O Estado de São Paulo (2020-03-12)

(Antfer) #1

Eliana Silva de Souza


PROCURANDO RESPOSTAS


Produção da Globoplay, Ma-


rielle – O Documentário terá


exibição do primeiro episódio


nesta quinta, 12, na Globo,


após o BBB. O assassinato da


vereadora do Rio Marielle


Franco e de seu motorista An-


derson Gomes ocorreu em 14


de março de 2018, e ainda não


se tem resposta sobre quem


foi o mandante da ação. Neste


dia, o carro em que eles esta-


vam foi alvejado e apenas a


assessora Fernanda Chaves


sobreviveu. O que se tem de


concreto até o momento é a


prisão de dois acusados, o poli-


cial militar reformado Ronnie


Lessa e o ex-PM Élcio Quei-


róz, que vão a júri popular. A


série em seis episódios estreia


sexta, 13, no Globoplay, com


direção de Caio Cavechini.


GENTE QUE FAZ


A TV Cultura apresenta nesta


quinta, 12, às 23h45, a série


Cientistas Brasileiros Entre os


Melhores. Misturando lingua-


gens, entre documental e fic-


ção, produção mostra os profis-


sionais que representam uma


parte da elite científica do


País, relatando descobertas


que tiveram reconhecimento


internacional. Nesta primeira


edição, destaque para o traba-


lho do Dr. Rochel Lago. O pro-


fessor da Universidade Fede-


ral de Minas Gerais pesquisa


soluções de problemas da in-


dústria relacionados com de-


sastres ambientais.


POESIA É VIDA


Um documentário sobre Tor-


quato Neto vai estrear no Ca-


nal Curta! ainda este ano. Pa-


ra realização, foram usadas


informações da revista Navilou-


ca, do filme Terror da Verme-


lha, entre outras iniciativas


vanguardistas realizadas nos


últimos três anos de vida do


jornalista, letrista, ajudando


a compor o filme Torquato –


Imagem da Incompletude, que


tem direção de Danilo e Gu-


ga Carvalho.


CARA DO BRASIL


O ator Luciano Amaral, nos-


so eterno Lucas Silva e Silva


da série Mundo da Lua, foi


escolhido como novo embai-


xador da franquia Marvel no


Brasil. O também apresenta-


dor esportivo e gamer vai


atuar como consultor da mar-


ca em nome do público.


PELOS SUBMUNDOS


Uma das novas séries da


HBO, Entre Homens (foto)


vai estrear no dia 19 de abril


às 20h, no canal. Produção


argentina terá quatro episó-


dios e será ambientada na


década de 1990, tendo como


cenário o submundo subter-


râneo de Buenos Aires, on-


de não há diferença entre


santos e pecadores. E algo


deu errado, um assassinato


que deve ser encoberto e


um vídeo perdido levará a


um caminho de vingança,


sangue e ilegalidade. Baseada


no livro de Germán Maggio-


ri, tem no elenco Gabriel


Goity, Nicolás Furtado, Die-


go Velázquez, Diego Cremo-


nesi e Claudio Rissi. Direção


de Pablo Fendri.


‘Assombro’.


Comédia de


Felipe Joffily


traz Georgia-


na Góes e Feli-


pe Abib como


casal que se-


rá assombra-


do por fantas-


mas irreveren-


tes interpreta-


dos por Rita


von Hunty,


Gabriel Go-


doy e Renata


Gaspar.


No


cinema


Assassinos Substitutos/


Replacement Killers


(EUA, 1998.) Dir. de Antoine Fuqua,


com Chow Yun-fat, Mira Sorvino,


Michael Rooker, Danny Trejo, Jur-


gen Prochnow.


Papillon/


Papillon


(EUA, 2017.) Dir. de Michael


Noer, rot. de Aaron Guzikowski,


com Charlie Hunnam, Rami


Malek, Henri Charrière, Eve


Hewson, Michael Socha.


Astro dos filmes de John Woo


na sua fase em Hong-Kong,


Chow Yun-fat faz assassino


profissional que se recusa a


matar crianças e fica com a ca-


beça a prêmio. O diretor Fu-


qua estava começando, mas já


era bom. Virou um dos gran-


des de ação de Hollywood, ve-


ja-se Dia de Treinamento.


TCM, 15H32. COLORIDO, 87 MIN.

Luiz Carlos Merten


Remake da obra homôni-


ma de 1973, Papillon coloca


Charlie Hunnam e Rami


Malek – antes do Oscar,


que recebeu por Bohemian


Rhapsody – nos papéis imor-


talizados por Steve Mc-


Queen e Dustin Hoffman.


