O Estado de São Paulo (2020-03-15)

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H10 Especial DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


IMPACTO NO ESPORTE


Esporte em


quarentena.


E sem alegria






Como bater ponto remotamente?
O ponto pode ser efetuado de
forma manual, anotando horá-
rios de início e término da jornada, bem como
intervalos para refeição e descanso, repassan-
do essas informações para a empresa posterior-
mente. É comum adotar papeletas externas de
controle de empregados que trabalham a
maior parte do tempo fora das dependências
da empresa. Empresas que têm sistema e que
consigam registrar o login/logout dos emprega-
dos também podem adotar esse sistema para
controle da jornada.






O funcionário eventualmente diag-
nosticado com infecção pelo novo
coronavírus deve trabalhar remo-
tamente ou está dispensado?
A Lei nº 13.979/2020 estabelece que a pessoa
que estiver contaminada deve permanecer em
isolamento, mas não dispõe sobre o trabalho
remoto. Se o empregado estiver contaminado,
mas em boas condições de saúde e tiver todas
as ferramentas para trabalhar remotamente,
não haveria óbice para tanto. Entretanto, caso
o empregado infectado não esteja em boas con-
dições de saúde, deverá ser dispensado de suas
atividades, devendo ser considerada como fal-
ta justificada, nos termos do parágrafo 3.º do
artigo 3.º da referida lei. A definição deve ser
baseada em atestado médico.






O decreto da OMS de pandemia
pode alterar a legislação vigente?
Houve a promulgação da Lei nº
13.979/2020, que dispõe sobre as medidas de
enfrentamento do coronavírus, bem como al-
guns tribunais já editaram normas internas
cancelando audiências, julgamentos e atendi-
mento ao público. Se a crise se agravar, pode
ser que novas normas e orientações sejam pu-
blicadas no decorrer dos próximos dias. Entre-
tanto, a princípio, não deve haver alteração na
legislação trabalhista em vigor.


ECONOMIA






O Brasil corre o risco de entrar de
novo em recessão por causa do
surto de coronavírus?
Há risco de o País ter um ou dois trimestres
de queda no PIB, mas ainda não se sabe se o
resultado do ano seria negativo. Na avalia-
ção do economista Carlos Kawall, diretor do
ASA Bank, os modelos – com alta dos juros
futuros e do câmbio – já indicam condições
financeiras condizentes com uma recessão.
“Portanto, não é exagero falar em PIB negati-
vo por dois trimestres ou mesmo no ano no
Brasil.” Os cancelamentos de viagens e even-
tos devem provocar queda na atividade do
setor de serviços, que tem participação rele-
vante no PIB brasileiro. Além disso, pode ha-
ver desabastecimento da cadeia de suprimen-
to da indústria.






A epidemia deve ter impacto na
redução do desemprego?
Os dados mais recentes da Pes-
quisa Nacional por Amostra de Domicílios (P-
nad) Contínua apontam que a taxa de desocu-
pação era de 11,2% no trimestre encerrado em
janeiro, uma queda tímida em relação ao tri-
mestre anterior, e a tendência é de que o de-
semprego volte a subir, caso a atividade econô-
mica seja afetada. Para o pesquisador da con-
sultoria IDados, Bruno Ottoni, como a crise
deve alterar as perspectivas para o Produto In-
terno Bruto (PIB) deste ano, a velocidade de
recuperação do emprego também deve ser afe-
tada. Na avaliação do sociólogo Clemente
Ganz Lúcio, do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diee-
se), os impactos da parada da economia mun-
dial devem levar a uma queda no consumo das
famílias, das empresas e dos governos.






O avanço do coronavírus deve cau-
sar impacto na inflação?
A inflação medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) fechou fevereiro em 0,25% – o menor
resultado para o mês em 20 anos. Com a ati-
vidade econômica ainda reprimida, os preços
seguem controlados, ainda que o dólar esteja
acima de R$ 4 desde novembro do ano passa-


do. Para o economista Braulio Borges, pesqui-
sador do Instituto Brasileiro de Economia,
da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o
efeito tende a ser de queda da inflação. “Se
olharmos só para o câmbio, ele pode pressio-
nar a inflação. Mas, se considerarmos que o
preço do petróleo caiu de 25% a 30% nos últi-
mos dias e que outras commodities tiveram
queda, o efeito é desinflacionário, como foi
na crise de 2008.”





