O Estado de São Paulo (2020-03-12)

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A20 Metrópole QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


CASAMENTO NA


BAHIA VIRA FOCO


DA DOENÇA


Um dos que estiveram presentes está em casa


e relatou sentir ‘uma gripe normal, com febre’


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Ciro Campos


U


ma festa de casamen-


to em Itacaré, no sul


da Bahia, pode ter si-


do o foco de novos casos do


coronavírus no Brasil. A ceri-


mônia foi realizada no sába-


do e a noiva era a influencia-


dora digital Marcela Minelli,


irmã da também influencia-


dora Gabriela Pugliesi. Há pe-


lo menos dois casos confir-


mados da doença entre os


que participaram da festa e a


suspeita de, no mínimo, dez in-


fectados.


O Estado conversou com um


dos presentes à festa. Sob a con-


dição de anonimato, ele relatou


que nos últimos dias teve febre


e dores pelo corpo. Depois dis-


so, procurou um hospital e, pa-


ra confirmar a doença, passou


por três diferentes exames an-


teontem para a coleta de secre-


ção nasal. Pela grande demanda


de casos, o resultado só sairá


dentro de três dias e será envia-


do por e-mail.


“Sinto como se fosse uma gri-


pe normal, com febre de 38ºC e


dores pelo corpo. Estou repou-


sando em casa mesmo, mas


com muita tranquilidade”, dis-


se. O casamento reuniu cerca


de 500 pessoas. Fora a celebra-


ção, no sábado, os convidados


se reuniram também na noite


de sexta-feira. Boa parte voltou


para São Paulo em um mesmo


voo, que saiu de Ilhéus no do-


mingo.


Cunhado da noiva e marido


da influenciadora Gabriela Pu-


gliesi, Erasmo Viana publicou


ontem um vídeo no Instagram


confirmando a detecção do ví-


rus em alguns dos convidados.


“No casamento da Mazinha no


fim de semana tivemos duas


pessoas confirmadas. Isso dá


uma assustada, porque a gente


sabe que não é um negócio tão


grave”, disse Viana.


A própria Gabriela Pugliesi re-


velou no Instagram que está


com febre de 38,8ºC. No primei-


ro exame a que foi submetida,


acabou descartada a infecção


por influenza, vírus da gripe.


Ela espera agora a resposta fi-


nal das outras análises médi-


cas. Parte dos convidados bus-


cou assistência médica no Hos-


pital Albert Einstein, em São


Paulo.


O convidado disse saber de


pelo menos quatro casos confir-


mados da doença. Entre os pre-


sentes na festa de casamento,


há relatos de até 14 infectados.


A suspeita é que a origem da no-


va contaminação na Bahia é de


um convidado que anterior-


mente havia viajado para As-


pen, nos Estados Unidos.


Isolamento. Ele disse ter rece-


bido orientações médicas para


não sair de casa. “Vou trabalhar


de casa e evitar contato com as


outras pessoas. Vou até dormir


em um quarto separado. Estou


usando máscara e álcool em gel.


Se mais alguém que mora comi-


go tiver sintomas, vai ter de pro-


curar ajuda médica”, afirmou.


A orientação médica passada


ao convidado do casamento foi


que, em caso de contaminação


por coronavírus, é preciso per-


manecer em casa por 14 dias. A


internação só será necessária


caso a pessoa apresente compli-


cações, como falta de ar.


O convidado não possui ou-


tros fatores de risco, como hi-


pertensão e diabete, e tem me-


nos de 60 anos. O Estado não


conseguiu contato com a asses-


soria de imprensa da noiva.


Hotel de luxo. O resort que


recebeu o casamento publi-


cou um comunicado ontem


direcionado para hóspedes e


clientes. No texto, a direção


do Txai Resort Itacaré confir-


ma que um dos convidados


se hospedou no local e teve o


teste confirmado para o no-


vo coronavírus. Trata-se de


um morador de São Paulo,


de 26 anos, que esteve em As-


pen e apresentou como sinto-


mas febre e coriza.


“O Txai Resort Itacaré re-


cebeu cerca de 500 convida-


dos para um casamento, dos


quais 120 estavam hospeda-


dos em nosso hotel. Até o


presente momento, apenas


esse hóspede (convidado do


casamento) foi diagnostica-


do com o vírus”, diz o texto.


A empresa explicou que os


funcionários do hotel e ta-


xistas estão sendo monito-


rados.


