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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 16 DE MARÇO DE 2020 Economia B
Fábio Gallo
Única certeza é
que sobe e desce
da Bolsa seguirá
É
bonito falar “a pandemia”,
mas, de verdade, para os doen-
tes tanto faz se é pandemia,
epidemia ou infecção, o que eles que-
rem é sarar rapidamente. A Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS), na
quarta-feira, decretou a pandemia
do coronavírus. Agora, oficialmente,
se trata de uma epidemia em escala
global, o que, na prática, muda muito
pouco o andar da carruagem, pelo
menos para a doença.
A diferença entre pandemia e epi-
demia é que a pandemia é uma epide-
mia em escala global, que se alastra pe-
los países, atingindo um grande número
de nações, com o aumento de novos ca-
sos e dos óbitos causados pela doença.
O coronavírus foi declarado pande-
mia. Algumas autoridades acham que
a OMS demorou para elevar sua gra-
duação, outras não veem qualquer mu-
dança na ordem das coisas e, como já
disse acima, para a pessoa infectada é
indiferente se é uma coisa ou outra, o
que ela quer é se livrar da doença o
mais rapidamente possível.
É verdade que a declaração da pande-
mia aparelha os governos com ferra-
mentas que permitem ações mais for-
tes, no sentido de proteger a popula-
ção, seja fechando as fronteiras ou to-
mando outra medida destinada a con-
ter a propagação do vírus.
As autoridades sabem que nas próxi-
mas semanas a pandemia deve cres-
cer, atingindo mais países, infectando
mais pessoas, levando um número
maior de doentes a óbito.
A Itália tem taxa de letalidade mais
alta do que a Coreia do Sul. Verdade que
parte do quadro é culpa das autoridades
italianas, que demoraram a reagir quan-
do as primeiras notícias de casos da
doença começaram a pipocar no país.
Os números chineses mostram um ví-
rus com grande capacidade de expan-
são, baixa mortalidade e capacidade de
infectar novamente quem já teve a doen-
ça. As análises brasileiras mostraram
que as duas primeiras vítimas foram in-
fectadas por vírus diferentes, um con-
traído na Alemanha e outro na Itália.
A China já fala no desenvolvimento,
em um mês, de uma vacina que poderá
ser usada em casos especiais. Todos os
países da União Europeia já foram atin-
gidos. Os Estados Unidos suspende-
ram os voos da Europa.
O Brasil foi atingido na boca do es-
tômago e, na semana passada, acele-
rou as medidas de prevenção. São
Paulo espera pelo menos 460 mil ca-
sos no Estado. A maior ameaça paira
sobre o Rio de Janeiro.
E aí surgem questões importantes
para o setor de seguros no mundo in-
teiro. Muitas apólices excluem das co-
berturas as epidemias e as pande-
mias. A regra vale, principalmente, pa-
ra os seguros de vida e planos de saú-
de privados.
Para determinar o que está coberto
ou não, prevalece o clausulado das
apólices. Assim, se a apólice não ex-
cluir expressamente a cobertura para
as pandemias e epidemias, o tratamen-
to do coronavírus está coberto. Toda-
via, se houver a exclusão, a seguradora
não tem de indenizar.
Importante salientar que as exclu-
sões devem ser específicas e individuali-
zadas. Pandemia é uma coisa, epidemia
é outra. Para que as exclusões prevale-
çam é indispensável que a realidade se
adeque à apólice. Não há negativa por
aproximação ou semelhança, quer di-
zer, se a seguradora escrever pandemia
e se tratar de epidemia, ela não pode
negar a cobertura e vice-versa.
Em países como a Grã-Bretanha, a re-
gra é clara e, se a exclusão for aplicável,
as seguradoras britânicas não vão inde-
nizar. Todavia, no Brasil, pode ser um
pouco diferente. Simplesmente es-
tar escrito pode não ser suficiente pa-
ra a seguradora negar a indenização.
Tanto é assim que, independente-
mente do clausulado dos planos de
saúde privados, o governo já deter-
minou que eles custearão os exa-
mes para detectar a doença. Ora,
quem cobre os exames, por simples
bom senso, cobre também o trata-
mento para a infecção.
