O Estado de São Paulo (2020-03-14)

(Antfer) #1

Eliana Silva de Souza


TODAS AS TELAS
O ator uruguaio Jorge Bolani
estará em projetos no strea-
ming e nas telas de cinema
brasileiras em dois longas pre-
miados. Bolani integra o elen-
co principal do longa Whisky,
de Juan Pablo Rebella e Pablo
Stoll, que entrou no catálogo
da Netflix, e também protago-
niza Aos Olhos de Ernesto, de
Ana Luiza Azevedo, nova pro-
dução da Casa de Cinema, e
que rendeu a Jorge Bolani o
prêmio de melhor ator no
Festival de Punta Del Este.
Neste filme, o ator interpreta
Ernesto, um ex-fotógrafo que
busca se reinventar ao enfren-
tar as dificuldades da idade
avançada. O longa-metragem
venceu o prêmio da crítica na
Mostra de SP e o de público
em Punta Del Este.


TRAJETÓRIA DE UM ATOR
O Arquivo N deste sábado, 14,
faz homenagem aos 85 anos
de Juca de Oliveira (foto).
Com mais de 60 peças e perso-
nagens inesquecíveis no currí-
culo, ator e dramaturgo conta
como mergulha no universo
da caracterização. “O trabalho
é de análise para construir a
criatura, para saber quem ela
é. Para você representá-la é
como se vestisse uma roupa.
Você veste um smoking, uma
roupa de noite, você fica com

postura ereta, não pode se sen-
tar de qualquer maneira. Se
você está de short, senta de
outra forma. Assim é a alma
da pessoa que você veste”, diz
o intérprete de personagens
como o João Gibão, de Sara-
mandaia, e o Dr. Albieri, de O
Clone. Programa vai ao ar às
16h05, na GloboNews.

SAMBA NA VEIA
Cartola e Paulinho da Viola
são homenageados pelo pro-
grama Recordar É TV, que vai

ao ar neste sábado, 14, às
20h, na TV Brasil. Atração
destaca o talento e a elegân-
cia dos dois sambistas, resga-
tando alguns de seus momen-
tos antológicos, por meio de
entrevistas da década de


  1. Com depoimentos do
    próprio Cartola, de sua mu-
    lher, Dona Zica e de Pauli-
    nho da Viola. Episódio conta
    a trajetória dos artistas inter-
    calada por interpretações de
    seus maiores sucessos.


POR UMA EXPLICAÇÃO
O interesse pelo caso do as-
sassinato da vereadora Ma-
rielle Franco e de seu moto-
rista Anderson Gomes fez
com que a audiência do pri-
meiro episódio da série Ma-
rielle – O Documentário, exibi-
do na noite de quinta, 12, na
Globo, aumentasse. Em São
Paulo, registrou 13 pontos
de audiência e 28% de parti-
cipação, atingindo 3 pontos
acima da média de audiência
da faixa nas últimas quatro
quintas-feiras e 2 pontos a
mais de participação. No
Rio, teve 16 pontos de au-
diência e 33% de participa-
ção, elevando em 4 pontos
tanto a audiência quanto a
participação em relação à
média da faixa nas 4 quintas
anteriores. Série estreou na
sexta, 13, no Globoplay.

‘Caldeirão do Huck’. A banda Now United, formada por integran-
tes de diferentes países, é destaque deste sábado, 14, do progra-
ma de Luciano Huck, que terá uma surpresa especial para uma fã.

Multinacional


O Tempo e o Vento
(Brasil, 2013.) Dir. de Jayme Mon-
jardim, com Thiago Lacerda, Fer-
nanda Montenegro, Marjorie Estia-
no, Cléo, Martin Rodriguez, Mayana
Moura.

A Morte Passou
por Perto/
Killer’s Kiss
(EUA, 1955.) Dir. de Stanley
Kubrick, com Frank Silvera,
Jamie Smith, Irene Kane, Feli-
ce Orlandi, David Vaughn.