Mateus Vargas / BRASÍLIA


Fabiana Cambricoli


“Vamos passar por isso.


Mais ou menos uns 5 meses


duros”, disse ao Estado on-


tem o ministro da Saúde,


Luiz Henrique Mandetta,


considerando o surto de co-


vid-19. O Brasil tinha até as


21h30 de ontem 69 casos con-


firmados do novo coronaví-


rus – o balanço do Ministério


da Saúde da tarde incluía 52


pacientes, mas outros infec-


tados foram confirmados pe-


lo Hospital Albert Einstein


(16) e pela Secretaria da Saú-


de da Bahia (1).


Segundo Mandetta, é difícil


apontar o momento em que o


limite de atendimento do Siste-


ma Único de Saúde (SUS) será


superado pelo avanço da doen-


ça, pois o País é “assimétrico”.


“O Rio de Janeiro aguenta mui-


to pouco. São Paulo aguenta um


pouco mais. O Paraná é nosso


melhor sistema, a melhor rede


de distribuição. O Acre não tem


nenhum caso. O Brasil é um con-


tinente”, disse.


Já o presidente Jair Bolsona-


ro afirmou ontem que ainda pre-


cisava falar com o ministro,


mas minimizou os efeitos da no-


va epidemia. “Não sou médico,


não sou infectologista. O que


ouvi até o momento, outras gri-


pes mataram mais do que essa.”


À espera das “duras sema-


nas”, Mandetta reuniu sua equi-


pe no fim de semana. Pediu um


mapeamento de hospitais, en-


fermarias e outras unidades de


saúde em que podem ser instala-


dos leitos para receber possí-


veis pacientes da nova doença.


O governo avalia, inclusive,


montar hospitais de campanha,


apurou o Estado.


O ministro também quer re-


petir a compra de equipamen-


tos já feita pelo governo. A ideia


é trazer mais álcool em gel, so-


ros, luvas e cerca de 20 milhões


de máscaras. Como os produ-


tos têm validade longa, se a de-


manda não for tão alta, ele conti-


nua estocado para outras oca-


siões. Como a demanda mun-


dial cresceu, porém, o preço das


máscaras importadas pelo go-


verno subiu de R$ 0,11 para R$ 2,


disse Mandetta.


O governo federal também


cobra que Estados revisem os


seus planos de contingência.


Mandetta reclamou, durante


audiência na Câmara, que al-


guns secretários apenas “copia-


ram e colaram” planos usados


no combate à pandemia de In-


fluenza A (H1N1), registrada há


mais de uma década. O minis-


tro afirmou que é hora, por


exemplo, de governos esta-


duais avaliarem mexer no calen-


dário de cirurgias eletivas para


que leitos fiquem livres.


Em outra frente, Mandetta e


sua equipe avaliam formas de


melhorar a triagem. Há uma dis-


cussão com especialistas sobre


criar orientações específicas pa-


ra telemedicina e atendimento


domiciliar, por exemplo. A


ideia é entregar os estudos até o


fim da próxima semana.


Relatos. O novo total de casos


é o dobro do oficial de terça-fei-


ra (34). Os 69 confirmados se


dividem em 46 em São Paulo (in-


cluindo os 16 confirmados pelo


Einstein após o balanço do mi-


nistério), 13 no Rio, 3 na Bahia


(incluindo um confirmado pela


Secretaria da Saúde após fecha-


mento do balanço federal), 2 no


Rio Grande do Sul, 2 no Distrito


Federal, 1 no Espírito Santo, 1


em Alagoas e 1 em Minas.


Já o número de pacientes sus-


peitos também subiu de 876 pa-


ra 907 – em todos os Estados e


no Distrito Federal – e outros


935 casos foram descartados.


Rio. O governador do Rio, Wil-


son Witzel (PSC), publicou em


edição extra do Diário Oficial on-


tem um decreto com medidas


para combater o coronavírus. A


norma prevê isolamento e qua-


rentena de pessoas suspeitas


ou diagnosticadas com a doen-


ça, mas não diz em quais cir-


cunstâncias essas medidas se-


rão adotadas. Isso deverá ser de-


finido pela Secretaria de Saúde.


