O Estado de São Paulo (2020-03-16)

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 16 DE MARÇO DE 2020 Política A


lEm uma transmissão feita ao
vivo em sua página no Facebook,
o bispo Edir Macedo pediu aos
fiéis que não se preocupem com
a propagação do novo coronaví-
rus. Ele atribuiu a tensão que o
mundo vive com o avanço da
doença a uma “tática de sata-
nás” e ao trabalho da mídia.
“Não se preocupe com o coro-
navírus. Porque essa é a tática
de satanás. Satanás trabalha

com o medo, pavor. E quando as
pessoas ficam apavoradas, com
medo, em dúvida, ficam fracas,
débeis e suscetíveis. Qualquer
ventinho que tiver é uma pneumo-
nia para elas”, afirmou o líder da
Igreja Universal, em vídeo trans-
mitido na quarta-feira passada.
A informação foi divulgada pe-
lo jornal Folha de S. Paulo e con-
firmada pelo Estado. “Por trás de
toda essa campanha do coronaví-
rus existe um interesse econômi-
co. E onde há interesse econômi-
co, aí tem”, declarou o bispo. Em
sua página, a Igreja Universal
publicou uma lista de cuidados
para evitar o contágio do vírus.

Vinícius Valfré / BRASÍLIA


Antes da chegada do presidente
Jair Bolsonaro aos Estados Uni-
dos, na semana passada, o depu-
tado Eduardo Bolsonaro (PSL-
SP) manteve compromissos na-
quele país para estreitar rela-
ções com personalidades da ex-
trema-direita norte-americana.
Entre os líderes com os quais o
filho “03” de Bolsonaro se encon-
trou estavam políticos conheci-
dos pelo uso de teorias conspira-
tórias para prejudicar adversá-
rios e por campanhas eleitorais
respaldadas por apoiadores ra-
cistas e radicais nacionalistas.
Nos Estados Unidos, Eduar-
do – que chegou a ser cotado
para assumir o cargo de embai-
xador do Brasil em Washington



  • se encontrou com a comitiva
    presidencial brasileira dez dias
    depois de sua primeira agenda
    na capital americana.
    Além de ir à Conferência de
    Ação Política Conservadora,
    evento no qual fez críticas à im-
    prensa e ao socialismo e defen-
    deu o acesso a armas, o deputa-
    do do PSL participou de um en-
    contro paralelo, promovido
    por um grupo de republicanos
    alinhados ao presidente dos Es-
    tados Unidos, Donald Trump.
    Todos os eventos são favorá-
    veis a uma “visão conservadora
    para o século 21”, conectada
    com o “espírito” da campanha
    de 2016 do magnata.
    Os cicerones do “03” nessa
    agenda do Republicanos pela
    Renovação Nacional, em
    Washington, foram dois polê-
    micos ícones da extrema-direi-
    ta. Um deles é Corey Stewart,
    um trumpista da Virgínia que
    concorreu ao Senado, em 2018,


