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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2020 Metrópole A
NA WEB
● Seis Estados brasileiros têm número de leitos de UTI abaixo do
recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 1 a 3
leitos por 10 mil habitantes
DESIGUALDADE
FONTE: CADASTRO NACIONAL DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE (CNES) INFOGRÁFICO/ESTADÃO
LEITOS
EXISTENTES
36
56
60
283
796
656
431
365
178
263
465
974
597
275
440
704
890
ESTADO
RR
AM
AC
PI
PA
MA
AM
AL
CE
TO
SE
BA
RN
SC
PB
RO
MS
RS
MG
PE
GO
PR
MT
SP
ES
RJ
DF
Total
27
17
44
162
464
355
305
227
557
107
166
939
234
628
392
177
232
884
627
222
363
257
LEITOS
NO SUS
NÚMERO DE LEITOS
POR 10 MIL HABITANTES
0,
0,
0,
0,
0,
0,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
2,
2,
2,
2,
2,
17,
1,
Mais procurado,
SUS só tem 44%
dos leitos de UTI
Sistema Único de Saúde é responsável pela assistência médica a
3/4 da população e tem apenas 17,9 mil das 40,6 mil vagas gerais
Mateus Vargas / BRASÍLIA
O governador de Roraima, An-
tonio Denarium (sem partido),
pediu ao ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta
(DEM), o fechamento imediato
da fronteira do Estado com a Ve-
nezuela e a Guiana por causa do
novo coronavírus. A reunião
ocorreu na quarta-feira. Procu-
rado, o ministério afirmou em
nota que “até o momento, não
há nenhuma restrição de trânsi-
to de pessoas para o Brasil”.
Em audiência na Câmara dos
Deputados na quarta-feira,
Mandetta não citou o pedido e
desviou de perguntas sobre pos-
sível fechamento de fronteira.
Disse, no entanto, que a frontei-
ra com a Venezuela é a “única
que realmente dá preocupa-
ção”. “A Venezuela não tem sis-
tema de vigilância. Não sei o
que acontece lá.”
Em 2018, ao negar pedido de
Roraima para impedir o acesso
ao País pela fronteira com a Ve-
nezuela, a ministra do Supremo
Tribunal Federal (STF), Rosa
Weber, afirmou que o fechamen-
to de fronteira é uma atribuição
do presidente da República. De-
narium disse ao Estado que o
grau de preocupação com a fron-
teira é “muito grande”. “Em Ro-
raima estão entrando de 500 a
700 venezuelanos todos os
dias. Se tiver um foco de novo
coronavírus na Venezuela, e
com essa migração desordena-
da, pode se tornar uma epide-
mia. Está tudo sob controle na
Região Norte até hoje”, disse o
governador. O pedido a Mandet-
ta foi feito formalmente. Não
há ainda ofício entregue à pasta.
América Latina. Até ontem,
Venezuela e Guiana não haviam
registrado casos de coronaví-
rus. Países da América Latina
têm intensificado medidas para
tentar conter o avanço da doen-
ça. Ontem, a Venezuela suspen-
deu voos da Europa e da Colôm-
bia. E a Bolívia suspendeu a en-
trada de viajantes europeus. Ar-
gentina, Chile, Colômbia e Peru
adotaram nos últimos dias a
obrigatoriedade de isolamento
domiciliar para pessoas vindas
de países com surto.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Fabiana Cambricoli
Somente 44% dos leitos de
unidades de terapia intensiva
(UTIs) do País estão no Siste-
ma Único de Saúde (SUS), re-
de responsável pela assistên-
cia médica de três quartos da
população brasileira e que
corre o maior risco de sobre-
carga em caso de surto do no-
vo coronavírus.
No Brasil, apenas 25% da po-
pulação tem convênio médico
e, portanto, acesso à rede priva-
da. Os demais dependem exclu-
sivamente da rede pública. Mas
apenas 17,9 mil dos 40,6 mil lei-
tos de UTI existentes no País
estão no SUS, segundo levanta-
mento feito pelo Estado no Ca-
dastro Nacional de Estabeleci-
mentos de Saúde (CNES), do
portal Datasus. A análise consi-
derou todos os leitos de UTI
adultos e pediátricos, excluin-
do da soma os neonatais.