A nova versão é mais violen-


ta e começa antes da depor-


tação do protagonista para


a prisão da Ilha do Diabo,


de onde tentará, a todo cus-


to, fugir.


TEL. PIPOCA, 19H40. 133 MIN.

Praia do


Futuro


(Brasil, 2014.) Dir. de Karim Aïnouz,


com Wagner Moura, Jesuíta Barbo-


sa, Clemens Shick, Sabine Timoteo,


Sophie Charlotte Conrad.


Grande criador de persona-


gens femininas (O Céu de Suely,


Abismo Prateado, A Vida Invisí-


vel), Karim Aïnouz nunca foi


melhor do que ao contar essa


história de garoto que procura


o irmão na Alemanha. Desco-


bre que ele, interpretado por


Wagner ‘Tropa de Elite’ Moura,


saiu do armário.


C. BRASIL, 22H. COLORIDO, 107 MIN.

Mariane Morisawa


ESPECIAL PARA O ESTADO


ZURIQUE


Para a maioria das pessoas,


Jean Seberg é a estrela de Acos-


sado (1960), de Jean-Luc Go-


dard, e cara da nouvelle vague.


Para Kristen Stewart, também.


“Eu amava sua atuação no fil-


me. Eu só a conhecia por meio


daquele filme. Não sabia muito


de sua carreira. Sempre a imagi-


nei como essa jovem contagian-


te e cool e ícone de estilo na


nouvelle vague dos anos 1960”,


disse a atriz em entrevista ao


Estado, em Zurique. Mas tudo


mudou quando ela recebeu o ro-


teiro de Seberg Contra Todos, es-


crito por Joe Shrapnel e Anna


Waterhouse e dirigido por Be-


nedict Andrews, em cartaz nos


cinemas. “Fiquei chocada ao


descobrir que sua história foi


enterrada com tanto sucesso e


tão ironicamente. Foi frustran-


te ver como eles venceram de


maneira tão extraordinária.”


“Eles”, no caso, são o governo


americano e o FBI, que vigia-


ram e ameaçaram a atriz por


seu envolvimento com o movi-


mento pelos direitos civis – ela


teve um relacionamento com


Hakim Jamal (Anthony


Mackie), que era meio indepen-


dente, mas dialogava com os


Panteras Negras.


No filme, a perseguição a


Jean Seberg ganha nome e cara


fictícios: os agentes Carl


Kowalski (Vince Vaughn) e Jack


Solomon (Jack O’Connell). So-


lomon é um jovem agente, re-


cém-casado com Linette (inter-


pretada pela sensação do mo-


mento Margaret Qualley), se-


dento de se provar no novo em-


prego, mas que ainda é afetado


por seus próprios atos.


“O escrutínio público pelo


qual ela passou foi resultado de


ataques maldosos do governo


americano”, disse Stewart, recu-


sando qualquer comparação


com o que sofreu pessoalmen-


te, especialmente na época de


Crepúsculo e do romance com


Robert Pattinson. “Vivi uma


versão bem insignificante dis-


so. Mas eu me identifico com


ela porque, antes de se tornar


uma ativista, ela era meio esqui-


sitona”, explica. “Ela não atua-


va da maneira como as pessoas


esperavam na época. E nem


sempre foi querida. As pessoas


não gostavam dela. E ela sem-


pre estava tão presente. Suas


atuações são imprevisíveis, não


dá para saber o que ela vai fa-


zer.” Stewart, como Seberg,


também encontrou no cinema


francês um porto seguro, ga-


nhando um César por Acima das


Nuvens, de Olivier Assayas.


Benedict Andrews, que vem


do teatro e dirige seu segundo


longa, afirmou que não queria


fazer uma biografia tradicio-


nal. “Queria que o filme tivesse


a intimidade de uma história


de amor combinada com a ten-


são de um thriller.”


Olhar contemporâneo. Para


ele, tampouco fazia sentido rea-


lizar uma produção de época.


“Não queria que fosse nostálgi-


co, nem que apresentasse o que


já conhecemos, ou uma fantasia


dos anos 1960. Meu desejo era


filmar como se fosse uma histó-


ria contemporânea”, revela.


“Assim olhamos para 1969 co-


mo uma maneira de falar de


2019, porque vemos hoje os


mesmos ingredientes dessa cul-


tura de vigilância.”


Kristen Stewart percebeu a


contemporaneidade de alguns


temas, como a maneira como


Jean Seberg era percebida co-


mo promíscua apenas por ser


mulher. “Ela era a senhora do


seu destino, fazia suas escolhas.


E era julgada por isso, o que


acontece até hoje com as mulhe-


res que agem da mesma forma.”


