O Estado de São Paulo (2020-03-15)

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2020 Especial H3


mês, tendo em vista que essa informação pode
ser importante para identificar casos suspeitos
da doença. Os participantes devem saber se
algum caso foi confirmado. Essas pessoas de-
vem verificar, durante 14 dias, se apresentam
sintomas e medir a temperatura duas vezes
por dia nesse período.





As empresas podem ser obrigadas a
vacinar seus funcionários agora con-
tra a gripe?
“Isso dependeria de um acordo do governo
com as empresas”, afirma Paulo Olzon, clínico
e infectologista da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp).





O que devo fazer no transporte públi-
co?
O ideal é evitar tocar em corri-

mão e outras superfícies. Ao sair do transporte
público, a recomendação é lavar as mãos ou
usar álcool em gel com concentração de pelo
menos 70%.





É possível pegar coronavírus e dengue
ao mesmo tempo?
De acordo com o infectologista Jean
Gorinchteyn, do Emílio Ribas, o Brasil está com
um verão com altas temperaturas e fortes chu-
vas, o que favorece a presença do Aedes aegypti,
de modo que o impacto da dengue ainda será
sentido nos próximos meses. “Isso faz com que
haja o risco de uma infecção respiratória e, em
paralelo, uma infecção pela dengue.” Segundo o
infectologista, os sintomas da dengue são mais
intensos e a doença pode aumentar os sintomas
da covid-19. “O que não significa, obrigatoria-
mente, aumento do risco de mortalidade.”





É possível que surjam outros tipos de
coronavírus nos próximos anos?
Caso não haja evolução no trata-
mento ou desenvolvimento de vacina adequa-
da, é provável que haja cada vez mais muta-
ções e adaptações do vírus, assim como aconte-
ceu com o H1N1.





Há previsão de quanto tempo deve
demorar esse surto?
Ainda não é possível estabelecer
uma previsão factível. A duração depende do
processo de contenção de novos casos, da evo-
lução do tratamento e da transmissão sustentá-
vel em cada país.





Quais cuidados devo ter na acade-
mia?
O coronavírus não é transmitido

pelo suor, mas equipamentos usados por pro-
fessores e alunos podem ser contaminados pe-
lo contato. É recomendável levar de casa ál-
cool em gel com pelo menos 70% de concen-
tração para desinfetar esses equipamentos an-
tes e após o uso e, como em outras situações,
evitar tocar nariz, boca e olhos antes de lavar
as mãos. Alguns estabelecimentos reforçaram
a limpeza e começam a colocar avisos para que
alunos evitem ir à academia se tiverem algum
sintoma do coronavírus.





É possível ser contaminado pelo coro-
navírus durante a natação?
As piscinas costumam ter a água
tratada com cloro, o que mata vírus em geral,
então, elas provavelmente são seguras. É preci-
so, no entanto, ficar atento às situações que
podem expor os nadadores a risco, como con-
tato com superfícies contaminadas fora das
piscinas, como escadas e corrimãos.





Como evitar surtos futuros?
Os primeiros casos descritos da
atual pandemia causada pelo novo
coronavírus foram associados a um mercado
de frutos de mar e de animais silvestres vivos
em Wuhan, na China. O Sars-CoV-2 é um ví-
rus zoonótico, tendo sido originado de corona-
vírus que infectam morcegos, com passagem
em um hospedeiro intermediário ainda não
identificado (presume-se que possa ser o pan-
golim, um tipo de tamanduá escamoso). A exis-
tência de locais onde se realiza comércio e ven-
da de animais selvagens mortos e vivos, com
intensa presença de humanos, parece facilitar
o surgimento destes vírus emergentes – no ca-
so do Sars-CoV, no começo do século, a es-
pécie animal intermediária entre os morcegos
e o homem foi o gato civet, enquanto no caso
do Mers-CoV, em 2012, foram os camelos.

TESTE






Qual teste pode diagnosticar o corona-
vírus?
O exame que vem sendo usado pa-
ra confirmar ou descartar a infecção é o RT-
PCR, uma combinação das técnicas de transcri-
ção reversa e da reação em cadeia de polimera-
se.





Como esse teste é feito?
Colhe-se material das narinas e da
garganta do paciente. A secreção
colhida é processada e são separadas proteí-
nas, gorduras e carboidratos do material genéti-
co do vírus. O RNA do vírus é transformado
em um DNA complementar para que seja iden-
tificado posteriormente. O DNA complemen-
tar transcrito é, então, amplificado. É como se
cada ácido nucleico fosse aumentado e subme-
tido a uma reação química com substâncias
que só se ligam ao material genético se este
for o do vírus que está sendo buscado. Se a liga-
ção ocorrer, o teste é positivo.





