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B14 Economia SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Negócios
Expresso
Rappi lança
shopping com entrega
em uma hora Pág. B16
Disseminação do coronavírus deve mudar
configuração do setor aéreo no mundo
COMO É TER UMA
FÁBRICA PARADA
PELA COVID-19
Unidade da brasileira Marcopolo na China está
fechada há dois meses e se prepara para reabrir
NACHO DOCE/REUTERS–19/12/2017
Corte. A Latam reduziu em 30% a oferta de voos internacionais e suspendeu, assim como Azul, a previsão de resultados
A
Marcopolo tem uma
fábrica no Novo Dis-
trito de ChangZhou,
na cidade homônima que fi-
ca na Província de JiangSu,
na China. É lá que a empresa
gaúcha produz componen-
tes e carrocerias de ônibus de
diferentes modelos, para ven-
der, principalmente, a países
da Ásia e da Oceania como
Hong Kong, Mianmar e Aus-
trália.
A produção é de um ônibus
por dia, por turno de traba-
lho. No dia 25 de janeiro, a
operação foi fechada por fes-
ta: eram as comemorações
do ano-novo chinês e todos
os funcionários partiram pa-
ra visitar suas famílias.
A previsão de retorno era o
dia 10 de fevereiro, logo após as
celebrações. Mas como o país
foi atingido em cheio pelo surto
de coronavírus, o retorno às ati-
vidades na fábrica só começou a
acontecer parcialmente há pou-
co mais de uma semana, no dia 2
deste mês. Só na próxima terça-
feira está previsto o retorno de
forma plena, inclusive com o re-
cebimento de insumos dos for-
necedores.
O fato de os cerca de 200 fun-
cionários serem cidadãos chine-
ses facilitou a gestão da crise.
“Não tivemos nenhum expatria-
do para retornar ao Brasil”, es-
creveu ao Estadão/Broadcast o
diretor de Estratégia e Negó-
cios Internacionais da compa-
nhia, André Vidal Armaganijan.
“Os funcionários retornaram
para suas casas, aguardaram a
definição e a chamada para re-
tornar às atividades.”
A quarentena – e a garantia de
que os funcionários ficaram em
suas casas – foi monitorada e ga-
rantida pela comprovação por
deslocamento de celular. Se-
gundo Armaganijan, todos os
funcionários têm celular e an-
tes da paralisação passaram pe-
lo processo de escaneamento
de um código QR, cedido pela
China Mobile. “(Essa ferramen-
ta) permitiu identificar onde ca-
da um esteve durante o período
de quarentena”, disse.
Tanto quanto a fábrica, o rela-
cionamento comercial com os
clientes também foi derrubado
pela epidemia. “Diversas visitas
de clientes e potenciais clientes
de mercados como Hong
Kong/Mianmar, Oriente Médio
e Tanzânia estavam programa-
das para os meses de fevereiro e
março, e todas foram cancela-
das, sem ainda confirmação de
remarcação”, informou Arma-
ganijan.
Como a paralisação se esten-
derá por quase dois meses (de
25 de janeiro a 17 de março), o
impacto na produção e no aten-
dimento das demandas será
comprometido, segundo ele.
“A perda de produção estimada
é de dois a quatro meses”, disse.
Com o retorno das atividades
administrativas no fim de feve-
reiro e da área produtiva no iní-
cio de março, a fábrica está ope-
rando de maneira parcial e utili-
zando insumos que estavam
em estoque.
Perdas. O retorno do recebi-
mento de componentes e insu-
mos de fornecedores só será rea-
tivado na segunda quinzena de
março. Por isso, a programação
de retorno está prevista para 17
de março.
“Somente após a normaliza-
ção das atividades produtivas e
do fluxo de recebimento de in-
sumos por parte dos fornecedo-
res é que poderemos mensurar
as perdas e também o atraso na
entrega de pedidos dos clien-
tes”, disse ele. Por enquanto,
a estimativa é de um atraso
de dois a quatro meses no
processo como um todo.