Benedict Andrews também


teve o cuidado de não transfor-


mar Jean Seberg numa santa e


uma salvadora branca dos ne-


gros. “Toda a questão do movi-


mento pelos direitos civis e dos


Panteras Negras é muito com-


plexa. O ativismo de Jean tam-


bém era algo delicado, então


não queria transformá-la numa


heroína sem falhas. O público


vai perceber suas fragilidades.”


Num dado momento, Seberg


é chamada de “turista” por Do-


rothy Jamal (Zazie Beetz), a mu-


lher de Hakim, por seu envolvi-


mento com a causa – ela, afinal,


não vivia da mesma forma o pre-


conceito e a violência. “Ela era


muito idealista e acredito que


sincera, mas tinha uma posição


de privilégio”, disse Andrews.


Sempre vigiada e seguida,


Jean Seberg vai entrando numa


espiral de desespero e é chama-


da de paranoica. Kristen


Stewart acha que, por esse moti-


vo, foi um privilégio interpretá-


la. “É como se eu pudesse con-


tar a história que ela nunca pô-


de contar. Porque a ideia de que


ela se tornou essa atriz desem-


pregada e excêntrica, que se mu-


dou para a França e cometeu sui-


cídio, é muito errada”, disse a


atriz. “Se eu tivesse oportunida-


de de encontrá-la hoje, diria:


‘Você não estava louca, esta-


vam mesmo a perseguindo’.”


DESTAQUE


O


rosto de Jean Seberg tornou-se um íco-


ne ao aparecer em Acossado (1960), de


Jean-Luc Godard, um dos filmes deto-


nadores da nouvelle vague francesa. Mas em


Seberg Contra Todos, cinebiografia ficcional de Be-


nedict Andrew, esse papel fundamental na filmo-


grafia da norte-americana aparece apenas de pas-


sagem. Mesmo sobre sua estreia, como a Joana


D’Arc de Otto Preminger, em 1957, o filme é la-


cônico. Só o aborda quando a atriz exibe as cicatri-


zes deixadas por um acidente na cena da fogueira.


Na verdade, o filme concentra-se numa fase


posterior de Jean Seberg, mais crítica e mais trau-


mática. É quando ela, casada com o escritor Ro-


main Gary, resolve abraçar a causa do movimen-


to negro norte-americano. Torna-se amante de


Hakim Jamal (Anthony Mackey), ativista dos


Panteras Negras, que conhece num voo Paris-No-


va York. Essa ligação é tratada de forma ambígua


nas biografias da atriz, mas no filme aparece co-


mo verdade incontestável.


Fora de dúvidas, porém, é aquilo que constitui


o cerne da história: a perseguição à atriz, movida


pelo FBI (comandado pelo famigerado J. Edgard


Hoover), e que produziu abalo fatal a um já precá-


rio equilíbrio psicológico. No contexto do final


dos anos 1960, expor o envolvimento entre Se-


berg e Jamal era uma tacada certeira do FBI con-


tra um dos líderes negros da época. Levava junto


a atriz, que passara a apoiar, inclusive financeira-


mente, os Panteras Negras.


Para dramatizar esse processo, o diretor An-


drew cria um personagem ficcional, o agente


Jack Solomon (Jack O’Connell), encarregado da


vigilância da intimidade do casal. Nesse ponto, o


filme desanda um pouco. O’Connell é um tipo


com problemas de consciência. Faz seu traba-


lho, mas parece sentir culpa por destruir pes-


soas a pretexto de servir seu país. A culpa e não


a fé remove montanhas, dizia Freud. Força


que transforma esse sentimento em poderoso


agente da dramaturgia. Infelizmente não é o


caso e O’Connell nunca parece à altura de um


personagem transtornado por seus atos.


Por outro lado, Kristen Stewart compõe


uma Jean Seberg muito convincente. É uma


luz em cena, com sua sensualidade, mas tam-


bém expondo-se em sua fragilidade. A derroca-


da mental causada pela pressão do FBI expres-


sa-se em seu rosto e corpo. Seberg morreu em


1979, aos 40 anos. Há quem duvide da tese


aceita de suicídio.


Amor e


perseguição,


os pilares


de ‘Seberg’


Sem Intervalo Filmes na TV


Kristen Stewart dá


brilho à personagem


da atriz atormentada


]


CRÍTICA: Luiz Zanin Oricchio


Cinema. Biografia da atriz da nouvelle


vague flerta com a contemporaneidade


HBO

Ficção e


realidade.


Jean Seberg


interpretada


por Kristen


Stewart


(acima) e a


atriz em


‘Acossado’,


de 1960


JJJ BOM


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ZETA FILMES

CINECOLOR DO BRASIL

CESAR ALVES

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2020 Caderno 2 C5


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