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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 14 DE MARÇO DE 2020 Economia B7
Negócios
Saída
Bill Gates deixa o
conselho daMicrosoft Pág. B7
Com a multiplicação de casos
do novo coronavírus no País, pe-
quenos empreendedores do ra-
mo de festas e eventos começa-
ram a sentir os efeitos da preo-
cupação de seus clientes com
os riscos de contágio. Comemo-
rações sociais previstas para
acontecer neste final de sema-
na, como casamentos e aniver-
sários, foram adiadas ou cance-
ladas mesmo em cima da hora.
A Mobile, que presta serviços
de aluguel de mobiliário para
eventos e festas, recebeu as pri-
meiras ordens de cancelamen-
to de evento na última terça-fei-
ra, 10. “Estamos sentindo na pe-
le. A agenda do final de semana
está quase toda cancelada. Ape-
nas um casamento se manteve
porque os convidados de fora
do Estado já estão aqui. Mas os
menores, como festas infantis,
já foram cancelados. O telefone
já não toca para novas contrata-
ções”, conta Mariana Mariutti,
dona da empresa. “Nós, os pe-
quenos, vamos passar por uma
fase muito difícil. O problema
desse ramo é que temos custo
fixo alto e, sem gerar receita, vai
ficar difícil sobreviver.”
Para lidar com o momento,
Luiza Ceridono, dona da Botha-
nica Paulista, empresa que atua
na área de decoração de even-
tos, ressalta a importância da co-
laboração entre clientes, empre-
sas e fornecedores. “O nossomercado é muito parceiro.
Quando os clientes começaram
a querer cancelar, eu comecei a
ligar para os fornecedores para
fazer estimativa de custo e a rea-
ção de todo mundo foi a mes-
ma: ‘vamos fazer dar certo’.”Grandes eventos. A Expo Cen-
ter Norte, que possui quatro
eventos agendados para este
mês, informou que ainda não re-
cebeu nenhum comunicado ofi-
cial de eventos cancelados ou
adiados e orienta que os clien-
tes entrem em contato direta-
mente com as organizações.
Duas organizações comunica-
ram ontem o adiamento de seus
eventos no pavilhão. São eles
Hair Brasil (de beleza, cabelos e
estética), prevista para ocorrer
de 21 a 24 de março; e Abradilan
Conexão Farma 2020 (do seg-
mento farmacêutico), prevista
para a próxima semana. Ambas
terão novas datas divulgadas.
Outro grande pavilhão na ca-
pital, o São Paulo Expo também
disse não ter recebido pedido
de adiamento para eventos des-
te mês. Mas dois já anunciaram
postergação. Já o Museu da Ca-
sa Brasileira informou que ain-
da não cancelou nenhum even-
to no local. / MARINA DAYRELLCirce Bonatelli
Com o avanço da pandemia
de coronavírus no País, as re-
des de shopping centers vi-
vem um momento de incerte-
za sobre como vai ficar o mo-
vimento nos centros de com-
pras nas próximas semanas.
O fluxo de visitantes começa
a ser afetado, de acordo com
representantes das varejis-
tas, o que pode colocar em xe-
que a recuperação das vendas
registrada nos meses anterio-
res e até elevar a inadimplên-
cia de lojistas que levou anos
para ser normalizada após a
crise.
“O movimento caiu significa-
tivamente nas últimas 48 horas.
Foram uns 30% de queda nas
visitas às lojas e uns 20% a 30%
nas vendas”, diz Tito Bessa Jú-
nior, presidente da Associação
Brasileira dos Lojistas Satélites
(Ablos) e fundador da rede de
moda TNG. “Se esse resultado
ocorreu em dois dias, imagine
nas próximas semanas. Se conti-
nuar, os lojistas não vão ter re-
cursos para pagar aluguel aos
donos de shoppings”, declara.
A Ablos representa as lojas de
menor porte. Tem cerca de 100
associados, entre os quais TNG,
Barred’s e Mr. Officer (vestuá-
rio), Doctor Feet (serviços), Ca-
sa do Pão de Queijo (alimenta-
ção) e SideWalk (calçados).
Bessa solicitou reunião com a
Associação Brasileira de Shop-
ping Centers (Abrasce), repre-
sentante dos donos de shop-
pings, para discutir medidas con-
juntas para amenizar as turbu-
lências. Ele não descarta pedir
flexibilização em pagamentos
de aluguel, condomínio e taxas
operacionais até que o impacto
sobre as vendas seja dissipado.
“Precisamos encontrar uma
forma de administrar a situa-
ção, senão vai virar guerra. É pre-
ciso compreensão de que o mun-
do inteiro está enfrentando um
momento difícil e que todos pre-
cisam se ajudar”, declara Bessa.
A Associação Brasileira de Lo-
jistas de Shopping (Alshop),
que une varejistas de portes va-
riados, tem visão mais contida.
“Até agora o movimento está
próximo do que sempre foi”,
diz o diretor Luis Augusto Idel-
fonso. Segundo ele, há perspec-
tiva de queda no fluxo de consu-
midores ao longo da próxima se-
mana.
Questionado sobre a diver-gência de percepção com a
Ablos, Idelfonso avalia que al-
gum segmento pode já ter sofri-
do queda nas vendas devido à al-
ta do dólar ou à escassez de pro-dutos chineses, mas isso não foi
significativo para o setor como
um todo. “De todo modo espera-
mos ter um termômetro mais
preciso na semana que vem.”Ildefonso concorda que, se
houver cenário prolongado de
queda de vendas as varejistas te-
rão dificuldades de pagar alu-
guel. “Se o problema for dura-
douro, provavelmente vão sur-
gir novas negociações entre lojis-
tas e donas dos shoppings, as-
sim como vimos na crise”.Pesquisa. O discurso das do-
nas de shoppings é que o movi-
mento está regular, embora não
se saiba até quando. A Abrasce
não concedeu entrevista, mas in-
forma, em nota, que tem pesqui-
sa em andamento para identifi-
car possíveis impactos no setor.
