O Estado de São Paulo (2020-03-16)

(Antfer) #1
Psicose/
Psycho
(EUA, 1960.) Dir. de Alfred Hitch-
cock, com Anthony Perkins, Janet
Leigh, Vera Miles, John Gavin, Mar-
tin Balsam.

Fala
Comigo
(Brasil, 2016.) Dir. e roteiro de
Felipe Sholl, com Denise Fra-
ga, Karine Teles, Tom Karaba-
chian, Daniel Rangel, Letícia
Novaes.

O clássico de Hitchcock sobre
o mistério do Bates Motel. Ja-
net Leigh, como Marion Cra-
ne, dá desfalque na firma e fo-
ge. Vai parar no motel e é assas-
sinada. Por quem? Qual é o se-
gredo guardado por Nor-
man/Anthony Perkins? Basea-
do no pulp de Robert Bloch, o
filme leva o suspense ao limite.

TEL. CULT, 18H25. P&B, 108 MIN.

Amanda Hess
THE NEW YORK TIMES
NOVA YORK


Numa manhã de janeiro, Sarah
Jessica Parker e Matthew Brode-
rick estavam juntos no Upper
East Side, com uma hora livre. Sa-
rah não sabia o nome do local,
mas lembrava que, 20 anos an-
tes, Matthew havia dito a ela que
Robert Redford, no filme sobre a
CIA Três Dias do Condor , costu-
mava almoçar ali. Aquela lem-
brança foi o suficiente para visita-
rem a Lexington Candy Shop.
“Nunca vi vocês dois juntos”, dis-
se a eles o gerente do local. Mat-
thew Broderick e Sarah Jessica
Parker são, de fato, uma atração
fugidia em Nova York.
Em breve, no entanto, eles po-
derão ser vistos juntos na
Broadway, oito vezes por sema-
na. Em Plaza Suite, de Neil Si-
mon , eles interpretam três ca-
sais diferentes em três peças de
um ato cada uma. As histórias se
passam na Suíte 719 do Plaza Ho-
tel, por volta de 1968.
A peça, uma mistura de tragico-
média e farsa, foi escrita em meio
às mudanças nas expectativas
maritais nos anos 1960. Cada ca-
sal surge em situações distintas:
Sam e Karen Nash, cujo 23.º ani-
versário é abalado pela descober-
ta de um caso extraconjugal; Jes-
se Kiplinger e Muriel Tate, namo-
rados de colégio que agora têm
um caso extraconjugal; e Roy e
Norma Hubley, que se separam
no dia do casamento da filha.
Quando saíram da Lexington
Candy Shop, Sarah e Broderick
pegaram um ônibus em direção
ao centro da cidade, onde ensaia-
ram durante seis horas. Então fui
buscá-los para jantar no Orso, no
Theater District.
Vê-los juntos foi como presen-
ciar um casal raro: com sua curio-
sidade travessa e cômica e seu
charme reservado, eles lembram
um daqueles adoráveis filmes so-
bre vida selvagem, nos quais um
coiote fica amigo de um texugo.
Quando se sentaram, Broderick
leu um alerta do seu aplicativo
Citizen – “dois homens brigam
na frente de um banco na West
14th Street”, e Sarah pediu, doce-
mente, um Cosmopolitan.
“Não temos saído para jantar
juntos há muito tempo”, disse
ela. E agora ali estavam eles, num
encontro com um jornalista e
um gravador à sua frente.
Com a peça – que acaba de es-
trear no Hudson Theater e será
encenada durante 17 semanas –,
Sarah e Broderick vão passar mui-
to mais tempo juntos. Mas passa-
rão esse tempo sob a luz dos refle-
tores, falando sobre a montagem
para jornalistas e expondo sua vi-
da privada. Eles não falam muito
sobre o seu trabalho e, talvez por
isso, a relação venha sendo tão


boa por tanto tempo.
Contudo, sempre que come-
moram o aniversário de casa-
mento, em maio, são surpreendi-
dos por tabloides, que falam so-

bre sua suposta infelicidade. Per-
guntei se achavam que o The Na-
tional Enquirer tinha um alerta de
calendário para essas ocasiões.
“Eu acho que sim”, disse Sarah. E

o alerta vai soar novamente. Du-
rante o período em que Plaza Sui-
te estiver em cartaz, Sarah e Bro-
derick vão comemorar o mesmo
aniversário de casamento de Ka-
ren e Sam Nash na peça – o 23.º.
“Nós só percebemos há alguns
dias”, afirmou ela. “Pensamos:
‘Oh Deus. As pessoas vão pensar
que estamos lidando com nos-
sos problemas em público, o que
não é do nosso interesse’.”

