O Estado de São Paulo (2020-03-15)

(Antfer) #1

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A4 DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Henrique
Mandetta,
ministro da
Saúde

»Xi... No Legislativo, a ir-
responsabilidade também
correu solta. Não foram
poucos os que alertaram os
bolsonaristas no Congres-
so, Assembleias e Câmaras
Municipais sobre a loucura
dos atos em meio ao avan-
ço do coronavírus no País.

»Delay. Ficou ruim tam-
bém para a esquerda, que
só cancelou os atos pelos
dois anos do assassinato de
Marielle Franco após Bolso-
naro ter ido à TV.

»Equação. Os receios dos
governadores, em especial
João Doria (PSDB-SP) e
Wilson Witzel (PSC-RJ),
em determinar o cancela-
mento das manifestações
eram dois: 1) tirar de Bolso-
naro a responsabilidade pe-
los atos e o desgaste do re-
cuo; 2) se indispor com a
turma das ruas e virar alvo.

»Delay 2. Somente após a
fala de Bolsonaro, Witzel
publicou decreto proibindo
manifestações no Rio.

»Em aberto. Do deputado
bolsonarista Marco Felicia-
no (sem partido-SP), sobre
o pronunciamento de Bolso-
naro na quinta-feira, reco-
mendando o cancelamento
dos atos: “O povo entendeu
que a postura do presiden-
te foi institucional, mas que
ele considerava as manifes-
tações importantes”.

»A ver. Quem compartilha
da mesma leitura feita por
Feliciano ainda apostava
ontem que haverá movi-
mentação nas ruas hoje.

»Xerife. Nem Henrique
Mandetta (Saúde), que até
aqui merece uma estrela de
condecoração, segundo de-
putados, escapou de derra-
par no episódio. Até bem
poucas horas antes do re-
cuo de Bolsonaro, o minis-
tro ainda “recomendava”
que só quem estivesse res-
friado ficasse em casa.

»Luto. Gustavo Bebianno,
morto ontem aos 56 anos,
vinha trabalhando intensa-
mente na construção de
sua candidatura à prefeitu-
ra do Rio pelo PSDB. Na
semana passada, ele jantou
com dirigentes do PSL.

»Se liga. O lançamento
das pré-candidaturas de
Guilherme Boulos (PSOL)
e Márcio França (PSB) a
prefeito de São Paulo fará
aumentar a pressão sobre
Fernando Haddad. Com
muitos nomes de esquerda
na corrida, cresce a possibi-
lidade de o PT perder o
bonde da polarização e fi-
car fora do segundo turno.

»Relax. Quem esteve re-
centemente com José Luiz
Datena diz que a disposição
do apresentador até aqui é
ser vice neste ano.

»Sarrafo... O PSDB-SP
atingiu a marca histórica de
450 pré-candidatos a prefei-
to no Estado. Nos primei-
ros dias da janela eleitoral,
o partido filiou, em ato na
capital, mais de 60 lideran-
ças disposta a disputar as
eleições deste ano.

»...alto. A meta ambiciosa
do governador João Doria e
do presidente do PSDB-SP,
Marco Vinholi, é eleger 200
prefeitos em outubro.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

O


jogo travado em torno das manifestações deixou
claro para quem acompanhou os bastidores do po-
der os altos riscos que a luta política impõe ao País
neste grave momento. Por medo ou cálculo estratégico,
ninguém (ou quase ninguém) nos Estados teve coragem
de se levantar contra as manifestações mesmo quando já
era amplamente reconhecido nos governos estaduais o
perigo das aglomerações. A corda foi esticada até o limite,
disse à Coluna uma autoridade de Saúde paulista. Ao final,
Bolsonaro capitulou, como queriam os governadores.

O risco da luta política


na crise do coronavírus


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Ex-ministro de
Bolsonaro morre

aos 56 anos. Pág. A


Gustavo Bebianno


Investigação avança sobre


patrimônio de Adriano


Milícia. Em apuração sobre lavagem de dinheiro, Ministério Público e Polícia Civil do Rio


identificam operadores financeiros e dimensionam fortuna do ex-capitão em bens e negócios