As operadoras de planos de saúde
privados, ao longo dos anos, têm
custeado o tratamento de outras epi-
demias, como a dengue, o sarampo
e a chikungunya. Se algumas epide-
mias são cobertas, por que outras
não seriam? Dificilmente, os planos
de saúde brasileiros poderão man-
ter eventuais negativas de cobertu-
ra. Aliás, é pouco provável que ne-
guem, mas neste caso o Judiciário
mandará pagar.
]
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO
DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVO-
CACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADE-
MIA PAULISTA DE LETRAS
Mariana Durão
Completando um ano à fren-
te da área de renda variável
da BTG Asset Management,
e em meio à turbulência glo-
bal causada pelo coronavírus,
Will Landers afirma que o im-
pacto da pandemia ainda é
uma incógnita. “Ainda está tu-
do nebuloso e a volatilidade é
muito grande”, diz ele. Ape-
sar disso, avalia que a Bolsa
brasileira está relativamente
barata, além de enxergar com
bons olhos o setor de consu-
mo. A seguir, os principais
trechos da entrevista.
lO caos do coronavírus se
justifica ou é “fantasia”?
Acho que não dá para chamar
de fantasia. Sem dúvida tem
uma questão financeira para o
mercado, de qual vai ser o im-
pacto econômico mundial des-
sa crise. Aqui nos Estados Uni-
dos já vemos o fechamento de
escolas e pessoas tendo de tra-
balhar de casa. Muitos dos ban-
cos brasileiros e americanos es-
tão tendo restrições de via-
gens. Isso tudo tem um impac-
to primário e secundário nas
economias. É difícil quantifi-
car para cada setor e compa-
nhia porque não sabemos qual
vai ser a duração desse pânico.
lDiria que o momento é mais
tenso que 2008?
É bem diferente. O coronaví-
rus afeta as pessoas fisicamen-
te. Não sabemos se vai ter uma
vacina até o próximo inverno.
Em 2008, o quantitative ea-
sing (política de flexibilização
monetária do Fed) foi uma
bomba atômica na crise. Ago-
ra, esse mecanismo vai ajudar
o mercado, mas não cura o ví-
rus. A grande incerteza é quan-
to tempo isso vai durar. E ain-
da há a Arábia Saudita afetan-
do o preço do petróleo.
lO que o gestor pode fazer?
Nossa capacidade de ter um
hedge é limitada. É olhar o
mercado e buscar oportunida-
des. E esperar que o cotista te-
nha paciência também. Ainda
está tudo nebuloso e a volatili-
dade é muito grande. Estamos
fazendo ajustes pequenos no
portfólio, comprando compa-
nhias que gostamos e tendo
um pouquinho mais de caixa
do que o normal.
lEm que setores enxerga opor-
tunidades?
Continuamos com posições me-
nores em outros países ( da
América Latina ) do que no Bra-
sil, com preferência por compa-
nhias de consumo, e-commerce.
Reduzimos a exposição a petró-
leo e commodities pela crise na
Arábia Saudita e pelo que está
acontecendo na China. Mas o
Brasil continua bem e agora o va-
lor no setor de consumo discri-
cionário (consumo sensível aos
ciclos econômicos) baixou a ní-
veis mais interessantes.
lA Bolsa está barata?
Relativamente. A Bolsa agora
negocia a múltiplos bem abai-
xo da média histórica da últi-
ma década. Apesar do baru-
lho político recente, o Brasil
está com risco país bem abai-
xo da média desse mesmo pe-
ríodo, com a aprovação de vá-
rias reformas nos últimos
quatro anos. Isso me leva a
crer que a Bolsa merece vol-
tar a negociar a um prêmio
versus sua história quando
essa crise de covid-19 passar
e o mercado de petróleo se
recuperar um pouco dessa
guerra comercial.
lE a debandada dos investido-
res estrangeiros da B3?
