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B6 Economia QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
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Marginal da Via Dutra, km 224 - Guarulhos/SP.
Idiana Tomazelli
Anne Warth / BRASÍLIA
A Secretaria de Política Econô-
mica (SPE) do Ministério da
Economia revisou sua expecta-
tiva para o crescimento da eco-
nomia brasileira em 2020. A no-
va projeção é de alta de 2,1% no
Produto Interno Bruto (PIB) es-
te ano. Antes, a estimativa era
de avanço de 2,4%.
Na segunda-feira, os analis-
tas do mercado financeiro redu-
ziram, pela primeira vez, a esti-
mativa de crescimento da eco-
nomia brasileira para um pata-
mar abaixo de 2% em 2020. De
acordo com o relatório Focus,
divulgado pelo Banco Central, a
projeção passou de 2,17% para
1,99%.
Ainda ontem, o Bank of Ame-
rica Merrill Lynch (BofA) vol-
tou a cortar sua projeção de
crescimento do Brasil este ano,
de 1,9% para 1,5%. No fim de fe-
vereiro, o banco americano já
havia feito uma redução, de
2,2% para 1,9%. A justificativa
para os cortes é o efeito do coro-
navírus na atividade, além ago-
ra da guerra do petróleo.
O UBS Brasil também, on-
tem, reduziu novamente a pro-
jeção para o PIB neste ano, de
2,1% para 1,3%, com a dissemina-
ção do surto de coronavírus pe-
lo mundo. No início de feverei-
ro, o banco já havia revisado a
estimativa de 2,50% para 2,10%.
A nova previsão do Ministé-
rio da Economia foi anunciada
em um momento de incerteza
sobre o desempenho da ativida-
de econômica diante do avanço
do novo coronavírus. O dado
faz parte da nova grade de parâ-
metros que a equipe econômica
utilizará para reestimar recei-
tas e despesas do Orçamento.
Essa revisão será anunciada até
dia 22.
A arrecadação federal foi pro-
jetada com base em uma expec-
tativa de crescimento de 2,32%
em 2020. O secretário especial
de Fazenda, Waldery Rodri-
gues, admitiu na terça-feira que
a retomada mais lenta deve
comprometer as receitas e le-
var a um bloqueio de despesas
no Orçamento para evitar o des-
cumprimento da meta fiscal,
que permite déficit de até R$
124,1 bilhões.
Petróleo. Outro parâmetro
que deve influenciar a queda
nas receitas é o choque nos pre-
ços do petróleo no mercado in-
ternacional. A lei orçamentária
foi formulada com base em uma
expectativa de cotação média
de US$ 58,96 por barril de petró-
leo Brent, mas a commodity en-
cerrou o pregão de ontem a US$
37,22. O governo não trouxe pro-
jeções sobre o petróleo no rela-
tório.
O governo também deve reti-
rar da conta os R$ 16,2 bilhões
esperados com a privatização
da Eletrobrás, cujo projeto ain-
da não avançou no Congresso.
Para o Índice Nacional de Pre-
ços ao Consumidor (INPC) em
2020, o governo revisou sua pro-
jeção de 3,73% para 3,28%. O in-
dicador serve de referência pa-
ra a correção do salário míni-
mo, que por sua vez afeta o va-
lor de dois terços dos benefí-
cios pagos pelo INSS, além de
gastos com abono salarial e as-
sistência social. O resultado do
INPC de 2020 será aplicado na
correção do salário mínimo, ho-
je em R$ 1.045, no ano de 2021.
Impacto. Num momento de in-
certezas sobre o impacto do
avanço do coronavírus sobre a
atividade econômica, a secreta-
ria traçou diferentes cenários
para o contexto brasileiro e, em
seu cenário-base, vê a possibili-
dade de um efeito negativo de
0,3 ponto porcentual no cresci-
mento do PIB.
Risco global. Pandemia teve origem na China, a segunda maior economia mundial
NICOLAS ASFOURI /AFP
Adriana Fernandes / BRASÍLIA
Os bancos públicos – Caixa,
Banco do Brasil e BNDES –
têm um arsenal de pelo me-
nos R$ 207,8 bilhões de recur-
sos para emprestar a empre-
sas e pessoas físicas. A oferta
de crédito abundante é uma
das linhas de ação do minis-
tro da Economia, Paulo Gue-
des, para enfrentar o impacto
na economia da pandemia do
coronavírus, que pode tirar
0,5 ponto porcentual do PIB.