Ricardo Brandt
ENVIADO ESPECIAL / RIO

A Polícia Civil e o Ministério
Público Estadual do Rio de Ja-
neiro investigam o espólio mi-
lionário deixado por Adriano
Magalhães da Nóbrega, o capi-
tão Adriano, ex-chefe da milí-
cia que controla Rio das Pe-
dras, uma das maiores fave-
las cariocas. As apurações
são sobre lavagem de dinhei-
ro e buscam identificar opera-
dores financeiros e aliados,
além de dimensionar a fortu-
na acumulada por Adriano,
morto no dia 9 de fevereiro
por policiais da Bahia no mu-
nicípio de Esplanada.
O miliciano empregou a mãe
e a ex-mulher no gabinete de Flá-
vio Bolsonaro (sem partido-RJ)
na Assembleia Legislativa do
Rio – o atual senador e filho mais
velho do presidente Jair Bolso-
naro não é alvo da investigação.
Os investigadores já identifi-
caram bens e negócios que
eram geridos por Adriano. En-
tre eles imóveis (residenciais,
comerciais e rurais), animais
(em especial, cavalos), lojas de
material de construção, firma
de importação e exportação,
restaurantes, depósito de bebi-
das, venda de combustível rou-
bado e adulterado, serviços de
segurança, de transporte alter-
nativo, venda de água e gás, de
sinal de TV a cabo e internet
clandestinos, cobrança de ta-
xas por uso do solo e estaciona-
mento e serviços de agiotagem.
Considerado por autorida-
des um “intocável” – referência
ao nome da Operação Os Into-
cáveis, de janeiro de 2019, em
que foi decretada sua prisão –,
capitão Adriano era um ex-poli-
cial militar (expulso em 2014)
que, aos 43 anos, havia se torna-
do um dos mais poderosos e vio-
lentos milicianos do Rio.
Sua fortuna – quase toda em
nome de terceiros e laranjas –
deve ultrapassar a de outros mi-
licianos famosos. No mês passa-
do, a Justiça decretou o blo-
queio de R$ 2,8 milhões dos poli-
ciais Ronnie Lessa e Élcio de
Queiroz, que serão julgados co-
mo executores do assassinato
da vereadora Marielle Franco
(PSOL), há dois anos.
A reportagem consultou pro-
cessos na Justiça e documentos
das apurações, conversou com
investigadores e advogados so-
bre o patrimônio descoberto do
miliciano, seus métodos de mo-
vimentação financeira e lava-
gem de dinheiro. Parte do espó-
lio sob investigação foi bloquea-

da em 2019, por ordem judicial.
São contas bancárias, imóveis e
valores. Documentos apreendi-
dos nas buscas das duas fases da
Intocáveis – janeiro de 2019 e ja-
neiro de 2020 – e resultantes da
quebra de sigilo dos alvos da mi-
lícia dão dimensão da fortuna.

Imóveis. Arquivos encontrados
com o miliciano Manoel de Brito
Batista, o Cabelo, registram 101
apartamentos, em pelo menos
11 prédios, que rendiam, em mé-
dia, R$ 55 mil por mês com alu-
guéis para Adriano – que nos ar-
quivos aparece como “Gordi-
nho”, segundo a denúncia.
Espécie de “gerente armado”
e “braço financeiro da quadri-
lha”, Cabelo seria quem acom-
panhava as construções de pré-
dios irregulares em Rio das Pe-
dras e na Muzema, negociava as
vendas e locações, além de cui-
dar das operações para “oculta-
ção dos patrimônios”, sob o co-
mando de Adriano e outro líder.
Com ele foram apreendidos
também os controles de contas
usados pela milícia em nome de
laranjas, bem como a contabili-
dade dos gastos dos cartões de
crédito em nome dos “buchas”


  • laranjas –, que sustentavam
    até 2019 as despesas dos milicia-
    nos e seus familiares.
    As apurações mostram que
    os negócios imobiliários, que in-
    cluíam grilagem de terras, cons-
    trução irregular de prédios, cor-
    retagem e corrupção, viraram o
    principal meio de enriqueci-
    mento e lavagem de dinheiro
    do miliciano. Capitão Adriano e
    aliados investiam recursos le-
    vantados com as taxas de segu-
    rança, roubo de combustível e
    outros negócios na compra e na
    construção como “sócios em-
    preendedores” de prédios clan-
    destinos, como os que desaba-
    ram na Muzema no ano passa-