Vi dinheiro saindo da Bolsa,
mas também entrando atra-
vés das operações de IPO ( o-
ferta pública inicial de ações )
e secundárias ( em 2019 ). O
que não houve realmente
foi um monte de investidor
vindo para o mercado brasi-
leiro depois da reforma da
Previdência, ao contrário do
que se esperava.
lPor quê?
Porque os investidores não
viram até agora o cresci-
mento econômico como re-
sultado das reformas. Está
demorando porque está ha-
vendo a transferência de li-
derança no crescimento do
governo para o setor priva-
do. Esse período de transi-
ção faz com que o PIB não
cresça tanto. Mas está na di-
reção certa, com uma situa-
ção fiscal e monetária me-
lhor, uma taxa de juros
mais compatível com a do
resto do mundo. É um pro-
cesso de normalizar uma
economia e muitos ainda
não se acostumaram a essa
nova realidade.
lA volatilidade deve fechar a
janela para novos IPOs?
Acho que, neste momento
de mercado, é muito difícil
uma companhia começar es-
se processo de fazer road
show ( com investidores ) e,
de outro lado, é difícil saber
quando a precificação vai
ser boa. Tem de deixar o
mercado se acalmar.
lSempre mantive meus investi-
mentos em renda fixa. No ano
passado, com a queda de juros,
entendi que deveria ir para
ações para ter algum ganho.
Mas a Bolsa ‘derreteu’. O que
faço agora?
A única coisa racional a ser
feita neste momento é man-
ter a posição. É uma situação
difícil e qualquer resposta
pode ser considerada incon-
veniente, porque o bolso de
cada um de nós está sendo
atingindo e muitas poupan-
ças estão virando pó. O pâni-
co bateu em todos os merca-
dos. A única certeza que te-
mos é que o sobe e desce
dos mercados vai continuar.
Mas vamos colocar a coisas
em perspectiva apenas para
tentar mostrar que agir de
maneira emocional neste mo-
mento pode levar a maiores
perdas do que o necessário.
Muita gente olha os índices
das Bolsas e toma a decisão
de vender porque está per-
dendo, mas, mesmo que isso
seja verdade, você está me-
dindo o tamanho efetivo de
sua perda? Lembre-se que
qualquer índice é um resulta-
do médio ponderado, e não
necessariamente é espelho
de seus investimentos. No
caso de alguém que tenha
investido no mercado de
ações no primeiro dia útil de
2019 e estava no mercado
até o dia 11 deste mês, a que-
da acumulada do Ibovespa
foi de 6,4%. Mas, se nesse
período estava investido na
Petrobrás, teria perda de qua-
se 38%, enquanto se tivesse
ações da Renner teria tido
um ganho de mais de 20%.
Para poder analisar mais ade-
quadamente os seus resulta-
dos, você deve comparar a
rentabilidade média pondera-
da de sua carteira com al-
gum índice de mercado. Por
exemplo, o CDI, que no acu-
mulado de 2019 até fevereiro
de 2020, teve uma rentabili-
dade de 6,67%. Algo também
muito importante a conside-
rar é a distinção entre perda
econômica e perda financei-
ro. A cotação cair gera perda
econômica que pode ser re-
cuperada no futuro, mas ven-
der as suas ações na baixa
significa perda financeira e
esta é definitiva no seu bol-
so, não se recupera mais. Só
faça isso considerando uma
estratégia bem clara dentro
de seu planejamento finan-
ceiro ou caso você esteja pre-
cisando de dinheiro e não
tenha outra solução a não
ser vender ações.
lSou portador de moléstia gra-
ve e já tenho idade avançada.
Dentre as minhas aplicações,
tenho PGBL e VGBL. Mas não
entendo por que o banco não
desconta IR do PGBL, mas no
VGBL ele faz desconto na fonte.
O banco não está errado, in-
felizmente. Por uma questão
de definição técnica, o Fisco
faz uma leitura ao pé da letra
da regra e dá a isenção aos
detentores de moléstia grave
no PGBL, e não no VGBL.