De acordo com a Associação
de Medicina Intensivista Brasi-
leira (AMIB), o total de leitos
existentes no País cumpre a re-
comendação da Organização
Mundial da Saúde (OMS), que é
de 1 a 3 leitos para cada 10 mil
habitantes – o índice brasileiro
é próximo de 2. O problema, se-
gundo a entidade, é a distribui-
ção desigual entre as redes pú-
blica e privada e entre os dife-
rentes Estados. “A situação fica
desequilibrada porque metade
dos leitos fica para um quarto
da população (usuários de pla-
nos de saúde) e a outra metade,
para os outros três quartos (do
SUS)”, diz Ederlon Rezende,
membro do conselho consulti-
vo da AMIB e coordenador do
projeto UTIs brasileiras.
Ele afirma que, enquanto os
leitos de UTI privados têm taxa
de ocupação média de 75%, os
do SUS têm 95%. “Embora o co-
ronavírus não seja uma doença
grave, cerca de 15% dos infecta-
dos vão precisar de uma UTI e o
sistema de saúde não está prepa-
rado, não temos um fôlego ex-
tra no SUS porque ele já está no
limite da utilização”, disse.
Rezende ressalta que, em al-
guns Estados do Norte e Nor-
deste, nem sequer o índice míni-
mo da OMS é cumprido. Segun-
do o levantamento do Estado
no CNES, isso ocorre em seis
unidades da Federação: Acre,
Roraima, Pará, Amapá, Mara-
nhão e Piauí. Em todos eles, o
índice de leitos de UTI é menor
do que 1 por 10 mil habitantes.
Medidas. O conselheiro da
AMIB destaca que, em uma si-
tuação de emergência e catástro-
fe, a recomendação é que se au-
mente a capacidade dos leitos
em 20%, mas isso pode ser feito
tanto com a abertura de leitos
novos quanto com a gestão dos
já existentes, como dando por
exemplo a prioridade a atendi-
mentos a pacientes mais graves
e com quadros urgentes. “Nesse
cenário, você cancela cirurgias
eletivas. Nesse tipo de plano, a
gente usa uma estratégia chama-
da de 3 ‘Es’: espaço, equipe e
equipamentos”, detalha.
No quesito espaço, ele afir-
ma que os hospitais devem,
além de deixar vagos leitos com
o cancelamento de procedimen-
tos não urgentes, mapear áreas
dentro das unidades que pos-
sam ser transformadas em UTI,
como os leitos para recupera-
ção do pós-operatório.
No aspecto das equipes, de-
ve-se suspender férias, aumen-
tar as jornadas de trabalho e
convocar profissionais de ou-
tras especialidades, mas com o
cuidado de não sobrecarregar o
trabalhador de modo que ele fi-
que doente.
Na parte de equipamentos,
ele diz ser fundamental o uso de
itens de proteção individual pa-
ra profissionais de saúde e os
respiradores/ventiladores me-
cânicos para pacientes com qua-
dros agudos de problema respi-
ratório – como os doentes gra-
ves da covid-19.
Mesmo que as medidas se-
jam tomadas, o cenário é preo-
cupante. “Temos dados de que
o paciente com coronavírus
que vai para UTI fica de 7 a 14
dias lá, o que vai criar demanda
alta. Além disso, o ideal é que
tivéssemos leitos de UTI com
pressão negativa, o que possibi-
lita o isolamento do doente
com coronavírus, mas no SUS
esse tipo de área é escassa. Com
isso, talvez seja necessário iso-
lar UTIs inteiras se ela receber
um doente com covid-19”, diz.
Questionado sobre a distri-
buição dos leitos de UTI, o Mi-
nistério da Saúde informou que
“tem aumentado a oferta de lei-
tos de terapia intensiva no SUS
nos últimos anos”. A pasta diz
que o número passou de 22,
mil para 26,2 mil entre 2016 e
2020, mas não explicou a dife-
rença dos dados para os disponí-
veis no sistema CNES, platafor-
ma oficial do ministério.