e teve como um de seus mais
emblemáticos apoiadores o mi-
litante Jason Kessler, organiza-
dor da manifestação “Unir a Di-
reita”, que reuniu “supremacis-
tas brancos” e neonazistas com
bandeiras de suásticas em Char-
lottesville, em 2017.
Convocado para defender a
permanência de uma estátua
do controverso general Robert
Lee no centro da cidade, o ato
terminou com um dos manifes-
tantes jogando o carro contra o
grupo que queria a retirada da
imagem. Uma mulher morreu e
várias pessoas ficaram feridas.
Mais tarde, um declarado apoia-
dor de ideias neonazistas foi
condenado pelo atropelamen-
to.
Aliado de Stewart, Kessler
chegou a se referir à vítima co-
mo uma “comunista gorda e no-
jenta”. Embora o desfecho trági-
co tenha provocado comoção
na Virgínia, unindo republica-
nos e democratas moderados,
Stewart manteve o enfrenta-
mento. “As pessoas condena-
ram aqueles agitadores de extre-
ma-direita, mas ninguém pare-
ce condenar a esquerda. Clara-
mente, metade daquela violên-
cia foi praticada pelos esquer-
distas”, disse ele, na ocasião, a
uma rádio de Washington.
Com forte agenda anti-imi-
gração, Stewart – que fez pales-
tras com Eduardo no evento – é
visto com ressalvas até no meio
republicano. “Se quisermos
continuar com o legado de nos-
so partido, fundado sob a ideia
de acabar com a escravidão, de-
vemos rejeitar a mensagem des-
tinada à supremacia branca, an-
tissemita e racista de Corey
Stewart”, afirmou o correligio-
nário Nick Freitas.
Vieram à tona, ainda, manifes-
tações de apreço trocadas entre
Stewart e Paul Nehlen, um repu-
blicano do Estado de Wiscon-
sin que foi banido do Twitter
por comentários considerados
racistas contra Meghan Mark-

le, mulher do príncipe Harry.
Nehlen também é acusado por
judeus de fazer posts de teor an-
tissemita.
O outro líder conservador
que acolheu Eduardo na via-
gem do deputado foi Paul Go-
sar, deputado do Arizona. Os
nomes dos dois apareciam em
destaque no anúncio oficial do
evento do grupo Republicanos
pela Renovação Nacional.

Antissemita. Com a pressão
por uma autocrítica da extre-
ma-direita, Gosar passou a ava-
lizar a teoria conspiratória de
que a manifestação havia sido
preparada por simpatizante do
ex-presidente dos Estados Uni-

dos Barack Obama e financiada
pelo húngaro George Soros. Ele
também disse que o bilionário
progressista e judeu, que viu a
chegada das tropas de Adolf Hi-
tler à Hungria, entregou seu pró-
prio povo aos nazistas.
O evento Republicanos pela
Renovação Nacional foi discre-
to e reuniu um público reduzi-
do, com portas fechadas à im-
prensa. Um dos que estiveram
ao lado do brasileiro na mesa de
debates foi o jovem deputado
sueco Tobias Andersson, de 23
anos. O parlamentar provocou
polêmica na Inglaterra ao dizer,
em evento com conservadores
ingleses, que não havia viajado
ao país para roubar, ocupar ca-
sas ou atacar mulheres, porque
estrangeiros já faziam aquilo.
Eduardo, Stewart e Gosar
têm ao menos uma coisa em co-
mum: o interesse na populariza-
ção do acesso a armas de fogo.
Os dois americanos foram for-
malmente apoiados pela Asso-
ciação Nacional do Rifle (N-
RA). A entidade foi uma das pa-
trocinadoras da Conferência
de Ação Política Conservadora.
Durante o roteiro com políti-

cos conservadores, Eduardo
concedeu uma série de entrevis-
tas. Uma delas foi para Alex Jo-
nes, de quem o brasileiro se defi-
niu como “um grande fã”. Jones
é um dos mais célebres propaga-
dores de teorias conspiratórias
nos EUA, atividade que lhe ren-
de processos e sanções. O site
dele, o Infowars, já foi banido
de plataformas como Google,
Facebook e Spotify por ter con-
teúdo considerado de ódio. En-
tre as teorias falsas que criou ou
ajudou a viralizar está a de que o
governo lança produtos quími-
cos na água para transformar as
pessoas em homossexuais.
“Você não sabe, mas uns anos
atrás eu enviei um e-mail para
você para tentar ser o cara da
Infowars no Brasil”, disse
Eduardo na entrevista, reprodu-
zida nas redes sociais do filho
do presidente. “Temos que es-
tar conectados um ao outro pa-
ra combater essa era de fake
news”, emendou o deputado.
O Estado procurou Eduardo
Bolsonaro por meio do gabine-
te. Ao ser informado do teor da
reportagem, um assessor disse
que não receberia a demanda.