Qual é o prazo para sair o resultado?
Todo o processamento da amos-
tra leva de três a seis horas, mas o
prazo dado pelos laboratórios privados para a
conclusão do teste é de pelo menos um dia
útil. Nos laboratórios públicos de referência,
que estão realizando vários exames, o prazo
pode ser maior.





Quanto custa na rede privada?
O preço varia de acordo com cada
clínica ou laboratório. O valor cos-
tuma estar na faixa dos R$ 250 por teste.





Ele é oferecido no SUS?
Sim. Hospitais e laboratórios valida-
dos pelo Ministério da Saúde e pelos
critérios oficiais de realização dos exames ofe-
recem o teste.





O teste é coberto pelos planos de saú-
de?
Sim. O Ministério da Saúde infor-
mou que os planos privados serão obrigados a
bancar os testes de detecção para os clientes.





O que é contraprova? É feita em todos
os testes para o coronavírus?
Todos os laboratórios públicos e

Sem aulas,


desigualdade no


ensino aumenta


ALY SONG/REUTERS – 03.02.2020

Renata Cafardo

O


s números são assustadores: mais
de 420 milhões de crianças e jovens
estão fora da escola no mundo por
causa do coronavírus. Não porque estejam
infectados, mas porque 39 países já fecha-
ram totalmente suas instituições de ensi-
no básico e superior, como Itália, China,
Noruega e Japão. Outras 22 nações parali-
saram as aulas em algumas regiões, como
Brasil, Estados Unidos, França e Inglater-
ra. A medida é para proteger a saúde, mas
há consequências educacionais que não
podem ser ignoradas.
Aqui no Brasil, apenas os Estados que já

têm transmissão comunitária tomaram es-
sa decisão por tempo indeterminado, São
Paulo e Rio de Janeiro. Quando isso aconte-
ce, não é possível mais identificar de onde
veio a contaminação, como quando sabía-
mos que era de alguém que viajou ao exte-
rior, por exemplo. No Distrito Federal, as
escolas foram fechadas por cinco dias antes
mesmo de haver esse tipo de transmissão.
A medida divide especialistas, principal-
mente sobre a hora certa de interromper
as aulas. Estudos indicam que as crianças
desenvolvem a doença de forma mais leve
ou até sem sintomas. Pesquisas com gru-
pos amostrais não indicam uma só morte
até 9 anos de idade e poucas entre jovens.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Man-
detta, já manifestou sua preocupação com
as crianças em casa, que passariam a ser
cuidadas pelos avós. Elas podem acabar
contaminando os idosos, maior grupo de
risco da doença.
Ao mesmo tempo, dependendo do cresci-
mento e do perfil dos casos, é preciso evi-
tar a circulação de pessoas, de qualquer

idade, para tentar manter o vírus longe de
quem pode se tornar um paciente grave.
A Unesco, braço das Nações Unidas para
a educação, tem olhado com atenção para
a educação global com o fechamento de
escolas. Os maiores prejudicados serão,
inevitavelmente, meninos e meninas de fa-
mílias mais pobres. Há riscos para a apren-
dizagem, a sociabilidade e a segurança das
crianças. A medida pode ainda aprofundar
as desigualdades na educação.
A pobreza já é um dos fatores que mais
contribuem para o fracasso no ensino. Em
um contexto sem escola, são os mais vulne-
ráveis que têm menos oportunidade de
aprendizagem em casa, como livros, ativida-
des de lazer e pais que ajudam a criança a se
desenvolver. Muitos também dependem da
escola para se alimentar adequadamente.
Como solução, fala-se em educação a dis-
tância. Por causa do coronavírus, as maio-
res universidades do mundo fecharam as
portas. Harvard, Columbia, Stanford estão
agora com atividades online. Mas isso tam-
bém é uma realidade distante no Brasil.

Mais de 30% das casas aqui não têm nem
sequer acesso à internet, em geral as mais
pobres. A Pesquisa TIC Domicílios mostra
que 24% de quem ganha até um salário
mínimo tem internet via cabo ou fibra óti-
ca, disponível em 60% dos lares com mais
de 10 salários. Fora que não existem boas
ferramentas ou videoaulas com qualidade
comprovada para sustentar a educação a
distância no ensino fundamental e médio.
A falta de escola também causa efeitos
na economia e na vida das pessoas. Pais
tendem a faltar no trabalho porque não
têm com quem deixar os filhos, o que re-
duz a produtividade – e aumenta o estres-
se. Todo pai e mãe sabe como é complica-
do manter o filho em casa por muito tem-
po e ainda com poucas opções de lazer, já
que é preciso evitar aglomerações, e até
clubes e parques começam a fechar.
O Brasil tem 48 milhões de alunos na
educação básica. O que nos resta é torcer
para que o clima quente nos ajude e o coro-
navírus não afunde mais ainda a castigada
educação do País.

ESPECIAL CORONAVÍRUS IMPACTO NA EDUCAÇÃO

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