do. O dinheiro voltava em for-
ma de venda dos imóveis – o pre-
ço dos apartamentos variava de
R$ 50 mil a R$ 200 mil – e na
locação deles. Depósitos de ma-
terial de construção, construto-
ras e outros tipos de comércios
abertos em nome de laranjas ti-
veram os sigilos quebrados.
As investigações também reú-
nem provas sobre os investi-
mentos do capitão Adriano em
propriedades rurais e gado –
clássico método de lavagem de
dinheiro, com ocultação patri-
monial e fraudes fiscais. A locali-
zação do miliciano na Bahia, on-
de havia se escondido no sítio
do fazendeiro Leandro Abreu
Guimarães – competidor de va-
quejadas – trouxe novos ele-
mentos para a apuração.
Investigadores identificaram
que o miliciano investia, havia
pelo menos três anos, em com-
pra de sítios, ranchos e haras,
além de cavalos e projetos de
vaquejadas. Foragido desde ja-
neiro de 2019, capitão Adriano
chegou a participar de competi-
ções de vaquejada, em diferen-
tes Estados do Nordeste. Usou,
em algumas delas, o nome
Adriano da Nóbrega.
A apuração abrange possíveis
bens em pelo menos quatro Es-
tados: Rio, Bahia, Tocantins e
Sergipe. Animais de raça, como

os negociados, têm valores que
variam de R$ 20 mil a R$ 100 mil.

Herdeiros. Com sua morte, fa-
miliares e aliados são considera-
dos os “herdeiros” naturais do
espólio de Adriano. No radar es-
tão a mãe, Raimunda Veras Ma-
galhães, a ex-mulher Danielle
Mendonça da Costa Nóbrega e
duas irmãs, entre outros.
Negócios de restaurantes, lo-
jas e empresas de serviços e de
exportação podem ter sido usa-
dos para movimentar dinheiro e
como forma de investimento. O
objetivo da investigação, agora,
é recuperar a fortuna adquirida
com dinheiro de crimes e rever-
ter para os cofres públicos, além
de avançar sobre os métodos de
lavagem de dinheiro da milícia e
operadores e aliados que davam
cobertura ao esquema.
Nesse ponto, as investiga-
ções cruzam com apuração do
Ministério Público do Rio de Ja-
neiro sobre suposto esquema
de “rachadinha” – apropriação
de parte dos salários de servido-
res – no gabinete de Flávio Bol-
sonaro na Assembleia Legislati-
va , por meio do ex-assessor Fa-
brício Queiroz – que era amigo
do capitão Adriano. A mãe e a
ex-mulher do miliciano fazem
parte do grupo de servidores
que é alvo da investigação – que
está parada por ordem do Tribu-
nal de Justiça.
A morte de Adriano e a prisão
dos principais líderes da milícia
também podem desencadear
uma disputa pelo “espólio de
guerra” do grupo. Potenciais ini-
migos estão na mira de investi-
gadores. Rio das Pedras tem
mais de 70 mil moradores e cres-
ceu sob o domínio de milícias.
O cenário na comunidade é
incerto. Na semana passada, a
prefeitura do Rio mandou re-
troescavadeiras entrar em Rio
das Pedras para derrubar cerca
de 200 barracas e casas irregula-
res erguidas na beira do córrego
que são comercializadas por mi-
licianos e recebem taxas dos
ocupantes.

Santos Cruz

PRONTO, FALEI!

lO advogado Paulo Emílio Catta
Preta, que representava o capi-
tão Adriano, alegou que não atua
nas ações sobre a questão patri-
monial da família. A defesa de
Fabrício Queiroz nega que ele
tenha cometido crimes. Defenso-
res de Flávio Bolsonaro, que re-
correram para suspender investi-
gações contra ele no Rio, negam
ilícitos ou irregularidades na rela-
ção do cliente com servidores de
seu antigo gabinete. / R.B.

“Tenho certeza de que ele foi muito importante na
campanha para as eleições de 2018. Ministro leal, co-
rajoso e equilibrado”, sobre Gustavo Bebianno.

General e ex-ministro

»CLICK. Karim Miskulin,
do Grupo Voto, e o de-
sembargador Thompson
Flores, do TRF-4, que fa-
lou a empresários, em
São Paulo, sobre as elei-
ções americanas.

COLUNA DO ESTADÃO

Advogado prefere


não se manifestar


WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 10/3/

Identidade.
RG e
carteira da
PM estavam
com
Adriano no
dia em ele
foi morto na
Bahia

FOTOS: REPRODUÇÃO

Comunidade. Prefeitura do Rio mandou demolir moradias irregulares em Rio das Pedras, área dominada pela milícia
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