O Estado de São Paulo (2020-03-13)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A Coreia do Norte evita as san-


ções da ONU há meses expor-


tando carvão, areia e petróleo,


e importando bens de luxo, in-


cluindo sedãs blindados, ál-


cool e robôs. As conclusões es-


tão em um relatório que ainda


deve ser divulgado, que usou


imagens de satélite e dados de


transportadoras. As exporta-


ções fornecem recurso para


continuar desenvolvendo pro-


gramas de armas nucleares,


afirmam analistas. Importa-


ções de bens de luxo mostra-


riam que o país pode estar


usando esses materiais para


copiar tecnologias.


http://www.estadao.com.br/e/coreia

P


ara entender os movi-


mentos de extrema di-


reita que ocorrem hoje,


a leitura de M – O Filho do Sé-


culo, de Antonio Scurati, re-


cém-publicado pela Editora


Intrínseca, que conta a histó-


ria do surgimento do fascis-


mo na Itália, é leitura obriga-


tória. É um romance docu-


mental, que faz lembrar o Ro-


mance de Perón, de Tomás


Eloy Martinez, publicado em
1998 pela Companhia das Le-

tras, que merece reedição.


O fascismo surge das cin-


zas ainda quentes da 1.ª Guer-


ra Mundial, com seus 11 mi-


lhões de mortos. Vitoriosa,


mas economicamente arrasa-


da, a Itália se divide entre


um governo liberal, que ten-


ta reconstituir a economia, e


um forte movimento socialis-


ta que ganha cada vez mais


força no campo e nas cida-


des. Todos anseiam pela paz,


mas Mussolini, que havia co-


meçado sua carreira como


editor do jornal do Partido


Socialista, Avanti!, e sido ex-


pulso do partido por defen-


der a entrada na Itália na


guerra, decide abraçar a mor-


te, a violência e o nacionalis-


mo como formas de ação po-


lítica e busca do poder.


Seus principais parceiros,
no início, são os remanescen-

tes de uma tropa de elite des-


mobilizada, os Arditi, treina-


dos para assassinar os inimi-


gos, que depois da guerra se


sentem frustrados e margina-


lizados. Scurati os descreve


como passando o tempo em-


briagados, nos bordéis e en-


volvidos em atividades crimi-


nosas. São eles que Mussolini


conquista pelo seu novo jor-


nal, O Povo da Itália, cujo te-


ma principal é o ataque aos


que se opuseram à participa-


ção italiana na guerra, e os or-


ganiza com a criação, em


1919, do Fasci Italiani di Com-


battimento, os Grupos Italia-


nos de Combate, simboliza-


dos por uma caveira, que dão


início ao movimento e ao Par-


tido Fascista.


No início, Mussolini e suas
milícias paramilitares são

olhados com desprezo tanto


pelos liberais, que controlam


o governo nacional, como pe-


los socialistas, que cada vez


mais controlam os governos


locais e ganham espaço no


Parlamento. A economia do


país continua estagnada, a Itá-


lia não consegue participar


da partilha do mundo colo-


nial feita pelas potências eu-


ropeias e os Estados Unidos,


e o exemplo da revolução rus-


sa inspira entre os socialistas
a ideia de que a hora da revo-

lução italiana também está


próxima. Mussolini, no iní-


cio, ainda tentou manter um


discurso a favor dos operá-


rios e camponeses; e compar-


tilhava com os setores mais


radicais do partido socialista


a ideia de que o regime políti-


co liberal não servia para na-


da, os políticos eram, na me-


lhor hipótese, incapazes e na


pior, corruptos, e só uma re-


volução poderia resolver os


problemas do país. Ambos


acreditavam, com Marx e os


anarquistas, que a violência
era a parteira da história.

Com o país paralisado por


greves e ocupações sucessi-


vas de terras e fábricas, os fas-


cistas decidem se colocar co-


mo defensores da ordem e, fi-


nanciados por fazendeiros e


empresários, partem para ata-


car com violência e desmante-


lar os movimentos e organiza-


ções de esquerda, ao mesmo


tempo que, pelo jornal, Mus-


solini sobe o tom na defesa


da violência e do nacionalis-


mo como os únicos caminhos


para fazer a Itália voltar aos


tempos gloriosos do império


de 2 mil anos atrás. Na primei-


ra eleição de que participam,


em 1919, os socialistas e o Par-


tido do Povo Italiano, católi-


co, conquistam a maioria, os


fascistas ficam totalmente


marginalizados. Nos dois
anos seguintes, que ficaram

conhecidos como o “biênio


vermelho”, a crise econômica


se aprofunda, as greves e ocu-


pações de fábricas e fazendas


se multiplicam, o desempre-


go continua e os fascistas in-


tensificam sua violência, com


assassinatos de líderes popu-


lares e destruição das sedes


das organizações locais.