Nenhum funcionário foi
contaminado até o momen-
to. A fábrica possui dois fun-
cionários da cidade de Wu-
han, os quais não têm data
para voltar, já que a localida-
de ainda está sob controle
militar.
O maior desafio, segundo
o executivo, é contornar o
questão das visitas de clien-
tes e potenciais clientes agen-
dadas que tiveram de ser can-
celadas ou adiadas. Com a si-
tuação, ainda não há uma de-
finição de quando as visitas
poderão ser retomadas./
CRISTIANE BARBIERI
REUTERS
As montadoras da China estão
pedindo ajuda ao governo de-
pois que as vendas em todo o
setor despencaram 79% em fe-
vereiro, um declínio mensal re-
corde, com a demanda atingida
pelo surto de coronavírus.
A lista de pedidos inclui cor-
tes no imposto sobre a compra
de veículos menores, medidas
para apoiar as vendas nos mer-
cados rurais e uma redução dos
requisitos de emissão de car-
ros, disse a Associação Chinesa
de Fabricantes de Automóveis.
As vendas de fevereiro no
maior mercado automotivo do
mundo caíram para 310 mil veí-
culos em relação ao ano ante-
rior, uma queda pelo vigésimo
mês consecutivo.
“As vendas de automóveis da
China em fevereiro voltaram a
níveis nunca vistos desde
2005”, disse Chen Shihua, um
alto funcionário da associação.
“O governo considerará es-
sas propostas, mas é imprová-
vel que lancem tantas políticas
monetárias”, disse Yale Zhang,
chefe da consultoria AutoFore-
sight, de Xangai. “Medidas co-
mo cortes no imposto de com-
pra, apoio aos mercados rurais
e redução das restrições de com-
pra de veículos novos de ener-
gia são razoáveis e teriam um
impacto imediato.”
A Associação Chinesa de Fa-
bricantes de Automóveis infor-
mou que as vendas de automó-
veis “definitivamente” se recu-
perarão em março e devem vol-
tar ao normal no terceiro tri-
mestre deste ano.
A associação também pediu
às autoridades para melhorar a
logística e apoiar a retomada da
produção nas fábricas de Hu-
bei, a província onde o surto co-
meçou e um importante centro
de fabricação de automóveis
responsável por quase 10% da
produção da China.
Empresas no foco. Centro de
uma pandemia de coronavírus,
a província chinesa de Hubei di-
vulgou uma série de medidas pa-
ra apoiar o crescimento econô-
mico local, informou o governo
da província ontem.
Hubei vai expandir a emissão
de títulos especiais este ano e
visará a emissão de 30 bilhões
de iuanes (4,29 bilhões de dóla-
res) em títulos corporativos, in-
formou o governo em comuni-
cado. As instituições financei-
ras serão proibidas de pedir em-
préstimos sem uma boa razão, a
fim de proteger as empresas
que buscam reviver os negócios
afetados pelo vírus.
Luciana Dyniewicz
A pandemia do coronavírus
pode devastar empresas de
aviação, fazendo com que
muitas não resistam à crise, e
provocar uma nova consoli-
dação do setor em todo o
mundo. “Algumas compa-
nhias não vão aguentar”, dis-
se ao ‘Estado’ o consultor An-
dré Castellini, sócio da Bain
& Company. O presidente da
Azul, John Rodgerson, ponde-
rou que o mundo não pode
“parar” por muito tempo,
mas afirmou ser “bem possí-
vel ter mais consolidação no
setor”.
Nesta semana, a asiática Ko-
rean Air afirmou, em um memo-
rando para seus funcionários,
que, se continuar precisando
cancelar voos, poderá não so-
breviver ao coronavírus. “A si-
tuação pode piorar a qualquer
momento e não podemos pre-
ver quanto tempo vai durar. Se
continuar por um período mais
longo, podemos alcançar o li-
miar em que não podemos ga-
rantir a sobrevivência da com-
panhia”, afirmou o presidente
da empresa, Woo Kee-Hong,
em documento ao qual a agên-
cia Reuters teve acesso.
