O Estado de São Paulo (2020-03-15)

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2020 Internacional A


Lucien Chauvin
Anthony Faiola
THE WASHINGTON POST / LA PAZ


O governo de Donald Trump
vem ignorando a repressão
desencadeada pela presiden-
te Jeanine Áñez, na Bolívia.
Para os críticos, o fato de a Ca-
sa Branca não chamar a aten-
ção para os delitos cometidos
pelo governo boliviano mina
a pressão americana em ou-
tras partes da região contra
governos autoritários de es-
querda, especialmente na Ve-
nezuela.
Quando o presidente Evo Mo-
rales renunciou, em novembro,
em meio a acusações de fraude
eleitoral, Áñez era a segunda vi-
ce-presidente do Senado e
membro de um partido de opo-
sição conservador. Na ausência
de Evo, ela se declarou presiden-
te interina e foi rapidamente re-
conhecida pelos EUA.
Desde que assumiu, Áñez or-
denou a detenção de centenas
de opositores, amordaçou jor-
nalistas e empreendeu uma
campanha de “pacificação na-
cional” que deixou pelo menos
31 mortos.
“A relutância do governo


Trump dá a Áñez espaço para fa-
zer o que ela quiser, incluindo
atos de vingança”, disse Michael
Schifter, presidente do centro
de estudos Diálogo Interameri-
cano, de Washington. “Isso vai
entrincheirar ainda mais gover-
nos como o de Nicolás Maduro.
Eles veem o que ocorre na Bolí-
via e sabem o que os espera se
deixarem o poder, apesar das ga-
rantias oferecidas.”
Nadia Cruz, chefe do Ministé-
rio Público da Bolívia, disse que
está preocupada com a criminali-
zação dos protestos, em que acu-
sações de “conspiração” e “terro-
rismo” são feitas pelo simples fa-
to de uma pessoa discordar ou
questionar o governo.
Na semana passada, a presi-
dente da comissão de direitos hu-
manos da ONU, Michelle Bache-
let, manifestou “preocupação”
com “processos contra dezenas
de ex-autoridades e pessoas que
mantinham relações com Evo”.
Grupos de direitos humanos de-
nunciaram Áñez por vetar a parti-
cipação de dois especialistas em
uma comissão da OEA criada pa-
ra investigar abusos na Bolívia.
Áñez e membros do governo
não se manifestaram a respeito.
O deputado Tomás Monasterio,

aliado da presidente, disse que
as críticas são infundadas.
Publicamente, Áñez afirma
que está reagindo aos apoiado-
res violentos do ex-presidente,
acusado de corrupção e de ter

fraudado a eleição. Mesmo
quem foi a favor da saída de Evo
agora critica Áñez por usar amea-
ças e intimidação para se consoli-
dar no poder. Os alvos do novo
governo são antigos ministros e
políticos socialistas, acusados
de corrupção, sedição e “nomea-
ções ilegais”.
“Vem ocorrendo uma real per-
seguição de pessoas que traba-
lhavam no governo anterior”,
afirmou José Luis Quiroga, liga-
do a Carlos Mesa, ex-presidente
que concorreu contra Evo na
eleição de outubro e ficou em se-
gundo lugar. “Em muitos casos,
eles estão fazendo exatamente o
que os socialistas fizeram para
seus inimigos políticos”, disse
Quiroga. “Uma simples acusa-
ção e o MP e a polícia prendem a
pessoa.”

Silêncio. Até agora, os EUA
não condenaram Áñez. Em de-
zembro, após a morte de oposi-

tores na Bolívia, Trump manifes-
tou apoio à presidente. Um di-
plomata do Departamento de Es-
tado, ao ser questionado sobre o
porquê de os EUA evitarem falar
dos abusos do governo bolivia-
no, garantiu que Trump tem si-
do “imparcial”.
Evo foi presidente por 13 anos
e renunciou depois que o Exérci-
to e a polícia deixaram de apoiá-
lo. A confusão tomou conta do
país após seus aliados na linha
de sucessão também se afasta-
rem. Áñez assumiu a presidên-
cia e garantiu que não seria candi-
data – mas voltou atrás. “O papel
dela era conduzir o país na transi-
ção e não se candidatar a presi-
dente”, disse Waldo Albarracin,
ativista de direitos humanos.
Os críticos afirmam que ela
polarizou o país com sua retóri-
ca agressiva. Em janeiro, alertou
os eleitores para não permiti-
rem o retorno dos “selvagens”
ao poder, uma referência à he-

rança indígena de Evo e de mui-
tos aliados.
Os conservadores bolivianos
sempre acusaram Evo de exer-
cer pressão contra a mídia, mas
Áñez parece fazer a mesma coi-
sa, rotulando de “conspirado-
ras” as agências de notícias que
criticam seu governo. Humber-
to Pacosillo fechou sua Radio Pa-
cha em novembro, depois de ser
advertido pelas autoridades de
que poderia ser preso por conspi-
ração.
A resposta americana – ou a au-
sência dela – reflete o que os ana-
listas afirmam ser a política
mais ideológica dos EUA para a
América Latina desde que a re-
gião retornou à democracia, nos
anos 90. Talvez por isso o socia-
lista Luis Arce, ex-ministro das
Finanças de Evo, lidere as inten-
ções de voto para as eleições de
maio. Áñez está empatada em se-
gundo com Mesa. / TRADUÇÃO DE
TEREZINHA MARTINO

Este material é produzido pelo Media Lab Estadão com patrocínio da Perfect Flight.