Edir Macedo


credita pandemia a


mídia e satanás


Secom. Wajngarten foi o
primeiro caso confirmado

Nos EUA, Eduardo


estreita laços com


a extrema-direita


NA WEB

RIO


Morreu na manhã de ontem, no
Rio, Afonso Arinos de Mello
Franco, conhecido como Afon-
so Arinos Filho, aos 89 anos. O
enterro será hoje. O velório não


foi realizado por causa da pan-
demia de coronavírus.
Afonso foi o sexto ocupante
da Cadeira número 17 da Acade-
mia Brasileira de Letras (ABL),
eleito em 22 de julho de 1999, na
sucessão de Antonio Houaiss.
Formado em ciências jurídicas
e sociais pela Faculdade de Di-
reito da Universidade do Brasil,
especializou-se em política e di-
reito internacional na Universi-
dade Internacional de Ciências
Sociais Pro Deo, em Roma.
Casou-se com Beatriz Fonte-

nele de Mello Franco, com
quem teve seis filhos, e serviu
ao Itamaraty por mais de 30
anos, onde ocupou cargos co-
mo embaixador no Vaticano,
Malta e Holanda.
Na política, foi deputado da
Assembleia Constituinte do en-
tão recém-criado Estado da
Guanabara pela União Demo-
crática Nacional (UDN) entre
1960 e 1961. Após o golpe mili-
tar de 1964, ocupou como su-
plente uma cadeira na Câmara
dos Deputados.

Em 1995, tornou-se comenta-
rista de política internacional
na TV Manchete, onde traba-
lhou até 1999. Além de conferên-
cias, artigos e discursos em di-
versos periódicos, foi escritor.
“Sou um memorialista, não me
preocupo em dar lição a nin-
guém” disse ao Estado em
2013, no lançamento de Tramon-
to , seu livro de memórias.
Afonso vem de uma família
de intelectuais: era filho do ex-
senador Afonso Arinos de Mel-
lo Franco, que criou a primeira
lei sobre racismo no País, e so-
brinho-neto do escritor Afonso
Arinos e do diplomata Afrânio
de Mello Franco. “Nossa casa
foi meta habitual de reuniões
políticas”, contou em seu dis-
curso de posse na ABL.

Jussara Soares / BRASÍLIA


O Gabinete de Segurança Ins-
titucional (GSI) e o Itama-
raty informaram ontem que
mais cinco integrantes da co-
mitiva que acompanhou o
presidente Jair Bolsonaro
aos Estados Unidos semana
passada estão com coronaví-
rus. Com isso, subiu para 11 o
número de contaminados na
delegação brasileira.

Além dessas 11 pessoas, o pre-
feito de Miami, Francis Suarez,
que se encontrou com Bolsona-
ro e parte de sua equipe na se-
gunda-feira passada na Flórida,
também teve resultado positi-
vo para covid-19.
Segundo o GSI, quatro pes-


soas da equipe de apoio que tive-
ram resultado positivo para o
novo coronavírus estão sem sin-
tomas e ficarão em isolamento
em casa por 14 dias. Os exames
foram colhidos na sexta-feira e
encaminhados para a Fundação
Oswaldo Cruz, no Rio. Os resul-
tados saíram ontem.
“Os demais componentes, cu-
jos testes apresentaram resulta-
dos negativos, continuarão no
autoisolamento, cumprindo o
protocolo determinado pelas
autoridades sanitárias”, infor-
ma a nota do gabinete.
O quinto funcionário que te-
ve confirmada a doença ontem
é o chefe do cerimonial do Ita-
maraty, Alan Coelho de Séllos,
segundo Ministério das Rela-

ções Exteriores.

