O Estado de São Paulo (2020-03-15)

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B12 Economia DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO

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Erin Griffith
THE NEW YORK TIMES

Livia De Felice, dona de duas
propriedades para aluguel de
temporadas e administradora
de outras quatro na Itália, te-
ve todas as suas reservas para
março canceladas. “Fiquei ex-
tremamente preocupada”, dis-
se ela. Tracey Northcott e seu
marido, que cuidam de 12 apar-
tamentos para aluguel em Tó-
quio, disseram que a taxa de
ocupação passou de 80% para
zero desde janeiro. “Tenho de
continuar pagando minha hi-
poteca de alguma forma”, dis-
se Tracey, que tem uma equi-
pe de cinco pessoas para cui-
dar das propriedades e come-
çou a depender de sua aposen-
tadoria para pagar as contas.
As duas fazem parte de uma re-
de de pessoas que usa o
Airbnb para alugar casas e es-
tá sentindo no bolso as conse-
quências do coronavírus.
Com a suspensão de viagens
para tentar limitar a propagação
do surto, os problemas enfrenta-
dos pelo Airbnb e outros sites de
viagem e hospedagem, como
Booking e Expedia (leia texto
abaixo), aumentaram rapida-
mente. O preço que o vírus está
fazendo a indústria do turismo
pagar é de pelo menos US$ 688
bilhões, em uma conta rachada
com as companhias aéreas e
grandes redes de hotéis. Mas, ao
contrário de redes hoteleiras e
empresas de aviação, os servi-
ços online de hospedagem são
sustentados por listas de pro-
prietários individuais e de pe-
quenos hotéis, que normalmen-
te têm menos recursos para su-

portar uma crise prolongada.

Mais afetado. O Airbnb pode

ser uma das empresas com

maior estrago. Desde 2008,

tem milhões de anfitriões,

com um sistema que se tornou

cada vez mais sofisticado: há

pequenas operações de empre-

sas surgindo só para atender

às necessidades dos anfitriões

de limpeza e gerenciamento

das propriedades.

Avaliada em US$ 31 bilhões

por investidores privados, a star-

tup planejava abrir capital este

ano, após uma temporada di-

fícil – empresas da chamada eco-

nomia compartilhada, como

Uber e Lyft, tiveram estreias ru-

ins na Bolsa em 2019. Agora, a

empresa está sob pressão para

fazer sua oferta pública inicial

de ações, pois, caso isso não

aconteça, algumas das ações de

seus atuais e ex-funcionários na

empresa vão expirar. Por outro

lado, a volatilidade do mercado

de ações e um golpe dramático

nos negócios por conta do coro-

navírus podem tornar impensá-

vel qualquer empresa abrir seu

capital em breve.

Na semana passada, Brian

Chesky, presidente executivo

do Airbnb, enviou um e-mail aos

funcionários com a resposta da

empresa ao vírus. Na mensa-

gem, analisada pelo NYT,

Chesky disse que o Airbnb conce-

deria alguns reembolsos aos

clientes e estabeleceria um fun-

do de US$ 10 milhões para apoi-

ar as operadoras de aluguel chi-

nesas enquanto o turismo no

país, onde o surto começou, esti-

ver interrompido. “O Airbnb nas-

ceu durante uma crise global”,

escreveu Chesky, referindo-se à

crise de 2008. “Isso não nos im-

pediu e não vai nos deter agora.”

O Airbnb enfrenta outras con-

sequências do coronavírus, in-

cluindo um patrocínio dos Jo-

gos Olímpicos de Tóquio, que

pode estar em perigo se o even-

to for cancelado. O Comitê

Olímpico Internacional disse

que estava totalmente compro-

metido com a realização dos jo-

gos e seguiria o conselho da Or-

ganização Mundial da Saúde.

Mas, acima de tudo, o Airbnb

tem de lidar com queda na recei-

ta porque os viajantes estão can-

celando as estadias. Jasper Rib-

bers, que administra uma empre-

sa de treinamento para anfi-

triões do Airbnb na Bulgária,

aconselhou quem está nas re-

giões afetadas pelo vírus a redu-

zir os preços noturnos e custos,

além de buscar usos alternativos

para seus espaços, como encon-

trar inquilinos para longo prazo.

“Alguns anfitriões estão fazendo

eventos ou permitindo que artis-

tas locais usem os apartamentos

para sessões de fotos”, disse.