As operadoras de shopping re-
forçaram a limpeza de elevado-
res, escadas rolantes e corri-
mãos, e lançaram campanhas pa-
ra divulgar informações sobre
prevenção ao vírus. “O fluxo es-
tá normal. No fim de semana de
7 e 8 de março vimos uma desa-
celeração em São Paulo, mas se-
guia bom nas outras regiões”,
disse o presidente da Aliansce
Sonae, Rafael Sales, em reunião
com investidores.
A empresa tem 27 shoppings
no portfólio, quatro deles em
São Paulo, onde está a maioria
dos casos da doença. “Com o ce-nário de crescimento do vírus
podemos ter um impacto, mas
isso ainda não aconteceu. Ado-
tamos medidas para conscienti-
zar as pessoas e manter os shop-
pings abertos”, disse. O grupo
estocou água, álcool gel, diesel
para geradores e gás de cozinha
para as praças de alimentação.
“O fluxo estava normal, mas a
gente acha que é possível que o
cenário mude”, disse o presiden-
te da BRMalls, Ruy Kameyama,
também a investidores. “É di-
fícil fazer um prognóstico do
que vai acontecer pois não há
clareza nem do nosso lado, nem
dos lojistas sobre a intensidade
dos efeitos. Todos estão buscan-
do ficar preparados.”
“A gente tem visto que o movi-
mento é normal, comparado à
mesma época do ano passado”,
diz Vander Giordano, vice-presi-
dente da Multiplan.
O movimento vai depender
do ritmo de propagação da doen-
ça e eventuais restrições à circu-
lação de pessoas, dizem empre-
sários. Outro ponto de atenção
são as notícias falsas. O Shop-
ping Paineiras, de Jundiaí (SP),
foi alvo de notícia de que fecha-
ria as portas por tempo indeter-
minado, o que foi desmentido.Pandemia afeta movimento de shoppings
e pode ameaçar recuperação das vendas
Eventos e festas registram
perdas com o covid-19
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO–23/12/2015Associação dos pequenos lojistas diz que fluxo de clientes caiu cerca de 30% e que não descarta pedir flexibilização de pagamentos de
aluguel se situação se agravar ainda mais; para donas de shoppings, há desaceleração em São Paulo, mas não há impacto em todo País
Plano, Lojistas estudam medidas conjuntas com shoppingsLetícia Ginak
Por conta da pandemia do coro-
navírus, a rotina de startups que
usam espaços compartilhados
de trabalho (coworkings) e de-
pendem de eventos para gerar
novos negócios está mudando
bastante. Após ter um caso de
coronavírus confirmado entre
os funcionários de uma empre-
sa residente, o Cubo Itaú – hub
de empreendedorismo do Itaú
que realiza eventos e hospeda
startups – emitiu comunicado
informando que interrompeu o
funcionamento do prédio para
residentes e visitantes, além da
realização de eventos, até a
próxima segunda-feira, dia 16.
Mesmo com o retorno das ati-
vidades previsto para a terça-fei-
ra, 17, a recomendação é que as
empresas adotem home office
por 30 dias. Eventos marcados
até o dia 10 de abril foram cance-
lados. Um funcionário da En-
contre um Nerd, startup resi-
dente do local, diz que a empre-
sa seguirá a recomendação de
home office por 30 dias.
O inovaBra, espaço colaborati-
vo de inovação do Bradesco e que
também tem startups residentes
no local, informa que não modifi-cará o horário de funcionamento
do espaço por enquanto. Porém,
os eventos agendados para os me-
ses de março e abril foram remar-
cados para junho e julho e outros
serão transmitidos via strea-
ming, sem público presente.
Grandes redes de
coworkings da cidade de São
Paulo não haviam modificado
até a tarde de ontem o horário
de funcionamento de suas uni-
dades. Gowork, WeWork, Re-
gus & Spaces, por exemplo, con-
tinuam a operar normalmente.
É importante lembrar que algu-
mas delas, como WeWork e Re-
gus & Spaces, são multinacio-
nais e por isso recebem clientes
de todo o mundo.Tiago Alves, presidente exe-
cutivo da Regus & Spaces no Bra-
sil, fez um vídeo com o médico
André Dabarian para enviar aos
clientes das unidades assim que
o primeiro caso da doença foi
confirmado no Brasil. Ele diz
que, a partir da próxima sema-
na, começará uma campanha
nas unidades com enfermeiras
rotativas para explicar aos clien-
tes sobre os sintomas da doença
e como se prevenir. “Nosso
maior trunfo contra o vírus é a
prevenção. Ainda há muitas pes-
soas que padecem de informa-
ção completa”, afirma.
Nas duas unidades do
coworking paulistano Eureka,
os eventos e o happy hour men-
sal foram cancelados. Daniel Mo-
ral, fundador do espaço, diz que
muitas empresas residentes já
estão adotando o home office.Aluguel de móveis,
decoração e cerimonial
veem corrida de clientes;
eventos em grandes
espaços são adiados
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Coworkings ficam abertos, mas startups fazem home office
lUniãoVALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO-9/5/2019Normal. Espaços não mudaram horário de funcionamento“Nosso mercado é parceiro.
Quando os clientes
começaram a querer
cancelar, a reação dos
fornecedores foi a mesma:
‘vamos fazer dar certo’”
Luiza Ceridono
DONA DA BOTHANICA PAULISTA