Ensaios. Quando os encontrei,
em janeiro, eles ainda estavam
envolvidos nas etapas mais estra-
nhas do ensaio. “A experiência
de apenas abrir uma maleta em
busca de uma caneta enquanto
falo no telefone pode ser exte-
nuante”, contou Broderick. “É
como se esse pequeno ato levas-
se uma semana e meia: abrir
aquela porta imaginária e passar
por ela com sua maleta imaginá-
ria”, acrescentou.
O exaustivo trabalho de atuar
faz com que uma pessoa se sinta
vulnerável, mesmo em relação a
seu parceiro. Durante a época de
Sex and the City, Broderick foi
abordado para interpretar um
dos namorados de Carrie
Bradshaw, mas ele sempre disse
não. Mesmo as visitas dele ao set
de filmagem podiam ser um indu-
tor de ansiedade. “Eu pensava:
‘Matthew está aqui. Não olhe pa-
ra mim’.” Assim, por décadas,
eles não trabalharam juntos. E
não trabalhar juntos funcionou
bem para a relação do casal.

Em fevereiro, quando os en-
contrei novamente, eles esta-
vam no palco do Emerson Colo-
nial Theater, em Boston, onde a
produção fez uma experiência
antes da estreia na Broadway. O
trabalho de faz de conta tinha se
materializado em uma peça de
verdade, e o casal estava com o
figurino, ensaiando.
Entre o ensaio e a apresentação
daquela noite, Broderick, Sarah e
o diretor John Benjamin Hickey
fizeram uma pausa para discorrer
sobre o progresso do espetáculo.
“É uma peça sobre a meia-idade e
estar em relacionamentos por
muito tempo”, lembrou Hickey.
E mesmo quando dois atores se
conhecem por décadas, mesmo
se eles são casados, “eles entram
na peça juntos como estranhos”.
“Não é sua relação, sua amizade
ou seu casamento.”
Uma das graças de assistir à pe-
ça é que há um quarto casamento
escondido no subtexto. Depois
de ver três relacionamentos se es-
vaziarem e acabarem, Sarah Jes-
sica e Matthew Broderick sur-
gem no fim e se curvam diante da
plateia, lado a lado. Quando che-
garam a Boston, Sarah e Brode-
rick desenvolveram um ritual
pré-palco para acalmar um ao ou-
tro. Eles ficam em camarins sepa-
rados e, na hora de ir para os basti-
dores, Sarah deixa o dela primei-
ro e se dirige ao de Broderick.
“Você diz, ‘boa apresentação’”,
conta ele. “E nos beijamos.” /
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Luiz Carlos Merten

Felipe Sholl escreveu o ro-
teiro como trabalho de con-
clusão de curso e demorou
mais de dez anos para fazer
o filme – como diretor. A
espera ajudou, e maturou a
atriz – Karine Teles ainda
era muito jovem quando
leu o papel. Garoto tece fan-
tasias com as pacientes da
mãe terapeuta. Envolve-se
com uma, e a relação é com-
plicada. Karine foi melhor
atriz no Festival do Rio.

C. BRASIL, 19H55. COL., 92 MIN.

O Último Metrô/
Le Dernier Métro
(França, 1980.) Dir. de François
Truffaut, com Catherine Deneuve,
Heinz Bennent, Gerard Dépardieu,
Jean Poiret, Jean-Louis Richard.

O maior sucesso de público da
carreira de Truffaut é uma evo-
cação do mundo do teatro sob a
ocupação nazista da França.
Deneuve dirige o teatro do mari-
do, que, por ser judeu, teve de
fugir. Mas ele está escondido no
sótão e segue tudo o que se pas-
sa, inclusive o interesse da mu-
lher por seu galã (Depardieu).

TEL. CULT, 1h35. COLORIDO, 128 MIN.