A orientação de Guedes é que
a comunicação de que há crédi-
to abundante neste momento
deve ser feita pelos bancos para
seus clientes. O BB prevê um au-
mento do crédito de R$ 57, 8 bi-
lhões e a Caixa de R$ 50 bilhões.
Já o BNDES R$ 100 bilhões de
recursos para liberar.
Sem espaço no Orçamento
para estímulos do lado da despe-
sa, a equipe econômica conside-
ra a principal resposta à crise do
coronavírus virá pelo lado mo-
netário. O Banco Central (BC)
está pronto para anunciar nova
liberação dos depósitos com-
pulsórios, recursos que os ban-
cos são obrigados a deixar no
BC. Atualmente, há R$ 380 bi-
lhões em compulsórios.
O presidente do Banco Cen-
tral, Roberto Campos Neto,
tem ainda um cardápio de ins-
trumentos financeiros à disposi-
ção para serem acionados. Uma
fonte da equipe econômica ava-
liou que, se não há espaço fiscal
para ampliar os gastos neste mo-
mento da crise do coronavírus,
como nos países que estão anun-
ciando medidas de flexibiliza-
ção fiscal, o Brasil tem espaço
monetário para expandir.
Mesmo diante da pressão por
todos os lados, inclusive de lide-
ranças do próprio governo, Gue-
des já deixou claro que não está
na sua cartilha a adoção de ins-
trumentos de estímulo fiscal
nos moldes dos que foram ado-
tados pelos governos do PT. A
auxiliares repete que o “corona-
vírus não vai derrubar a econo-
mia”. Na avaliação da equipe
econômica, não há risco de re-
cessão. Para Guedes, o dólar
mais alto vai estimular as expor-
tações e ajudar na redução da
dívida com a venda de reservas.
O ministro da Economia, po-
rém, acenou para o Congresso
uma “arma secreta” de estímulo
para beneficiar os mais pobres
para ser acionada assim que an-
dar algum dos projetos da sua
agenda econômica. Essa garan-
tia foi dada aos líderes do gover-
no que pressionaram o Ministé-
rio da Economia por medidas de
estímulo ao crescimento.
Guedes e sua equipe resistem
com o argumento de que é preci-
so avançar nas reformas porque
há muitos investimentos que es-
tão andando no País e depen-
dem de votação de projetos do
Congresso, como o novo marco
regulatório do saneamento.
FGTS. Medidas de aumento de
tributos estão completamente
descartadas pela equipe econô-
mica. Em outra frente, o gover-
no estuda a possibilidade de o
FGTS ser usado como garantia
das operações com cartão de
crédito. A informação é do se-
cretário de Política Econômica
do Ministério da Economia,
Adolfo Sachsida, que não deu,
no entanto, prazos para a medi-
da poder ser anunciada nem de-
talhou que tipo de transação se-
ria beneficiada. Segundo ele, as
taxas astronômicas do cartão
de crédito poderão cair bastan-
te com a garantia dos recursos
do fundo.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
lPara o crédito
lFraqueza
1,99%
é a última previsão para o PIB
brasileiro este ano apontada no
relatório Focus, divulgado na se-
gunda-feira pelo Banco Central;
antes a previsão era de um
crescimento de 2,17%
Aumento de casos no País, muda rotina de empresas. Pág. B13}
R$ 100 bi
é quanto o BNDES tem de recur-
sos em caixa para liberar para o
crédito; a Caixa dispõe de pelo
menos R$ 50 bilhões e o Banco
do Brasil pode usar R$ 58 bi
Bancos públicos têm R$ 208 bi para enfrentar crise
Guedes quer recursos para emprestar para empresas e pessoas físicas para amenizar impacto na economia da pandemia do coronavírus
Revisão foi anunciada em
momento de incerteza
sobre o desempenho da
atividade econômica e do
avanço do coronavírus
Governo reduz projeção para alta
do PIB deste ano de 2,4% para 2,1%
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