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B16 Economia QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
CHOCOLAT FESTIVAL SP
O
s bancos da Faria Li-
ma estão economi-
zando nos cumpri-
mentos desde que o coronaví-
rus desembarcou no princi-
pal corredor financeiro do
País. Três casos foram regis-
trados na região: dois na XP e
um no escritório da CSN.
“Aqui estamos evitando bei-
jo, abraço e aperto de mão até
esse surto passar”, disse um
alto executivo de um banco
de investimento ao Estado.
As saudações e as despedi-
das com clientes nos bancos
são cordiais, mas sem contato
físico. As salas estão paramen-
tadas com álcool gel e a pala-
vra de ordem é lavar as mãos.
No escritório de advoca-
cia L.O. Baptista, na Avenida
Paulista, a orientação é a
mesma. A banca também pe-
diu que os funcionários não
usem os sensores digitais pa-
ra abrir as portas e limpem
objetos de uso frequentes,
como canetas, telefones e ce-
lulares. Na startup Revelo,
também na Paulista, todas
as salas ficam com as portas
abertas para evitar toques
nas maçanetas./MÔNICA
SCARAMUZZO, RENÉE PEREIRA E
BRUNO CAPELAS
Ana Paula Boni
Negócios de chocolate têm na
Páscoa a cesta dos ovos de ouro.
No microcosmo das marcas
que fazem chocolate do zero,
sem escala industrial, o ovo ain-
da tem outra conotação, além
do incremento no faturamen-
to. Ele ajuda a divulgar um pro-
duto especial feito com cacau
nacional em pequenos lotes e
de qualidade superior: o choco-
late “bean to bar” (feito desde a
amêndoa), que em geral identi-
fica a origem do cacau.
Empreendedores do ramo
apostam numa clientela já fiel
que quer dar o ovo de presente
para que o chocolate – que cus-
ta em média três vezes o valor
de um industrial – ganhe novos
adeptos. A formação do paladar
para um produto de alta comple-
xidade de sabores é movimento
similar ao que já aconteceu com
o café e a cerveja. Essa é a aposta
de marcas como as paulistanas
Majucau e Bia Szasz, que es-
treiam na Páscoa neste ano.
“A gente acredita que é uma
forma de atingir pessoas que
não conhecem o chocolate
‘bean to bar’. Que pode depois
virar cliente”, conta a técnica
de enfermagem Mariana Basau-
re, que ao lado do marido, Paulo
da Silva Júnior, lançou no ano
passado a marca Majucau.
Para a Páscoa, o casal prepa-
rou um ovo de 350g de chocola-
te com teor de 70% cacau (R$
- e espera um incremento
de cerca de 30% no faturamen-
to. A marca, que usa cacau espe-
cial do Vale Potumujú (BA), aca-
bou de sair de casa (onde eram
feitos cerca de 90 kg por mês)
para um espaço novo. Na fábri-
ca, a expectativa é dobrar a pro-
dução nos próximos meses, tal-
vez triplicar até o fim do ano,
diante da alta demanda. Parte
se deve a uma parceria com a
rede de cafeterias Il Barista, que
em suas lojas em São Paulo ven-
de uma barra exclusiva da Maju-
cau com café. Além do Il Baris-
ta, a marca vende em empórios
da capital paulista.
No caso de Bia Szasz, que tam-
bém lançou a marca no ano pas-
sado e produz o chocolate com
cacau do Pará, a expectativa é
dobrar o faturamento nesta Pás-
coa. A parceria com uma loja de
cerâmicas de São Paulo deve aju-
dar a escoar a produção dos
ovos – para um público novo.
“Acho que a Páscoa vai ser po-
sitiva porque tem muita gente
fazendo ovo ‘bean to bar’. Va-
mos educar mais pessoas. A
maioria não sabe a diferença en-
tre fazer chocolate e trabalhar
com chocolate”, diz ela, em refe-
rência a empreendedores que
usam chocolate pronto para
derreter e formatar ovos.
Desafios. No caso de quem faz
o chocolate do zero, são relata-
das dificuldades na produção
por conta das características do
produto: pequenos lotes de ca-
cau resultam em lotes diferen-
tes de chocolate, sem a padroni-
zação em larga escala da indús-
tria, além de a densidade da mas-
sa com poucos ingredientes
(em geral, leva só cacau e açú-
car) dificultar a manipulação.
“Na indústria, existe um pa-
drão de fluidez. Com o ‘bean to
bar’, cada lote dá um chocolate
diferente. Temos ajustes de re-
ceitas o tempo todo”, diz a vete-
rana Bibiana Schneider, da curi-
tibana Cuore di Cacao.
Foi em 2013 que ela lançou
ovos de chocolate “bean to
bar”, sendo uma das pioneiras
do Brasil nesse nicho, atrás de
Chokolah (SP) e Cacau do Céu
(BA). Para este ano, são cerca
de 20 produtos de Páscoa da
Cuore di Cacao, com os quais
Bibiana espera um crescimento
de 30% no faturamento. “A gen-
te começa a trabalhar o concei-
to da coleção em outubro. Até
dezembro são feitos os testes
para validar as receitas”, conta
ela, que processa uma média de
350 kg de chocolate por mês.
As vendas da marca se con-
centram em lojas do Sul, mas
alguns produtos estarão de ho-
je a domingo em São Paulo, no
Chocolat Festival. A Cuore esta-
rá no estande da Associação
Bean to Bar Brasil ao lado de
marcas como Mestiço e Gallet-
te. Pela segunda vez em São Pau-
lo, o festival reunirá em quatro
dias cerca de 70 expositores.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
SEM BEIJO, ABRAÇO
E APERTO DE MÃO
Marcas usam Páscoa como cartão de visitas
ORIENTAÇÕES PARA AS EMPRESAS LIDAREM COM O CORONAVÍRUS
De 12 a 15/3, no Pavilhão da Bienal
(Parque do Ibirapuera). Mais informações
em https://saopaulo.chocolatfestival.com.