Como declara a Receita, o
VGBL a rigor não é um pla-
no de previdência comple-
mentar, mas, sim, enquadra-
se no ramo de seguro de pes-
soas. Para melhor entendi-
mento, o manual do Fisco
sobre o IR informa que a pes-
soa portadora de doença gra-
ve é isenta de tributo sobre a
renda oriunda de comple-
mentação de aposentadoria,
reforma ou pensão recebida
de entidade de previdência
privada, Fundo de Aposenta-
doria Programada Individual
(Fapi) ou PGBL e os valores
recebidos a título de pensão
em cumprimento de acordo
ou decisão judicial ou ainda
por escritura pública. Em ou-
tros termos, somente planos
de previdência e quando do
recebimento mensal de bene-
fício para complemento de
renda podem usufruir da
isenção. Os rendimentos
oriundos do VGBL estão su-
jeitos ao imposto sobre a ren-
da, na fonte e na declaração
de ajuste anual. Note que no
caso de resgate de saldo,
mesmo no PGBL, não há
isenção porque os resgates
não são assemelhados ao be-
nefício recebido da Previdên-
cia Social.
l]
ANTONIO
PENTEADO
MENDONÇA
ENTREVISTA
NOTA OFICIAL - INTERDIÇÃO CAUTELAR
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº
3.268/57, regulamentada pelo Decreto nº 44.045/58, bem como pela Resolução do CFM nº 2145/2016, decidiu,
na 4939ª Sessão Plenária realizada no dia 05 de março de 2020, PRORROGAR A INTERDIÇÃO CAUTELAR DO
EXERCÍCIO PROFISSIONAL do médico Edson Sanches, CRM/SP 48.194, denunciado nos autos do Processo
Ético-Profissional nº 12.247-204/15, pelo prazo de 6 (seis) meses, a contar de 06/03/2020, constituindo medida de
natureza preventiva com o objetivo de evitar prejuízos à população.
São Paulo, 16 de março de 2020.
Dr. Mario Jorge Tsuchiya Dr. Rodrigo Costa Aloe
Presidente Conselheiro Corregedor
Rua Frei Caneca, 1.282 - Consolação - 01307-002 - São Paulo - SP
Fone: (011) 4349-9900 - http://www.cremesp.org.br
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PUBLICADAS ÀS SEGUNDAS
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‘É olhar o mercado e
buscar oportunidades’
PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS
Para os doentes tanto faz se
é pandemia, epidemia ou
infecção. O que eles querem
é sarar rapidamente
Muitas apólices excluem das
coberturas as epidemias e
as pandemias; essa regra
vale principalmente para
os seguros de vida e planos
de saúde privados
ARTIGO
A pandemia
EDITAL PARA LICITAÇÃO Nº 002/
Associação Sabesp - Rua Treze de Maio, 1642 – Bela Vista – SP
CNPJ 49.750.839/0001-
Participação em Licitação para exploração de Pesqueiro.
A Associação Sabesp abre licitação para concessão de uso da exploração de Pesqueiro no o seu Clube
de Campo da Cantareira, localizado na Av.Luis Carlos Gentile de Laet, 2500 – Horto Florestal São
Paulo – CEP 02378-000.
Os interessados deverão apresentar orçamento específico para exploração da pesca e de lanchonete /
restaurante, com o seguinte horário de funcionamento: de segunda a domingo das 08:00 às 18:00 horas.
O Termo de Referência para a licitação estará à disposição dos interessados do dia 16/03/
à 23/03/2020 na sede social da Associação e também poderá ser acessado através do site:
http://www.associacaosabesp.com.br Os orçamentos deverão ser entregues em envelopes lacrados
até o dia 31/03/2020. Será reconhecido vencedor o interessado que apresentar o maior valor de
locação, desde que, obrigatoriamente cumpra com todas as obrigações da presente licitação.
São Paulo, 16 de março de 2020
Pérsio Faulim de Menezes - Presidente
FINANÇAS PESSOAIS
SHANNON STAPLETON / REUTERS
Longo prazo. Landers diz que preços de ativos na B3 estão abaixo de média histórica
Com o mercado ainda
‘nebuloso’ por conta do
coronavírus, executivo
vê chances de ganhos
na área de consumo
Will Landers, chefe da área de renda variável da BTG Asset Management