O Estado de São Paulo (2020-03-15)

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H4 Especial DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


privados que detectarem casos devem ter seus
resultados validados por laboratórios de refe-
rência determinados pelo Ministério da Saúde.
Na rede pública, são quatro: Instituto Adolfo
Lutz, em São Paulo; Instituto Evandro Chagas,
no Pará; Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no
Rio de Janeiro; e Laboratório Central de Goiás,
capacitado para realização do exame dos brasi-
leiros que ficaram na Base Aérea de Anápolis
(GO) após serem repatriados da China.


TRATAMENTO






Há tratamento para a covid-19?
Ainda não existe medicamento ou
vacina para o coronavírus. Reco-
menda-se ingestão de líquidos, analgésicos e
antitérmicos. Pacientes com desconforto respi-
ratório precisam de internação e podem preci-
sar de suporte em unidade de terapia intensiva.






Que tipos de remédios e insumos são
usados para casos graves?
Por enquanto, não há remédios es-
pecíficos para casos graves.






Quais medicamentos usados para ou-
tras doenças estão sendo estudados
para o novo coronavírus?
Especialistas estão recorrendo a medicamentos
contra HIV, H1N1 e ebola. A Tailândia anunciou
que pacientes apresentaram melhora 48 horas
após serem tratados com uma combinação de
medicamentos para HIV e altas doses do oselta-
mivir, usado no tratamento de H1N1. Os Esta-
dos Unidos trabalham com uma farmacêutica,
que já desenvolveu tratamento para o ebola,
com o intuito de criar uma droga para o vírus.
Na China, médicos também têm usado medica-
mentos para HIV, tendo como base estudo de
2004 que apontou respostas favoráveis em casos
de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars).






Coronavírus deixa sequelas?
Ainda não é possível saber. “Al-
guns vírus respiratórios podem dei-
xar sequelas pulmonares, como o Vírus Sinci-
cial Respiratório (VSR). Até o momento, ainda
não há informações sobre os impactos com re-
lação no novo coronavírus”, afirma Jean Gorin-
chteyn, infectologista do Instituto de Infectolo-
gia Emílio Ribas. O vírus sincicial respiratório
é o responsável pela bronquiolite, doença que
afeta principalmente bebês recém-nascidos e
crianças com menos de dois anos.






É possível pegar mais de uma vez?
Há dois casos de pessoas na China
que tiveram a doença, melhoraram
e voltaram a ser diagnosticadas com infecção
pelo novo coronavírus. Esses casos estão sen-
do estudados para verificar se houve variante
da covid-19. “Não se tem mais relatos no mun-
do. Ainda não há nada concluído sobre isso”,
afirma Jean Gorinchteyn, do Emílio Ribas.


VACINA






Quem está estudando uma vacina con-
tra o novo coronavírus?
Ainda não existe medicamento ou
vacina para o coronavírus, mas cientistas de
pelo menos três laboratórios nos EUA e um na
Austrália estão pesquisando e buscando um
imunizante.






Quanto tempo deve demorar até que
se tenha uma vacina contra a covid-
19?
O conhecimento acumulado sobre a Síndrome
Respiratória Aguda Grave (Sars), a agilidade
no sequenciamento genético do novo vírus e
avanços tecnológicos na produção de imuni-
zantes indicam um cenário otimista. Um pro-
duto eficaz poderia ser obtido em um ano.






A vacina contra a gripe protege contra o
coronavírus?
Não. A gripe é causada por um vírus
diferente, o influenza.






Por que então o Ministério da Saúde
antecipou a campanha contra a gripe?
Embora a gripe seja causada por

um vírus diferente (influenza), o objetivo da
antecipação é evitar aumento de doenças respi-
ratórias e sobrecarga do sistema de saúde.

ORIGEM






Quando e onde o surto de covid-19
começou?
O vírus começou a circular no fim
de dezembro de 2019 em Wuhan, cidade com
11 milhões de habitantes localizada na China
Central. Os relatos iniciais indicavam que uma
“doença misteriosa” estava infectando as pes-
soas rapidamente e causando pneumonia. Em
janeiro deste ano, a China anunciou as primei-
ras mortes e, na sequência, o crescimento de-
senfreado de registros da doença, que já está
presente em todos os continentes.





De onde surgiu o novo coronavírus?
Ele chegou aos humanos por meio de
animais?
Estudos indicam que, provavelmente, a cepa
que começou a circular em Wuhan teve origem
em morcegos. As epidemias de Síndrome Respi-
ratória Aguda Grave (Sars) e de Síndrome Res-
piratória do Oriente Médio (Mers) foram cau-
sadas por coronavírus de morcegos, assim co-

mo uma epidemia viral extremamente letal nos
suínos. Um único morcego pode hospedar mui-
tos vírus diferentes sem adoecer, tendo em vis-
ta sua tolerância a infecções virais. Cientistas
independentes de uma universidade do Sul da
China divulgaram uma pesquisa em fevereiro
deste ano que associava o surto do novo coro-
navírus ao tráfico ilegal de pangolins, animal
ameaçado de extinção que seria um hospedeiro
intermediário do vírus entre os morcegos e os
humanos, sem apresentar sintomas da doença.
Em março, pesquisadores italianos descobri-
ram uma mutação genética que tornou o novo
coronavírus capaz de fazer um “salto de es-
pécies” e passar a infectar seres humanos.





Por que a nova doença foi batizada de
covid-19?
A OMS apresentou o nome da no-
va doença em 11 de fevereiro deste ano. Dire-
tor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghe-
breyesus explicou que o objetivo era definir
um nome que não se referisse a uma localiza-
ção geográfica, um animal, um indivíduo ou
um grupo de pessoas, e que também seja pro-
nunciável e relacionado com a doença.