A crise vai interromper o movimen-
to das empresas que planejavam
abrir o capital?
Sim. Empresas e bancos de investimentos
estão avaliando o impacto do coronavírus no
Brasil. A Caixa Seguridade, por exemplo, de-
cidiu suspender a operação de abertura ini-
cial de ações (IPO, na sigla em inglês). Vinte
e seis empresas tinham arquivado pedidos
para IPO até abril. A expectativa é de que

parte dessas empresas adie a decisão para
junho. Se a crise persistir, só devem ir à Bol-
sa empresas com boas histórias de cresci-
mento, capazes de atrair investidores mes-
mo diante de um cenário de turbulência.





Quais as moedas devem ter maior
desvalorização com o coronavírus?
É difícil apontar as que devem
ficar mais desvalorizadas, diz o chefe do Cen-

Robson Morelli

G


anhar ou perder sempre foi do jogo.
O que nunca foi, pelo menos não
nos tempos recentes, é tirar do tor-
cedor a alegria de se divertir no esporte.
Mas o momento é de cautela e de com-
preensão. É preciso parar e se organizar
melhor. O mundo esportivo está de quaren-
tena por causa do novo coronavírus. Há
muita preocupação. No Hemisfério Norte,
o mais atingido, tudo parou. O que não pa-
rou tende a parar nos próximos dias.
A doença vem descendo de forma rápida
e assustadora para o Hemisfério Sul, onde
estão os países mais pobres e com menos

condições de conter o surto de forma dig-
na. Nessa esteira, a maior diversão dos cida-
dãos, em sua maioria, fecha as portas. O
esporte de forma geral e o futebol particu-
larmente estão contaminados. Há muitas
dúvidas. As partidas precisam ser inter-
rompidas. Não há como não temer 40, 50,
60 mil pessoas confinadas em um só lugar,
um estádio, onde cada gol significa um
abraço no colega do lado. Exagero? Talvez.
Partimos do pressuposto de que quem
está com os sintomas fica quietinho em
casa. Pode não ser assim. O vírus não dá
pistas nos primeiros cinco dias. As notí-
cias vindas do Norte são preocupantes.
Fronteiras foram fechadas, voos reduzi-
dos, partidas adiadas. Não dá para o Brasil
pagar para ver.
Os Jogos Olímpicos, maior evento espor-
tivo do ano, tem a estimativa de receber
em Tóquio 13 mil competidores, 270 só do
Brasil, e 600 mil turistas estrangeiros.
Ocorre que a comunidade esportiva inter-
nacional começa a pressionar o COI para
o adiamento da competição. A prudência

clama por isso. Não há como se divertir
diante de uma pandemia. A tocha olímpica
foi acesa na Grécia sem público nem graça.
O mundo fecha as portas. O esporte para
e o torcedor perde sua alegria. Game over.
Isso muda tudo. Não tem Eliminatórias da
Copa. Não tem Libertadores, nem torneios
na Europa. Não tem seletivas olímpicas.
Não tem tênis. Não tem NBA. Não tem F-1.
No Brasil a bola ainda rola. As pessoas se
reúnem nos estádios aparentemente sem
preocupação. A CBF mantém contato com
o Ministério da Saúde para saber que deci-
são tomar. Parar ou não parar? São Paulo
e Rio fecharam os portões do futebol. Ou-
tros Estados farão o mesmo.
Sem esporte, a vida muda. O povo fica
sem seu ópio. Também faz com que hábi-
tos sejam alterados. Uma nova tábua de
costumes começa a ser escrita. São novos
mandamentos. Há impacto na vida das pes-
soas. Não dá mais para reunir multidões
num mesmo lugar, mesmo aberto. Ter are-
nas sem público foi o primeiro passo. Não
é suficiente. Nem combina. Esporte pres-

supõe torcida. Atletas começam a se recu-
sar a pegar avião, se deslocar, encontrar
oponentes e cumprimentar rival.
As emissoras que transmitem esportes,
jogos e disputas, começam a se reorgani-
zar no sentido de reduzir equipes para es-
ses trabalhos. Na Europa, não há mais
transmissão.
Aqui no Brasil, o torcedor mais bem in-
formado certamente vai optar por ver os
jogos do sofá da sala de sua casa, da tela
do seu computador ou pelo streaming do
seu celular. Vai torcer sozinho, na solidão
da companhia de seus apetrechos eletrôni-
cos. Quando muito, um alô na varanda pa-
ra que outros possam festejar com ele a
distância. Ao seu lado, com sorte, apenas a
mulher e os filhos que também gostam de
futebol e param para ver as partidas.
A boa notícia é que não será assim para
sempre. Quando a pandemia voltar à condi-
ção de epidemia e assim sucessivamente
numa marcha à ré contínua até o seu desa-
parecimento, voltaremos a sair de casa, a
acompanhar esporte e a ter alegria.

ESPECIAL CORONAVÍRUS

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