APRESENTADO POR

A


preocupação ambiental,
principalmente entre
os países europeus que
importam produtos agrícolas
do Brasil, como a Holanda, não
pode mais ser dissociada das
relações internacionais que en-
volvem o agronegócio. Nesse
contexto, ganham mais peso fer-
ramentas tecnológicas voltadas
para a sustentabilidade, como o
aplicativo inovador, em termos
mundiais, desenvolvido pela star-
tup brasileira Perfect Flight. O
produto faz uma gestão, de forma
precisa, das aplicações aéreas de
defensivos agrícolas em lavouras.
Na sexta-feira (13), na fazenda
Pamplona da SLC Agrícola, em
Goiás, que produz soja, algodão
e milho, uma delegação do Minis-
tério da Agricultura da Holanda
participou de uma apresentação
sobre o software brasileiro. O
aplicativo, que pode ser consul-
tado em qualquer dispositivo
eletrônico, monitora tanto a rota
dos aviões usados na pulverização
de lavouras como a quantidade de
produto que é consumido pelas
propriedades rurais. “Desta for-
ma, conseguimos proteger, por
exemplo, as áreas habitadas e de
preservação permanente e tam-

Tecnologia pioneira


no mundo rastreia


uso de pesticidas


Software brasileiro é apresentado para


Ministério da Agricultura da Holanda


bém dosar a quantidade certa que
deve ser aplicada em cada área”,
afi rma Leonardo Luvezuti, gestor
de Operações da Perfect Flight.
Segundo Luvezuti, o que está
sendo feito hoje pela startup fun-
dada em 2015, pelos primos Jo-
sué e Kriss Corso, em São João da
Boa Vista, interior de São Paulo, é
algo inédito na agricultura mun-
dial. “Isso não ocorre nem em
países como os Estados Unidos
ou a Austrália, que utilizam muito
a aviação aérea para a pulveriza-
ção”, afirma. Nos últimos anos,
investidores também adquiriram
um total de 40% da agtech; são
eles Pedro Bonamichi, Norival
Bonamichi e Gilberto Theodoro.

PREOCUPAÇÃO COM
REDUÇÃO DE IMPACTOS
Para Marjolijn Sonnema, vice-
-ministra da Agricultura da Ho-
landa, a tecnologia apresentada é
interessante porque permite que
grandes propriedades, como a
fazenda Pamplona, consigam ter
dados de qualidade sobre as pul-
verizações aéreas que são feitas.
“Pelo que vi, é um programa que
oferece uma boa solução para se
usar o menos possível de pestici-
da no campo”, afi rmou Sonnema.

bre como o Brasil produz; en-
tão, resolvemos vir aqui para ver
o que está sendo feito, e estou
bem impressionada”, disse.
A Holanda é uma grande im-
portadora de soja brasileira. Na
fazenda, que pertence ao Grupo
SLC, a comitiva do país também
pôde conhecer uma fábrica de
produção de biodefensivos. Os
produtos, segundo Marcelo Pe-
glow, gerente da fazenda, tam-
bém se encaixam na filosofia de
sustentabilidade da companhia.
O grupo, de origem gaúcha,
que é um dos representantes
internacionais do agronegócio
brasileiro, com propriedades em
várias regiões do Brasil, assinou
um contrato com a Perfect Flight
para o monitoramento de suas
aplicações aéreas. Ao todo, serão
rastreados 2,5 milhões de hecta-
res, de um total de 5 milhões de
hectares que a startup brasileira
já monitora no Brasil, incluindo
muitas lavouras de cana-de-açú-
car no estado de São Paulo.

Há muitas coisas
sendo faladas
sobre como o
Brasil produz;
então, resolvemos
vir aqui para ver
o que está sendo
feito, e estou bem
impressionada”

MARJOLIJN SONNEMA,
vice-ministra da Agricultura
da Holanda

Segundo a vice-ministra ho-
landesa, a visita feita ao Brasil
por ela e outros cinco conse-
lheiros agrícolas holandeses se-
diados nas Américas está sendo
importante para conhecer me-
lhor as condições da produção
do agronegócio brasileiro. “Há
muitas coisas sendo faladas so-

Fotos Marck Castro

Visita a fazenda em Goiás contou com a presença da vice-ministra da Agricultura holandesa, Marjolijn Sonnema (no centro), e outros cinco conselheiros agrícolas do país sediados nas Américas

Leonardo Luvezuti, gestor de Operações da Perfect Flight, explicou as funcionalidades do aplicativo

Repressão


na Bolívia


expõe EUA


a críticas


Omissão americana diante de opressão de


opositores tende a dificultar saída de Maduro


DAVID MERCADO / REUTERS

Interina. Áñez se candidatou
após dizer que não o faria

Violência.
Protestos
contra o
governo de
Áñez em
La Paz

(FEDERICO RIOS/THE NEW YORK TIMES - 24/11/
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