Luiz Carlos Merten


P


aulo Francis implicava
com Kenneth Branagh e
Emma Thompson,
quando eram casados, e dizia
que o que faltava aos dois era
o batismo da sarjeta. Bra-
nagh surgiu como ator, e au-
tor, shakespeariano. Assinou
um belo
Henrique V e, depois,
Muito Barulho por Nada e
Hamlet**. Admitiu para o repór-
ter que nem Laurence Olivier
nem ele se comparavam ao
russo Innokenti Smoktu-
novsky, o melhor intérprete
do papel no cinema, no clássi-
co de Grigori Kozinstsev, do
começo dos anos 1960.
Branagh virou faz-tudo, e
quase sempre bem. Dirigiu
terror ( Frankenstein ), fanta-
sia ( Cinderela ), Marvel
( Thor ), mistério ( O Assassina-
to no Expresso do Oriente
). Di-
rigiu também espionagem e,
nesta segunda, 16, um bom
programa é Operação Sombra**


- Jack Ryan , que passa no Tele-
cine Action, às 23h55.

O filme de 2014 é dedicado
à memória do escritor Tom
Clancy, que morreu em 2013.
Clancy reformulou o concei-
to de espionagem no pós-


guerra fria, e justamente com
esse personagem. O primeiro
Jack Ryan, em Caçada ao Ou-
tubro Vermelho , de John Mc-
Tiernan, é de 1990. O ano é
1984 e um submarino soviéti-
co – ainda havia URSS – apro-
xima-se perigosamente da
costa dos EUA. Um especialis-
ta, Jack Ryan/Alec Baldwin,
tenta antecipar o que se pas-
sa na mente do almirante Ra-
mius/Sean Connery. Ele vai
atacar? Um thriller mental
era uma raridade na época, e

continua sendo. A ação como
um jogo de xadrez. Qual será
o próximo lance?
Jack Ryan viveu novas aven-
turas interpretado por Harri-
son Ford ( Jogos Patrióticos e
Perigo Real e Imediato ) e Ben
Affleck ( A Soma de Todos os
Tempos ). Todos esses filmes
estão disponíveis em DVD,
senão nas plataformas de
streaming. Chris Pine foi o
quarto ator a viver o papel –
no filme de Branagh. A dife-
rença é que não se trata de

uma adaptação, mas do rotei-
ro original de David Koepp e
Adam Kozer, aprovado pelo
próprio Clancy. O roteiro faz
uma espécie de súmula da vi-
da de Ryan. Fuzileiro no Afe-
ganistão, ferido em combate,
é recrutado pela CIA e vai tra-
balhar como analista de com-
pliance em Wall Street (e, se-
cretamente, na agência de in-
teligência). Descobre que o
homem mais rico da Rússia
está movimentando contas
na base do trilhão, no que po-
derá ser um ataque terrorista
econômico virtual para colo-
car a economia dos EUA no
chão. Ryan é enviado a Mos-
cou para investigar, mas Che-
revin, o ricaço, arma para que
a agência o considere traidor.
Para complicar, a mulher de
Ryan, Keira Knightley, o se-
gue na Rússia e cai nas mãos
do vilão. O próprio diretor
Branagh é quem faz o papel. O
filme tem ação, romance, mas
a trama apoia-se muito no uni-
verso virtual. Um thriller dos
novos tempos? Aonde chegou
a espionagem no século 21? É
atividade econômica, mais
que geopolítica e estratégica?
Interessantes questões que o
filme tenta responder.

PARAMOUNT PICTURES

Branagh, Clancy e a nova espionagem virtual


DESTAQUE

Teatro. Casal volta aos anos 1960 para interpretar três relações falidas na comédia ‘Plaza Suite’, de Neil Simon, na Broadway


‘Operação Sombra – Jack Ryan’. Kevin Costner e Chris Pine

Filmes na TV

l Relação

Broderick e Sarah, reencontro no palco


l Casal
“Só notamos
há alguns
dias que um
casal de
personagens
da peça
também faz
23 anos de
casamento,
igual a nós”
Sarah Jessica
Parker

VITRINE FILMES

PHILIP MONTGOMERY/THE NEW YORK TIMES

“É uma
peça
sobre a
meia-idade e
estar em
uma relação
por muito
tempo”
John
Benjamin
Hickey
DIRETOR

Sarah e
Matthew.
Em Boston,
onde a
peça foi
apresentada
antes da
estreia na
Broadway

%HermesFileInfo:C-5:20200316:
O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 16 DE MARÇO DE 2020 Caderno 2 C5

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