Austin Mao, anfitrião do

Airbnb em Las Vegas, começou

a reduzir os preços do aluguel de

suas propriedades no mês passa-

do e disse que seguirá fazendo

isso conforme as reservas desa-

celerem. Cada uma de suas ca-

sas gerava como receita cerca de

US$ 10 mil por mês, com custos

fixos de apenas US$ 3,5 mil. Em-

bora ele tenha percebido apenas

uma ligeira queda nas reservas

no início de março, estima que

isso aumente à medida que o me-

do do coronavírus se intensifica.

Em Tóquio, Tracey, que é anfi-

triã pelo Airbnb desde 2012, dis-

se que estava tentando achar tra-

balho para suas diaristas, que

são pagas por faxina. Seu negó-

cio, Tokyo Family Stays, já per-

deu mais de US$ 77 mil em reser-

vas entre janeiro e o esperado

para abril.

O Airbnb não divulgou deta-

lhes sobre os custos dos cancela-

mentos relacionados ao vírus. A

empresa permitiu que as pessoas

que viajam de e para China, Co-

reia do Sul e partes da Itália cance-

lassem suas reservas com reem-

bolso total. E informou que está

avaliando individualmente ou-

tras situações, incluindo pessoas

cujos voos foram cancelados ou

foram impedidas de viajar.

Na terça-feira, o Airbnb anun-

ciou um programa chamado “re-

servas mais flexíveis” que permi-

tirá que os anfitriões ofereçam

reembolsos mais facilmente

aos hóspedes. As viagens reser-

vadas até 1.º de junho, que não

se enquadram na política de cir-

cunstâncias atenuantes da em-

presa, também serão reembolsa-

das com cupons de viagem para

uma estadia futura. Em seu me-

morando para os funcionários,

Chesky tentou ser otimista. “O

turismo sempre se recupera”,

escreveu. “É uma das indústrias

mais resilientes do mundo.” /

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

lPeso

Além do Airbnb, outras empre-

sas de tecnologia com negócios

baseados em viagens e hospeda-

gem também estão sendo afeta-

das pelo avanço global do coro-

navírus. O site Booking.com,

por exemplo, retirou do ar suas

projeções financeiras para o

próximo trimestre. Com 6,3 mi-

lhões de opções em “acomoda-

ções alternativas”, que incluem

apartamentos e casas de tempo-

rada, a empresa afirmou que o

agravamento das condições im-

possibilitou a “quantificação

confiável” do impacto do coro-

navírus em seus negócios.

“O mundo mudou e precisa-

mos nos ajustar”, disse Glenn

Fogel, presidente executivo da

Booking.com, em uma entrevis-

ta recente, acrescentando que a

empresa também recuou em

seus gastos com publicidade.

O Expedia Group, dono da

VRBO, da Hotels.com e de mais

de uma dúzia de outros sites de

viagens, disse esperar entre

US$ 30 milhões e US$ 40 mi-

lhões em lucros operacionais

no primeiro trimestre. No quar-

to trimestre do ano passado, a

empresa teve US$ 160 milhões

em lucros operacionais. Recen-

temente, demitiu 12% de sua

força de trabalho, ou mais de 3

mil funcionários, o que, segun-

do ela, fazia parte de uma rees-

truturação planejada anterior-

mente.

“O que vem pela frente é real-

mente imprevisível”, disse

Barry Diller, presidente da Expe-

dia, sobre o coronavírus em

uma conferência com investido-

res no mês passado. “Tudo o

que estamos tentando fazer é se-

parar o que realmente acredita-

mos ser o efeito do vírus sob nos-

sos negócios em andamento, pa-

ra que possamos nos preparar e

tornar esses negócios em anda-

mento o mais fortes possível

quando isso terminar.”/ E.G.

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DESTAQUES NO ESTADO DE SÃO PAULO:

Leilão imperdível de

6

Como o Airbnb e seus anfitriões estão

sendo afetados pelo novo coronavírus

Empresas de turismo

online também

sentem impacto

Reserva cancelada. Estimativa de impacto na indústria do turismo é de pelo menos US$ 688 bilhões; redução em viagens pelo

mundo pode afetar pequenos negócios e usuários que oferecem compartilhar suas casas pela plataforma da startup de Brian Chesky

LOULOU D'AKI/THE NEW YORK TIMES

US$ 77 mil

foi o que Tracey Northcott, uma

anfitriã do Airbnb em Tóquio, já

perdeu em reservas canceladas

desde janeiro deste ano, por

conta da pandemia

Fundos. Tracey Northcott e o marido recorreram à aposentadoria para pagar contas

HARRY EELMAN/THE NEW YORK TIMES

Afetado. Diller, da Expedia,

diz que futuro é imprevisível

Companhias como

Expedia e Booking.com

estão revendo ou

retirando suas previsões

financeiras com a crise