Uma espécie de versão conden-
sada da obra monumental de
Erico Verissimo. A formação
do Rio Grande por meio das
histórias de Ana Terra, Capitão
Rodrigo, Bibiana, o cerco ao
Sobrado. Suntuosamente foto-
grafado, mas um tanto edulco-
rado e com foco no erotismo,
que tanto atrai o diretor.

C. BRASIL, 15H55. COLORIDO, 115 MIN.

Luiz Carlos Merten

Uma maratona dedicada
ao gênio de Kubrick. Come-
ça com seu segundo longa,
sobre boxeador que dispu-
ta garota com chefão do
crime, e ele manda matá-
lo. A programação prosse-
gue com O Grande Golpe, às
15h35; Glória Feita de San-
gue, às 17h10; Spartacus, às
18h50; e 2001 – Uma Odis-
seia no Espaço, às 22h. Fil-
mes de assalto, de guerra,
épico, ficção científica.

TEL. CULT, A PARTIR DAS 14H15

Cemitério Maldito/
Pet Sematary
(EUA, 2019.) Dir. de Kevin Kolsch e
Dennis Widmyer, com Jason
Clarke, Amy Seimetz, John Li-
thgow, Jeté Laurence.

Nova versão da conhecida his-
tórias de Stephen King. O cemi-
tério maldito localiza-se em
território indígena e acolhe
animais domésticos. Só que
eles retornam à vida – mons-
truosos. A tragédia atinge uma
família, com a morte da filha
caçula. Imagine o resto. Mais
que assustador, é sinistro.

TEL. PREMIUM, 22H. COL., 120 MIN.

DESTAQUE

Literatura. Baseado em peça infantil, ‘O Pequeno Príncipe Preto’


chega às livrarias com uma história sobre afeto, aceitação e união


Novas narrativas


Sem Intervalo Filmes na TV

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Infantil.
Obra fala
sobre
valorizar
quem se é e
suas origens


JULIANA BARBOSA PEREIRA

Maria Fernanda Rodrigues

Rodrigo França, autor da peça
O Pequeno Príncipe Preto, que lo-
tou teatros, conta que a ideia de
publicar um livro baseado no
texto que escreveu para o palco
surgiu porque ele sempre sou-
be que por mais sucesso que
uma peça faça seu alcance é pe-
queno. “Viajamos muito pelo
Brasil, mas não conseguimos fu-
rar uma bolha necessária. E o
livro pode estar na biblioteca,
ele é dado de presente, pode ser
comprado pela internet. A ideia
foi que os valores que têm den-
tro do espetáculo chegassem pa-
ra outras crianças e adultos”,
conta o autor.
Esses valores, passados a Ro-
drigo, hoje com 42 anos, por
seus pais e, principalmente, por
sua avó, são transmitidos aqui,
pela baobá. “É como se ela fosse
a avó do menino que vai passar
os valores, a sabedoria, o senti-
do de autovalorização e de auto-
cuidado e que vai mostrar que é
importante ouvir e respeitar os
mais velhos”, conta o autor que
explica ainda que a baobá dá fru-
tos, serve de reservatório de
água quando chove porque seu
tronco é oco e é onde os africa-
nos enterram seus mortos. Na-
da como a erva daninha de
Saint-Exupéry.

Na história, o pequeno prínci-
pe tem o sonho de conhecer ou-
tros planetas, saber quem mora
lá e o que fazem. Ele aproveita a
chegada das ventanias e, ao visi-
tar esses lugares, vai espalhan-
do a semente da baobá e o ubun-
tu. Essa foi uma promessa dele
para sua árvore companheira:
espalhar sua semente e ensinar
que juntos todos ganham.
“Não existe tecnologia mais
potente do que estar junto, aqui-
lombado, para usar um termo
mais histórico. Essa é uma ca-
racterística dos nossos povos
originários, indígenas e africa-
nos, que estamos perdendo. As
novas formas de organização so-
cial nos levam a estar separa-
dos, cada um no seu celular, fo-
cado no seu projeto e na sua vi-
da”, comenta França.
É sobre isso também que ele
quer conversar com seus leito-
res. “Quando percebemos que
a dor não está relacionada só a
você, que ela é estrutural e com-
partilhada com outras pessoas,
entendemos que não temos ge-