Estimativas da Associação In-
ternacional do Setor Aéreo (Ia-
ta) apontavam, no fim da sema-
na passada, que a indústria po-
deria perder até US$ 113 bilhões
em receita com a crise do coro-
navírus. Esse número, porém,
não computava os voos cancela-
dos entre Estados Unidos e Eu-
ropa, um mercado que movi-
mentou US$ 20,6 bilhões no
ano passado e cujas operações
serão paralisadas por 30 dias a
partir de hoje, conforme anun-
ciou o presidente americano,
Donal Trump.
Antes mesmo da decisão do
governo americano, aéreas co-
mo United, American e Delta já
haviam cortado a oferta de
voos, dada a baixa demanda. No
Brasil, a Latam anunciou, na se-
mana passada, a suspensão dos
voos entre São Paulo e Milão
até 16 de abril. Ontem, infor-
mou que reduzirá em 30% os
voos internacionais do grupo
entre 1º de abril e 30 de maio.
A Azul, que sentiu uma redu-
ção de 30% na demanda por via-
gens internacionais, está cor-
tando a oferta na mesma magni-
tude, disse Rodgerson. A empre-
sa adiou a estreia da rota entre
Campinas e Nova York, que es-
tava prevista para 15 de junho,
para setembro, e adiantou a sus-
pensão do voo entre Campinas
e Portugal para maio – antes, a
previsão era que isso ocorresse
em setembro.
Tanto a Latam como a Azul
suspenderam as previsões de re-
sultados para este ano por não
haver, no momento, clareza pa-
ra se fazer projeções.
A Gol foi a única empresa do
mercado doméstico que ainda
não anunciou ajuste na malha,
mas informou que deverá fazer
isso em breve.
‘Slots’. A redução e o cancela-
mento de voos por parte das
companhias não deve afetar a
distribuição de slots (autoriza-
ções de pousos e decolagens em
aeroportos), informou a Agên-
cia Nacional de Aviação Civil (A-
nac). Pela norma, quando uma
empresa não utiliza seu slot, po-
de perdê-lo, regra que foi cance-
lada não só no Brasil como glo-
balmente.
Desde 21 de fevereiro, as
ações da Gol despencaram
70%. As da Azul caíram 63,5% e
as da Latam, negociadas em No-
va York, recuaram 47,5%. Ape-
sar desse pânico no mercado, as
três empresas vinham apresen-
tando resultados sólidos, segun-
do Castellini. “Mas o impacto
existe. Elas terão de fazer um
exercício de contingência.”
Ontem, a Associação Brasilei-
ra das Empresas Aéreas (A-
bear) informou que apresentou
demandas para o governo na
tentativa de contornar a crise,
entre elas a redução do PIS/Co-
fins sobre querosene de aviação
e a remoção do imposto sobre
venda de passagens aéreas.
Analistas e empresários falam em consolidação do setor, com venda ou fusão de empresas; a Associação Internacional do Setor Aéreo
estima em US$ 113 bilhões prejuízo com cancelamento de voos, valor que ainda não considera suspensão de operações anunciada pelos EUA
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
lFérias forçadas
lEfeito
MARCOPOLO
200
é o total de funcionários da
Marcopolo que trabalham na
fábrica da China que produz
ônibus; eles estão em casa há
quase dois meses por causa
da pandemia do coronavírus
Crise. Antes da parada, unidade produzia um ônibus por dia
Impacto
Montadoras da China buscam ajuda do governo
70%
é a queda de preços acumulada
pelas ações da Gol desde 21 de
fevereiro, como reflexo da crise
provocada pelo coronavírus. Já
as da Azul caíram 63,5% e as da
Latam, negociadas em Nova
York, recuaram 47,5%