Na eleição de 1921 os fascis-


tas se aliam aos liberais e ga-


nham, deixando os vários par-


tidos da esquerda na oposi-
ção. No governo, a crise eco-

nômica persiste e Mussolini


continua incentivando o ter-


rorismo, com as milícias ago-


ra organizadas em esqua-


drões dos camisas negras.


Em 1922 organiza a “marcha


sobre Roma”, em que as milí-


cias avançam sobre a capital


exigindo que Mussolini seja


nomeado primeiro-ministro.


O governo hesita, teria sido


fácil desmantelar a milícia se


o exército decidisse agir, mas


todos temem a confrontação.


Na chefia de governo, Musso-


lini trabalha para desmontar


as instituições democráticas,


criando dentro do governo


uma polícia secreta copiada


da Cheka de Stalin, para dar


continuidade à violência, e


em 1925 assume o poder co-


mo ditador.
Mussolini não estava sozi-

nho em seu assalto à demo-


cracia, que incluía gestos tea-


trais, acordos por debaixo


dos panos, o uso descarado


da violência contra os oposi-


tores, o uso sistemático da


mentira e a traição constante


a antigos companheiros. Ti-


nha a simpatia de empresá-


rios, como Gianni Agnelli, do-


no da Fiat, e intelectuais e ar-


tistas brilhantes e famosos,


como o filósofo Benedetto


Croce, o maestro Arturo Tos-


canini e sua amante, a aristo-


crática intelectual judia Marg-


herita Sarfatti. Para eles, o Du-


ce tinha seus defeitos, mas ha-


via uma causa maior, a recu-


peração econômica e a reno-


vação da Itália, que tudo justi-


ficavam. Deu no que deu.


]


SOCIÓLOGO, É MEMBRO

DA ACADEMIA
BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

Empresários e armadores


reclamam da falta de apoio


político para hidrovias.


http://www.estadao.com.br/e/hidrovia

COMÉRCIO INTERNACIONAL


Coreia do Norte desafia sanções


Diretora da OMS recomen-


dou a batida de cotovelo co-


mo cumprimento e especia-


listas sugerem evitar o aper-
to de mão e os beijinhos.

http://www.estadao.com.br/e/cumprimentos

l“Estimativa pessimista e alarmante. É melhor o governo de São Paulo


tomar as medidas preventivas e urgentes!”


MARGARETH MENESES


l“Estão criando pânico. Basta ter cuidados com a higiene, não levar a


mão à boca nem aos olhos.”


MARIA ANGELA FRANCO AQUINO


l“Ué! Até o último dia de carnaval não tinha nada, tudo seguro. Um


dia depois começam confirmações e agora chegamos a esse número?”


ADRIANA COSTA


l“Estão estranhos esses números. A China, que é a China, teve até


agora 80 mil casos. Só São Paulo terá 45 mil? Truco.”


RAFAEL MACHADO JABÔR


COMENTÁRIOS


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Diante da inércia dos gover-


nos, ativistas tentam recupe-


rar terras ancestrais por con-


ta própria. Muitas vezes,
eles pagam um preço alto.

http://www.estadao.com.br/e/terra

Espaço Aberto


V


iver é mais perigoso a


cada minuto que passa


neste mundo do corona-


vírus. Que fake news, que na-


da! Problema mesmo são as


verdadeiras!


Eu mesmo já nem ouso,


mas a História certamente te-


rá muito a dizer sobre o fan-


tástico “case” que se desenro-


la diante dos nossos olhos: De


como a gripe menos letal das úl-


timas décadas desencadeou uma


epidemia global de super-rea-


ções de governantes tementes ao


linchamento e precipitou, do na-


da, o maior pânico financeiro


do milênio.


Não é só o Brasil. “O mundo


nas juntas se desgovernou”,


como o jagunço Riobaldo te-


mia que se desgovernasse.


Um mundo onde os vírus mi-


gram dos morcegos para os hu-


manos, do marketing para a po-


lítica e dela para os mercados.


Um mundo onde ficou tão


mais barato fazer e entregar


um discurso “customizado” a


cada consumidor quanto mais


caro servir-lhe qualquer coisa


fora do padrão massificado da


economia de escala dos mono-


pólios planetários. Um mundo


onde as “narrativas” e a reali-


dade correm cada vez mais ace-


leradamente em direções opos-


tas e a concentração do poder


econômico é o efeito mais dire-


to da desconcentração do foco


do poder político.


Na louca febre das bolsas a


contribuição chinesa deu-se


por ricochete. Há meses o mer-


cado procurava uma razão pa-


ra uma queda. Serviu-a na ban-


deja a disposição das democra-


cias ocidentais de tratar como


igual o mandarim vermelho


que, numa bela manhã – não


porque tivesse sido instado a


tanto pela ciência, mas antes


porque pode fazer o que bem


entender impunemente –, acor-


dou com ganas de isolar uma


megacidade inteira depois de


ouvir um par de espirros.