Lista. O secretário de Comuni-
cação, Fabio Wajngarten, foi o
primeiro integrante da comiti-
va a receber resultado positivo
para o coronavírus, ainda na
quinta-feira. O adjunto dele,
Samy Liberman, e o embaixa-
dor Nestor Forster também es-
tão com a enfermidade. Tive-
ram o diagnóstico confirmado
para a covid-19 o senador Nelsi-
nho Trad (PSD-MS), a advoga-
da Karina Kufa e o publicitário
Sérgio Lima, respectivamente
tesoureira e marqueteiro do
Aliança do Brasil, partido que
Bolsonaro pretende criar, que
viajaram em um voo comercial
para os Estados Unidos.

Deputado participa de


eventos conservadores,


concede entrevistas e


se reúne com políticos


alinhados a Trump


Na política, Arinos foi


deputado da Assembleia


Constituinte do então


recém-criado Estado


da Guanabara


Membro da ABL e diplomata


morre aos 89 anos no Rio


ADRIANO MACHADO/REUTERS-29/01/

TWITTER EDUARDO BOLSONARO

TASSO MARCELO/ESTADÃO – 22/7/

Bebianno fala


em ‘teoria do


ódio’ em carta


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS Coronavírus eleva abstenção em eleição francesa e ameaça 2º turno. Pág. A8 }


l Entrevista

Número de infectados no governo chega a onze


GSI e Itamaraty confirmam mais cinco casos de integrantes de comitiva brasileira que foram à Flórida estão com o novo coronavírus


EUA. Eduardo com Trump e Ivanka Trump durante viagem do deputado no início deste mês

Carta. Leia a
íntegra da carta
de Bebianno

estadao.com.br/e/cartabebianno
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AFONSO ARINOS DE MELLO FRANCO H 1930 = 2020


Memória. Afonso foi o 6º ocupante da Cadeira nº 17 da ABL

BRASÍLIA

Um dias após a morte do ex-mi-
nistro Gustavo Bebianno, o pre-
sidente do diretório fluminen-
se do PSDB, Paulo Marinho, di-
vulgou a carta que o advogado
escreveu para o presidente Jair
Bolsonaro. A correspondência
foi entregue ao ministro Onyx
Lorenzoni (Cidadania), ao ge-
neral Maynard Santa Rosa e ao
ator Carlos Vereza para que des-
sem a Bolsonaro. Onyx confir-
mou ao advogado que o presi-
dente lera o texto.
Bebianno chama Bolsonaro de
“meu capitão” e inicia o texto ci-
tando o trecho bíblico “E conhe-
cereis a verdade, e a verdade vos
libertará”. Diz que Bolsonaro sa-
be o quanto ele se dedicou por
sua eleição e que o presidente
não chegaria ao cargo sem seu tra-
balho. “Trabalho que só deu cer-
to porque fiz, acima de tudo, com
AMOR – amor que intensamen-
te desenvolvi por você. Amor hé-
tero, como costumávamos brin-
car”, escreveu o advogado.
Na carta, Bebianno diz que o
presidente, para manter o vín-
culo afetivo com o filho conside-
rado mais radical, o vereador
Carlos Bolsonaro (PSC-RJ),
“embarca nessas fantasias, nes-
sas paranoias, nas eternas teo-
rias de conspiração”. O ex-mi-
nistro afirma que Bolsonaro é
“obsediado pelo próprio filho.”
Como Bebianno revelou ao
Estado , na terça, ele menciona
na carta que Carlos se nutre de
ódio. Demitido com apenas 49
dias de governo por atritos com
o vereador, Bebianno escreveu
que nunca traíra o presidente.
“Fique com Deus e um beijo no
seu coração (hétero). O senhor
continuará a ser o meu Mito”,
despediu-se Bebianno. / J.S.

“Enviei um e-mail para você
para tentar ser o cara da
Infowars no Brasil. Temos
que estar conectados para
combater fake news.”
Eduardo Bolsonaro
DEPUTADO, EM ENTREVISTA A ALEX
JONES, ACUSADO DE DISSEMINAR
CONTEÚDO DE ÓDIO NOS EUA
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