O órgão destacou que amplia-
rá a assistência na atenção pri-
mária para a recepção dos pa-
cientes potencialmente afeta-
dos pelo covid-19, uma vez que
“a maior parte das infecções
causadas pelo vírus são leves e
podem ser atendidas nesse ní-
vel de atenção”. Para isso serão
contratados médicos e será am-
pliado o horário de funciona-
mento dos postos de saúde.
lA Agência Nacional de Vigilân-
cia Sanitária (Anvisa) impediu o
desembarque de 600 pessoas de
um navio de cruzeiro, no Recife,
ontem. De acordo com a agência,
um passageiro tem suspeita de
estar contaminado com o corona-
vírus. Ele chegou a desembarcar
para atendimento médico e inicial-
mente a suspeita era de enfarte.
“Após o desembarque do passa-
geiro, a equipe de atendimento
local apontou a suspeita de coro-
navírus no viajante”, informou a
Anvisa, que orientou o retorno de
todos os passageiros, que são
estrangeiros, ao navio. “O desem-
barque de passageiros e tripula-
ção está suspenso até que os re-
sultados laboratoriais do viajante
confirmem ou descartem a suspei-
ta”, afirmou a Anvisa. / M.V.
O secretário executivo do Mi-
nistério da Saúde, João Gabbar-
do, afirmou que a pasta não dis-
cute ainda a possibilidade de
realizar um “bloqueio sanitá-
rio”, como fechar fronteiras ou
proibir voos. Na quarta-feira, o
presidente dos Estados Uni-
dos, Donald Trump, anunciou
uma determinação que suspen-
deu voos da Europa ao país nor-
te-americano.
“Não há nenhuma orientação
neste sentido. Isso é para sem-
pre? Não sei, depende da evolu-
ção”, afirmou Gabbardo. Segun-
do o secretário, o Brasil está ten-
do mais tempo para se planejar
em relação à chegada de uma
epidemia.
Ele afirmou que a Itália tem
um “sistema de saúde muito
bem estruturado”, mas não te-
ve tempo de estudar os casos de
novo coronavírus da China a
tempo de controlar a chegada
ao território.
Sobre a suspensão de aulas de-
cretada pelo governo do Distri-
to Federal no Estado, o secretá-
rio de Vigilância em Saúde,
Wanderson Oliveira, afirmou
que medidas locais são de res-
ponsabilidade de cada gestor lo-
cal. “Se tomada com muita pre-
cipitação (uma medida restriti-
va), às vezes não vai ter efeito
adiante. Se tomada depois, tam-
bém. Essa modulação fina é que
é o desafio dos gestores”, disse
o funcionário da pasta.
MPF. Já o líder do Podemos,
Léo Moraes (RO), quer o Brasil
seguindo as restrições impos-
tas pelos Estados Unidos. Ele
avisou que acionará o Ministé-
rio Público Federal para suspen-
der voos que venham da Europa
e da Ásia por pelo menos 30
dias. No pedido, ainda consta a
requisição para que o Exército,
a Polícia Federal e a Polícia Ro-
doviária Federal sejam envia-
dos para patrulhar e controlar o
acesso pelas fronteiras.
Suspensão de aulas já atinge 590 mil. Pág. A12 }
Planos de saúde
terão de cobrir
exame da doença
Portal. Saiba
tudo sobre o
coronavírus
estadao.com.br/e/coronavirus
6
Anvisa barra o
desembarque de
cruzeiro no Recife
Governador teme
aumento de casos com o
fluxo de estrangeiros no
Estado; América Latina
intensifica medidas
RR pede fechamento de fronteira com Venezuela e Guiana
WILTON JUNIOR / ESTADÃO
Para ele, país teve mais
tempo para se preparar;
líder do Podemos cobra
medida e também ação
de Exército, PF e PRF
Secretário nega veto a
voos como nos EUA;
MPF deve ser acionado
Movimento. Passageiros usam máscaras e luvas no Galeão, no Rio: sem previsão de suspensão de voos internacionais
lA diretoria colegiada da Agên-
cia Nacional de Saúde Suplemen-
tar (ANS) aprovou, ontem, em
reunião extraordinária, a inclu-
são do exame de detecção do
coronavírus no rol de procedi-
mentos obrigatórios para benefi-
ciários de planos de saúde.
A Resolução Normativa foi en-
caminhada ao Diário Oficial da
União e entra em vigor na data
de sua publicação. O teste será
coberto para os beneficiários de
planos de saúde com segmenta-
ção ambulatorial, hospitalar ou
referência e será feito nos casos
em que houver indicação médica,
de acordo com o protocolo e as
diretrizes definidas pelo Ministé-
rio da Saúde.