não disse nada sobre quando esse
dia chegaria. / TRADUÇÃO DE RENATO
PRELORENTZOU
]
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LIMITED. DIREITOS RESERVADOS.
PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO
ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM
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O eterno reinado
do czar Putin
Presidente russo pretende mudar Constituição para se
manter no poder; manifestações estão proibidas na capital
EUA prendem
250 de cartel
mexicano
SANTIAGO
Estudantes, em sua maioria se-
cundaristas, protestaram on-
tem em vários pontos de Santia-
go, em uma onda de manifesta-
ções convocada em razão do se-
gundo aniversário do governo
do presidente conservador, Se-
bastian Piñera. Os protestos
também coincidem com os 30
anos da volta à democracia ao
Chile, após a ditadura de Augus-
to Pinochet (1973-1990).
“Não são 30 pesos, são 30
anos”, foi uma das frases mais
ouvidas durante as manifesta-
ções de ontem, em referência
ao descontentamento em razão
de uma indiferença às questões
sociais durante as três décadas
de governos democráticos cris-
tãos, socialistas e de direita que
se alternaram no poder desde a
queda de Pinochet.
Houve fortes confrontos fora
do Instituto Nacional, um em-
blemático colégio público no
centro de Santiago, que tem si-
do cenário de vários embates en-
tre estudantes e a polícia. Nas
manifestações de ontem, al-
guns alunos usaram um jaleco
branco e um capuz para cobrir
os rostos.
Em razão dos protestos, a im-
portante Avenida Alameda teve
o seu trânsito interrompido por
várias horas. Manifestações
também aconteceram em ou-
tros pontos de Santiago, em
meio a uma crise social que atin-
ge o país desde outubro.
O metrô de Santiago teve de
fechar várias de suas estações.
No entanto, a rede de transpor-
te público anunciou a suspen-
são somente de duas rotas que
seguiam para áreas ao sul de
Santiago.
“Nosso governo e esse presi-
dente precisam da ajuda de to-
dos os chilenos para superar es-
ses tempos difíceis e desafiado-
res”, disse Piñera, em uma ceri-
mônia no palácio presidencial
de La Moneda, que estava cerca-
do com forte esquema de segu-
rança. Os protestos também
ocorrem durante a campanha
pela mudança da Constituição,
que pode ser aprovada em ple-
biscito, marcado para abril. /
REUTERS e AFP
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Ataque à base
no Iraque mata
4 pessoas
Atos marcam 2 anos de governo Piñera e 30 de Pinochet
BAGDÁ
Dois soldados americanos e
um britânico, além de um fun-
cionário terceirizado dos EUA,
morreram ontem em uma ofen-
siva com 15 foguetes contra
uma base iraquiana em Taji,
norte de Bagdá, disse uma auto-
ridade militar dos EUA.
O ataque foi o 22.° contra for-
ças dos EUA no Iraque e o mais
fatal contra uma base de solda-
dos estrangeiros em vários
anos. Anteriormente, uma fon-
te da coalizão internacional ha-
via informado sobre vários sol-
dados com ferimentos que va-
riavam de “leve a crítico”.
O número de foguetes lança-
dos ontem foi alto. O ataque
não foi imediatamente reivindi-
cado, mas Washington quase
sempre atribui as ofensivas a
facções pró-iranianas que
atuam no Iraque. Em 2019, um
funcionário americano terceiri-
zado foi morto com foguete lan-
çado contra uma base militar
iraquiana em Kirkukinal. A mor-
te desencadeou uma série de re-
taliações contra forças pró-Irã.
Depois disso, as tensões en-
tre Washington e Teerã aumen-
taram, levando ao assassinato,
em Bagdá, do poderoso general
iraniano Qassim Suleimani, em
um ataque com drone america-
no. O revide veio com bombar-
deios iranianos a bases iraquia-
nas que hospedam soldados
dos EUA.
A coalizão internacional –
criada em 2014 para combater
o grupo jihadista Estado Islâmi-
co (EI) e liderada pelos Esta-
dos Unidos – é composta por
dezenas de países com milha-
res de soldados operando no
Iraque.
Embora o EI tenha perdido o
território de seu califado,
abrangendo o Iraque e a Síria,
ainda possui células clandesti-
nas na região. O Parlamento
iraquiano votou recentemente
pela expulsão de 5,2 mil solda-
dos dos EUA do país, uma deci-
são que foi rejeitada pelo gover-
no americano. / AP e AFP
WASHINGTON
A DEA (agência antidrogas dos
EUA) anunciou ontem a prisão
de 250 pessoas ligadas ao Car-
tel Jalisco Nova Geração
(CJNG), considerada a organi-
zação mais violenta do México.
Foram confiscados 20 mil qui-
los de drogas e US$ 22 milhões
em bens e propriedades nos úl-
timos meses, segundo autorida-
des americanas.
O objetivo, segundo a DEA, é
caçar Nemesio Oseguera Cer-
vantes, conhecido como “El
Mencho”, número um na lista
de narcotraficantes mexicanos
mais procurados pelos EUA. A
DEA oferece US$ 10 milhões
por informações que levem à
prisão de Mencho.
De acordo com a polícia, o
grupo foi preso quando fazia
uma espécie de reunião na Cali-
fórnia. Segundo o chefe interi-
no da DEA, Uttam Dhillon, ape-
nas ontem foram apreendidos
600 quilos de drogas e mais de
US$ 1,7 milhão (R$ 8,1 milhões)
com o grupo.
“Essa operação é uma das
maiores ações contra uma úni-
ca organização criminosa em
muitos anos”, disse Dhillon.
“Ao prender membros de nível
de chefia, médio e alto, inibi-
mos a capacidade do CJNG de
continuar a ameaçar nossas co-
munidades e bairros com suas
drogas mortais.”
No México, a notícia foi rece-
bida com ceticismo. “Eu vejo
com muitas reservas este tipo
de anúncio espetaculoso”, afir-
mou Alejandro Hope, ex-dire-
tor do Cisen, a agência antidro-
gas do México. “Isto já aconte-
ceu no passado e sempre signifi-
cou pouco.”
Guadalupe Correa Cabrera,
especialista em crime organiza-
do, disse que a operação pode
desarticular o CJNG, mas não
reduzirá o tráfico de drogas
nem a violência. “A triste reali-
dade é que, sempre que se des-
monta um cartel, surgem ou-
tros mais violentos como resul-
tado da fragmentação.” / AP e WP
PABLO SANHUEZA/REUTERS
Violência. Estudantes recebem jatos d’ água em Santiago
Três décadas após fim
da ditadura chilena,
Santiago é tomada por
confrontos de estudantes
com a polícia
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