O Estado de São Paulo (2020-03-13)

(Antfer) #1

LE VIN


FILOSOFIA


I


mpossível não associar o corona-


vírus quando o assunto é China.


Mas esse gigante asiático também


chama atenção quando o tema são


os vinhos. Com uma população de


mais de 1,4 bilhão de pessoas, a


China é o quarto maior consumi-


dor de vinho atualmente (atrás da


França, dos EUA e da Itália).


E, por isso, toda a retração de


consumo do país, devido à epide-


mia do vírus, impacta também nas


vinícolas internacionais que têm


os chineses como principais mer-


cados. A Austrália já registra uma


redução de 80% na exportação de


seus vinhos, e o Chile amarga mi-


lhares de garrafas paradas em navios


cargueiros.


A China vinícola, no entanto, não


chama atenção apenas pelo seu alto


consumo. Com pouco mais de 900


vinícolas, o país é o sétimo maior pro-


dutor mundial de tintos e brancos.


Sim, eles também elaboram vinho,


muito vinho, e em ritmo crescente.


O desafio do país é transformar


essa produção em vinhos de qualida-


de. Pelos dados da Organização In-
ternacional do Vinho e da Vinha (OI-

V), as variedades viníferas, aquelas


que dão origem aos brancos e tintos


de maior qualidade, são apenas 10%


do total dos mais de 875 mil hectares


cultivados por lá. As uvas de mesa,


muitas variedades locais desconheci-


das aqui, predominam, com 85%, da


área plantada.


Há apostas rumo à qualidade. No


final de 2019, depois de dez anos de


investimentos, a Domaine Barons de


Rothschild (leia-se Lafite) apresen-


tou o primeiro tinto do seu projeto


chinês, a Domaine de Long Dai. Da


safra de 2017, o vinho é elaborado


com as variedades Cabernet Sauvig-


non, Marselan e Cabernet Franc, e


foi vendido, inicialmente, apenas no


mercado chinês. Os franceses opta-


ram por plantar 30 hectares de vinhe-


dos na província de Shandong, no


nordeste do país, e fizeram mais de


400 buracos para conhecer o subso-


lo de sua propriedade.


Projetos promissores também ga-


nham força nas províncias de Ning-


xia, Yunnan e Sichuan. Entre as difi-


culdades da viticultura chinesa, é
preciso driblar o frio (muitos vinhe-

dos são cobertos no inverno) e en-


contrar terrenos propícios para o


cultivo de variedades viníferas.


Por aqui, já é possível provar al-


guns rótulos, mas de vinícolas foca-


das mais em volume do que em quali-


dade. A Wine.com trouxe seis rótu-


los da vinícola Changyu. Fundada


em 1892, a empresa orgulha-se dos


seus 22,3 mil hectares de vinhedos.


A importadora Cantu, por sua vez,


estava negociando trazer os rótulos


da gigante Great Wall. Mas Emil Le-


camp, gerente de marketing, diz que


o projeto foi adiado por causa do co-


ronavírus.


Suzana Barelli


A China não


é só coronavírus


+Noble Dragon
Reserve 2016
R$ 76,40, na
Wine.com
Também na
categoria meio seco.
Tem cor rubi e
um pequeno halo
de evolução.
Os aromas são
frutados, com
um leve cassis.
No paladar, tem
menos arestas do
que o primeiro,
mas falta equilíbrio
e complexidade.

+Zenithwirl
Cabernet
Sauvignon 2017
R$ 63,40 na
Wine.com
Um tinto meio
seco, de cor rubi,
apresenta aromas
básicos, com notas
de frutas
vermelhas. No
paladar, lhe falta
equilíbrio, com
poucos e
adstringentes
taninos e um final
lembrando barricas
velhas.

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O ESTADO DE S. PAULO 13
paladar 13/3/2020 A 19/3/2020 13
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