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
WERTHER SANTANA/ESTADÃO -1/11/2019
Pandemia. Corredor financeiro registrou três casos
Prevenção
Bancos da Faria Lima evitam cumprimentos
Pequenos negócios de
chocolate ‘bean to bar’
aproveitam potencial
dos ovos como presente
para formar público
Estreante. Mariana Basaure, da marca Majucau, que faz chocolate com cacau da Bahia
Diante da incerteza sobre o
avanço do coronavírus, gesto-
res de risco alertam que empre-
sas precisam se prevenir contra
possíveis interrupções de forne-
cimento de matéria-prima, afas-
tamento de funcionários e ins-
tabilidade do mercado.
Para o sócio da assessoria de
riscos da Deloitte, Anselmo
Bonservizzi, muitas compa-
nhias brasileiras não estão sufi-
cientemente preparadas para o
agravamento da crise. “Essas
empresas talvez estejam espe-
rando algo acontecer, como
um caso de contaminação na
equipe. O fato é que todas já
deveriam estar preparadas, in-
clusive aplicando protocolos
de conduta em alguma exten-
são”, afirma.
Bonservizzi explica que a
preparação para medidas mais
duras de combate ao vírus, co-
mo um eventual decreto de
quarentena, é essencial para
manter a coesão interna da em-
presa e resolver problemas
sem desespero: “Não é um mo-
mento de pânico, é um momen-
to de preparação”. Abaixo, o
gestor de risco listou os princi-
pais pontos para as compa-
nhias lidarem com a pandemia.
Proteja seus funcionários
Bonservizzi sugere a cria-
ção de protocolos para
segurança dos funcionários e
adoção do trabalho remoto
como alternativa na dinâmica
da empresa. “Num caso mais
grave, vamos imaginar se o
governo toma alguma medida
drástica de decretar uma qua-
rentena: todas as pessoas vão
ter de ficar em casa. As empre-
sas precisam estar preparadas
para o trabalho remoto, mas
muitas delas não estão.”
Monte uma equipe de
emergência
A Deloitte indica a for-
mação de um time para solu-
cionar questões relacionadas
à crise. A equipe tem de estar
preparada para falta de diri-
gentes da empresa, por exem-
plo. “É importante que tenha
um ponto focal para coorde-
nar as ações da empresa, e
não adianta deixar isso espa-
lhado entre os funcionários.
Na maioria dos planos de su-
cessão, eu penso na falta de
individual do presidente, de
um diretor. Mas se faltar mais
de um, como fica a empresa?
E se faltarem funcionários-
chave para o desenvolvimento
da atividade, como fica minha
atividade econômica? Esse ti-
me deve estar preparado para
solucionar questões assim”,
diz Bonservizzi.
Avalie a estabilidade da
condição financeira
Para o assessor, os ges-
tores devem se prevenir caso
ocorra um período longo de
crise econômica por causa da
propagação do coronavírus.
“Como a gente não sabe o ho-
rizonte do vírus, quanto tem-
po isso vai ficar na nossa eco-
nomia, os diretores devem se
perguntar: ‘Qual é a liquidez
financeira que eu tenho para
suportar ou atravessar esse
período que virá à frente?’ De
forma que se consiga enxergar
e dizer, por exemplo: ‘Eu te-
nho caixa suficiente para três
meses, será que eu vou preci-
sar de linha de crédito? É hora
de contratar ou não?’, entre
outras questões”, afirma.
Avalie a situação dos
fornecedores
Bonservizzi aconselha
que as companhias definam
alternativas para a eventual
falta ou paralisação de um ou
mais fornecedores envolvi-
dos na atividade econômica.
“Tenho visto várias empre-
sas preocupadas com sua ca-
deia de suprimentos. Quais
são os planos que essas em-
presas e seus fornecedores
possuem para manter a ativi-
dade funcionando? Essa é
uma questão bastante impor-
tante e muitas das empresas
têm um certo grau de prepa-
ração para isso, mas dado o
número de companhias que
podem ter problemas, a ex-
tensão do impacto me preo-
cupa. Um único fornecedor
pode ser um grande proble-
ma para você.”
Defina a estratégia de
relacionamento com
clientes
Em casos que a crise afete a
entrega de produtos e servi-
ços, o consultor defende a
priorização de clientes e o es-
tabelecimento de um canal
eficaz para minimizar as per-
das. “Por exemplo: ‘Será que
vou ter de priorizar alguns
clientes no lugar de outros?
Quais serão os critérios para
que isso seja feito?’ É um pon-
to bastante essencial, porque
pode envolver escolhas que
causam impacto muito grande
para você lá na frente. É mui-
to importante avaliar o que se
pode ou não fazer neste mo-
mento.”
Teste os protocolos de-
senvolvidos
O assessor de riscos
sugere que as empresas tes-
tem os protocolos para iden-
tificar possíveis falhas e me-
lhorias. “As empresas preci-
sam praticar esses planos: o
trabalho remoto, a cadeia de
fornecedores, o ponto de li-
quidez. Se você não praticar
desde agora, você não vai
identificar os gargalos do pro-
cesso, e o plano vai provavel-
mente falhar na hora H. Você
pode se preparar muito, se
você não praticar, não testar,
você não poder saber se real-
mente funciona ou não.” /
LUÍSA LAVAL
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