Estão previstos, e ainda sem re-


gulamentação, exames médi-


cos, testes laboratoriais, crema-


ção e manejo de cadáver. /


COLABORARAM SANDRA MANFRINI,

EMILLY BEHNKE e FÁBIO GRELLET

O Hospital Israelita Albert Eins-


tein, na zona sul de São Paulo,


responsável pelo diagnóstico


do primeiro caso brasileiro de


coronavírus no Brasil em feve-


reiro, viu a demanda por testes


da doença quase dobrar em ape-


nas dois dias.


De acordo com a instituição,


o número de exames realizados


passou de 259 na segunda-feira


para 492 ontem. Com isso, o la-


boratório do Einstein está ope-


rando no limite, já que a capaci-


dade é de 450 a 500 testes de


coronavírus por dia.


Desde que começou a ofere-


cer o exame, em fevereiro, o hos-


pital privado já testou 2.429 pa-


cientes para a doença, dos quais


38 foram confirmados.


Segundo o presidente do


Einstein, Sidney Klajner, a


orientação para os pacientes é


que só busquem o teste se apre-


sentarem sintomas. Isso por-


que há pessoas procurando os


hospitais mesmo assintomáti-


cos, após retornarem de viagem


ou terem contato com algum ca-


so suspeito da doença.


“A recomendação é que se fa-


ça o teste apenas se tiver sinto-


mas primeiro porque é possível


ter um falso negativo e porque


temos limitação de reagentes.


Se tivermos uma testagem in-


discriminada, podem faltar rea-


gentes”, declarou. O insumo é


importado.


Rede pública. Klajner revelou


ainda que o hospital privado vai


auxiliar a rede pública de saúde


durante a crise causada pelo co-


ronavírus com a gestão de lei-


tos e consultas a distância.


“Já tínhamos um projeto com


o SUS (Sistema Único de Saúde)


para auxiliar municípios da Re-


gião Norte com telemedicina.


Agora, com a situação de coro-


navírus, esse auxílio será foca-


do na questão do diagnóstico e


atendimento de eventuais pa-


cientes com coronavírus que


procurarem as unidades bási-


cas de saúde. Não há pneumolo-


gistas lá”, diz ele.


Outros quatro hospitais pri-


vados de excelência (HCor, Sí-


rio-Libanês e Oswaldo Cruz, de


São Paulo, e o Moinhos de Ven-


to, de Porto Alegre), participan-


tes do Programa de Apoio ao De-


senvolvimento Institucional


do SUS, anunciaram medidas


para ajudar a conter o novo co-


ronavírus.


Entre as iniciativas que fa-


zem parte do acordo com o Mi-


nistério da Saúde estão: ações


de telemedicina, suporte clíni-


co e manejo de estratégias de


prevenção e contenção do avan-


ço da doença no País. /F.C. e


GIOVANA GIRARDI

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lIsolamento domiciliar


Governo já avalia montar hospitais de campanha e pede a Estados


para revisar planos; o número de infectados dobrou em um só dia


Asa Norte.


Hospital


em Brasília


tem caso de


coronavírus


Plano inclui até


cortar cirurgias


Em apenas um dia, Hospital Albert Einstein faz 492 testes


Governo só cria 10% dos leitos que haviam sido prometidos em janeiro. Pág. A21 }


“Vou trabalhar de casa e


evitar contato com outras


pessoas. Vou até dormir em


quarto separado. Estou


usando máscara e álcool em


gel. Se mais alguém que


mora comigo tiver sintoma,


vai ter de procurar ajuda.”


CONVIDADO COM SUSPEITA

DE TER CORONAVÍRUS

Ministro prevê 20


semanas de surto;


casos chegam a 69


500 pessoas


Os planos estaduais de con-


tingência contra o coronaví-


rus, segundo o Estado mos-


trou este mês, envolvem a


contratação de equipes


médicas extras para atendi-


mento domiciliar e até a sus-


pensão de tratamentos e ci-


rurgias agendadas para a li-


berar leitos, em caso de agra-


vamento do surto. Governa-


dores ainda pleiteiam repas-


ses adicionais da União.


PARA LEMBRAR


Número quase que


dobrou em 24 horas


e laboratório da capital


paulista já está


operando no limite


O Hospital Albert Einstein


confirmou o primeiro caso


de coronavírus do País, em


fevereiro. Trata-se de um


homem de 61 anos que havia


retornado da Itália. À época,


o presidente do Einstein re-


latou que, mesmo com a pre-


paração interna, o hospital


teve de enfrentar situações


de medo e desinformação.


PARA LEMBRAR


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