rência sobre aquilo, que a culpa
não é nossa e que não há motivo
para chegar à tristeza extrema”,
diz depois de comentar sobre o
aumento dos casos de depres-
são e suicídio entre os jovens.
Ele completa: “Acredito que
devemos estar juntos, que cada
um deve procurar seu grupo e
seu coletivo para poder reali-
zar e transformar. É impossível
estar nesse mundo, especial-
mente nesse momento, sem po-
der transformar algo, sem po-
der colaborar para uma mudan-
ça para melhor. E não dá para
fazer sozinho”.
Com humor e sensibilidade,
O Pequeno Príncipe Preto fala so-
bre ancestralidade, afeto e em-
patia, e também sobre valorizar
quem somos e nossa história –
valores que Rodrigo e Juliana
aprenderam em casa e colabora-
ram para a autoestima deles.
Aos 22 anos, a estudante de
design que já trabalhou na iden-
tidade visual da peça e que ilus-
tra agora seu primeiro livro con-
ta que seus pais sempre lhe de-

ram livros e mostraram filmes
com personagens que se pare-
ciam com ela.
“É sobre isso que o livro e a
peça falam: que nossa pele é boni-
ta, que nosso cabelo é bonito. Eu
tive o privilégio de ter pais as-
sim, numa época em que o assun-
to não era forte, e isso com certe-
za mudou a visão do que eu sou e
me fez ter a autoestima que te-
nho hoje. É importante ter essa
representatividade, ver uma pes-
soa igual a você fazendo coisas
que você gostaria de fazer, abrir
esse caminho de possibilida-
des”, diz. Para ela, a história fala
também sobre amizade, amor,
aceitação, se achar bonito e acei-
tar a diferença dos outros. É tam-
bém sobre abraçar todo mundo.
“A importância de uma história
como essa é enorme ainda mais
para as crianças que estão lendo,
independentemente de como
elas são”, completa Juliana.
Seu desafio nesse projeto foi
criar um rosto para o persona-
gem. “Eu queria passar uma ex-
pressão leve, infantil, de uma

criança que está explorando esse
universo e viajando por esses pla-
netas. E que fosse um rosto com
o qual as crianças pudessem se
identificar porque a representati-
vidade é essencial. Se você não
tem um livro com um persona-
gem que se pareça com você, co-
mo vai poder achar que é capaz e
pode fazer alguma coisa?”
Este é um livro para todos, diz
Rodrigo França. “Ouvimos de
pessoas não negras que elas não
sabiam como tocar nesse tipo de
assunto com os filhos e sentiam
que as crianças estavam reprodu-
zindo valores nos quais a família
não acredita.” Para o autor, o que
faz com que uma criança repro-
duza o racismo ou qualquer tipo
de preconceito é não entender
que existe uma diversidade e que
essa diversidade é uma caracte-
rística positiva e rica. E isso está
no livro e na peça. “Quem ler ou
assistir ao espetáculo vai enten-
der que não existe uma única cor
da pele”, diz Rodrigo, alvo de ra-
cismo quando participou do Big
Brother Brasil e que tem outros
três projetos teatrais em anda-
mento: é codiretor de Yabá: Mu-
lheres Negras, que estreia no Rio;
é autor e diretor de Capiroto, pre-
visto para estrear em São Paulo
em abril, e em junho apresenta O
Circo de Benjamin, para crianças,
sobre o primeiro palhaço negro.

MINOTAUR PRODUCTIONS

O PEQUENO
PRÍNCIPE
PRETO
Autor: Rodrigo
França
Ilustradora:
Juliana Barbo-
sa Pereira
Editora: Nova
Fronteira
(32 págs.;
R$ 39,90)

PAULO BELOTE/GLOBO

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 14 DE MARÇO DE 2020 Caderno 2 C5

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