Na China faz-se, não se dis-


cute, porque para quem vem


cheio de ideias sempre há o


“campo de reeducação” – ago-


ra à paisana, no meio da cida-


de e com cara de condomínio



  • ou o tiro na nuca para os in-


sistentes. Por mais predispos-


tos que estejamos a esquecê-


lo enquanto babamos ovo para


as “Muralhas da China” e os


“Palácios de Verão” dos novos


imperadores, o que continua


sendo, lá, é o que sempre foi,


só com mais dinheiro e espe-


rança para quem conseguir


manter-se vivo e em paz com


o partido. As quase democra-


cias também continuam


iguais. Nunca saíram do brejo.
O que vem mudando rapida-

mente para pior é a ponta das


democracias verdadeiras.


O dado novo, que pesa deci-


sivamente para quem vive de


voto, são as “tricoteuses” da re-


volução das comunicações. To-


do mundo tem aquele amigo,


aquela amiga, com histórico


de razoabilidade que, armado


do seu celular, passou a com-


portar-se como um fanático


que se ocupa com zelo religio-


so em fazer circular textos e


imagens que não enganariam


nem uma criança em condi-


ções normais de temperatura
e pressão, e a pedir mais e

mais “sangue”, desde as pri-


meiras filas da guilhotina das


teorias planetárias da conspira-


ção. A “ascensão do idiota”


desde que se descobriu maio-


ria esmagadora e “perdeu a


modéstia”, descrita por Nel-


son Rodrigues, acabou num


grau inimaginável daquela


“embriaguez pela onipotência


numérica” que ele antecipou e


temia antes do advento do


mundo em rede.


No meio do caminho entrou


em cena o potentado Putin jo-


gando petróleo real no incên-


dio da febre que quem vive de


voto vai ter de apagar. Mas an-


tes disso o cenário de desola-


ção já estava definido.


Houve tempo em que a notí-


cia é que pautava os jornais.


Hoje os jornais é que pautam a
notícia. Uma cidade inteira

sob sítio? Vale! E lá estava,


mais uma vez oferecida, a jane-


la aberta para o mundo. E ha-


vendo janela, há que haver mi-


nistro que nela se debruce e jor-


nalista para inquiri-lo e pautei-


ro para encher a linguiça de ca-


da canal melhor que a do vizi-


nho. E como o medo é que go-


verna os governos nesta era do


apedrejamento em rede, insta-


lou-se mais uma vez a cadeia


mundial da irracionalidade:


“Ele fez. Vai que eu não faço e...”.
Hoje é possível fazer um “e-

comício” para cada plateia se-


lecionada pela história das


suas emoções; criar um com-


promisso com cada indivíduo;


falar-lhe “ao pé do ouvido” de


dentro do “grupo” dos seus


íntimos. Mas como tratar de


questões mais amplas com o


necessário distanciamento


num ambiente de tanta falta


de cerimônia?


“Ilusão de noiva” acreditar


que a supressão do interme-


diário especializado melhorou


a relação candidato-eleitor. A


tapeação agora é algoritmizá-


vel. Não precisa nem “ser artis-


ta”. Qualquer sujeito sem ne-


nhuma graça ou talento pode


enganar com eficiência cien-


tífica. E se na relação interme-


diada pelo jornalismo o con-


traditório era a regra exigível
cuja ausência ligava o alarme

contra o enviesamento, hoje


ele é o intruso expulso a socos


e pontapés quando é flagrado


insinuando-se numa “conver-


sa de íntimos”.


Cada cercadinho emite e re-


cebe exclusivamente o mesmo


zurro. Complicadíssimo, por-


tanto, não se esborrachar nu-


ma omelete andando por cima


de tantos ovos. A onda do coro-


navírus baixaria radicalmente,


mesmo assim, com uma provi-


dência simples. Se todas as ve-


zes que a palavra chegasse a


ser mencionada fosse obrigató-


rio acrescentar a informação


que lhe define a estatura –


...“coronavírus, a febre chinesa


da vez cuja letalidade é bem me-


nor que a da gripe N1H1”... –, o


mundo estaria, neste momen-


to, bem menos emocionante.


]


JORNALISTA, ESCREVE
EM WWW.VESPEIRO.COM

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

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COVID-


Ninguém segura a


mão de ninguém


Violência na América


Latina tem escalada


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]


Fernão Lara Mesquita


Tema do dia


Maior artilheiro do México


voltou à América do Norte,


mas não para o país natal.


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O diabo na rua, no


meio do redemunho


‘O mundo nas juntas se


desgovernou’, como o


jagunço Riobaldo temia


que se desgovernasse


Mussolini


O ‘Duce’ tinha defeitos,


mas a recuperação da


Itália tudo justificava.


Deu no que deu


AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
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casos de coronavírus


nos próximos 4 meses


Cerca de 10 mil pessoas precisariam


de leitos de UTI, segundo a previsão;


Estado tem maior número de infectados


]


Simon Schwartzman


DISPUTAS
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O futuro da hidrovia


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Chicharito é criticado


por jogar nos EUA

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