Quantos tipos de coronavírus existem
no mundo e quais doenças eles cau-
sam?

De acordo com pesquisadores e com a OMS,
os coronavírus fazem parte de uma grande fa-
mília de vírus que são capazes de causar doen-
ças em animais e em seres humanos. “Em hu-
manos, sabe-se que vários coronavírus causam
infecções respiratórias que variam do resfriado
comum a doenças mais graves, como a Sars e a
Mers”, informa a OMS. Segundo a Secretaria
de Estado da Saúde de São Paulo, os coronaví-
rus são conhecidos desde meados dos anos
1960 e os coronavírus comuns que infectam
humanos são: alpha coronavírus 229E e NL63
e beta coronavírus OC43, HKU1.





Qual é a diferença entre o novo coro-
navírus e os outros tipos de coronaví-
rus já conhecidos?
Segundo Jean Gorinchteyn, infectologista do
Instituto de Infectologia Emílio Ribas, a covid-
19 é uma modificação genética de outro coro-
navírus. “Dessa maneira, ele adquiriu uma ca-
pacidade de transmissão pessoa a pessoa mui-
to maior.”





É tarde para erradicar o vírus? Vamos
ter de viver com ele?
Ainda não há informações suficien-
tes para dizer se é possível erradicar o vírus
nem mesmo se ele permanecerá endêmico. Pa-
ra conseguir a erradicação, seria necessário ter

Sem risco. Passageira tem temperatura checada no desembarque em Bogotá, na Colômbia. Restrições de
viagens foram adotadas por outros países, incluindo a recusa, pelos EUA, de voos vindos da Europa

Hora de chamar


o médico


LEONARDO MUNOZ/REUTERS – 05.03.2020

Zeina Latif

E


conomistas mundo afora estão de-
bruçados em seus modelos e suas
planilhas para projetar o crescimen-
to do PIB neste ano. O grau de incerteza é
enorme, pois nem sequer se sabe a dimen-
são da pandemia de coronavírus.
As estimativas de crescimento do PIB
mundial têm se encontrado em um interva-
lo entre 1% e 2,6%. Seria bom poder, com
segurança, descartar o resultado de 2009,
de contração de quase 1%, segundo o FMI.
A recessão mundial está batendo à por-
ta. Só não se sabe o tamanho. O crescimen-
to mundial abaixo de 2,0-2,5% já é conside-
rado recessão por muitos analistas, pois
países emergentes naturalmente crescem
mais e puxam a média global para cima.

A crise atual guarda pouca relação com a
de 2008/2009, quando houve um colapso
do crédito mundial. Na falta de informa-
ções confiáveis sobre a situação financeira
de empresas e bancos, ninguém queria em-
prestar para ninguém por medo do calote.
A receita para defesa era clara e foi utili-
zada: os bancos centrais inundaram a eco-
nomia mundial de liquidez, que se mante-
ve elevada desde então.
Havia atenuantes para emergentes, con-
tribuindo para conter o contágio: a crise
ter origem em economias avançadas e a
China ter conseguido conduzir políticas de
estímulo. O resultado foi que, grosso mo-
do, os emergentes puderam adotar políti-
cas anticíclicas, como estímulos monetário
e fiscal. Em crises passadas, esses países
foram obrigados a fazer arrocho. O resulta-
do foi uma recuperação rápida, em “V”, ain-
da que não a ponto de gerar bons números
em 2009, inclusive da economia brasileira.
O quadro agora é bem diferente. A crise
começou na China, o principal motor da eco-
nomia mundial, especialmente para os emer-

gentes. O espaço para políticas tradicionais
de estímulo é pequeno: os juros estão bai-
xos, já há muita liquidez e não há espaço pa-
ra expansão fiscal. Mesmo que houvesse ins-
trumentos, a eficácia seria limitada.
A primeira linha de defesa, na verdade, é
minimizar o contágio das pessoas, de forma
a conter o próprio contágio na economia.
O impacto na economia brasileira é ine-
vitável, como ficou claro pelo comporta-
mento dos mercados, mesmo que não hou-
vesse chance de epidemia em nosso territó-
rio. Há vários canais de contágio econômi-
co: alta do dólar, que implica pressão de
custos e dificuldades na tomada de decisão
de empresas; falta de insumos em alguns
setores, como já apontado pela indústria
automobilística; encolhimento do comércio
mundial; piora da confiança de investidores
e perdas de capital, entre outros. A lista
não é pequena.
Está difícil qualquer convicção sobre as
projeções de crescimento no Brasil. Há bai-
xa visibilidade. Por um lado, há o efeito do
corte de juros do Banco Central a se mate-

rializar. Por outro, o quadro muda rapida-
mente com o risco de uma epidemia no
País. Em caso de situação mais crítica nos
grandes centros urbanos, o impacto na eco-
nomia será ainda maior.
Sobre as respostas do governo, será ne-
cessário, em primeiro lugar, avaliar a capa-
cidade de conter o contágio de pessoas.
Na agenda econômica, a discussão princi-
pal não é a capacidade do BC de conter a
alta do dólar ou cortar mais ou menos a
taxa Selic. Isso é detalhe.
É necessário viabilizar recursos para a
saúde e avançar tempestivamente nas medi-
das para reduzir a rigidez do orçamento (a
chamada PEC emergencial). Ter plano de
voo na economia será essencial para preser-
var a confiança no País, o que requer pacifi-
car a relação com o Congresso. Já se fala
em crescimento de 1%, enquanto não dá
para descartar algo mais próximo de 2%.
São cenários possíveis. Difícil atribuir pro-
babilidades neste momento. Na realidade,
qualquer previsão agora é pouco confiável.
Com a palavra, os profissionais da saúde.

ESPECIAL CORONAVÍRUS IMPACTO NA ECONOMIA

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