O Estado de São Paulo (2020-03-16)

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A8 SEGUNDA-FEIRA, 16 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Internacional


JERUSALÉM


Reuven Rivlin, presidente is-
raelense, confiará a Benny
Gantz, principal rival do pri-
meiro-ministro Binyamin Ne-
tanyahu, a tarefa de formar
um governo, tendo recebido o
apoio da maioria dos deputa-
dos. O anúncio ocorreu em
meio a críticas de líderes po-
líticos locais contra uma deci-
são de governo de Bibi de sus-
pender as atividades dos tri-
bunais por causa do coronaví-
rus, um dia antes de um dos
processos de corrupção con-
tra ele começar a ser julgado.

O apoio a Gantz veio após o
Lista Unida, de maioria árabe,
com 15 deputados, e o laico de
extrema direita Nosso Lar, lide-
rado por Avigdor Lieberman,
com sete assentos, indicarem o
líder centrista para liderar o Par-
lamento. Juntaram-se a eles os
33 deputados do Azul e Branco,
de Gantz, e os seis das siglas de
centro-esquerda Labor-
Guesher e Meretz.
Ainda não está claro se Gantz
será capaz de formar um gover-
no. Liberman e os líderes da Lis-
ta Unida se recusaram anterior-
mente a aceitar a liderança do
centrista. Agora, porém, eles po-
dem deixar as diferenças de la-
do para atingir o objetivo co-
mum de derrubar Netanyahu.
Há quase um ano, o país passa
por uma paralisia política, com
três eleições em que o Likud, de
Bibi, e o Azul e Branco não conse-
guiam a maioria.
As consultas de Rivlin aos lí-
deres dos partidos ocorreram
em um dia tumultuado na políti-
ca israelense. Alegando emer-
gência por causa do coronaví-
rus, o ministro a Justiça escolhi-
do por Netanyahu, Amir Oha-
na, decretou a suspensão de jul-
gamentos pelos tribunais –
uma das acusações de corrup-
ção contra o primeiro-ministro
começaria a ser julgada ama-
nhã. A ordem para a suspensão
foi dada na madrugada.
As acusações contra Netanya-
hu incluem fraude e quebra de
confiança. Ele é acusado de acei-
tar subornos de magnatas da co-


municação, incluindo presen-
tes caros e uma cobertura favo-
rável a sua gestão, em troca de
favores governamentais.
Após a repercussão negativa

da medida, mas ainda tentando
se manter no cargo, Bibi acenou
para oposição em mensagem a
Gantz, na qual pedia ao líder do
Azul e Branco para “se juntar a
um governo nacional de emer-
gência” liderado por ele mes-
mo. Na proposta, Bibi afirmou
que iria liderar o país por dois
anos e depois permitir que
Gantz assumisse o cargo de pri-
meiro-ministro. Rivais Netanya-
hu já haviam rejeitado pedidos
semelhantes, dizendo não acre-
ditar que o primeiro-ministro
iria cumprir a promessa.

Oposição. Em resposta, Gantz
respondeu, pelo Twitter, que
não aceitava “manipular” a opi-
nião pública. “Se você (Netanya-
hu) está interessado em unida-
de, por que adiar seu julgamen-

to à 1 da manhã e enviar um esbo-
ço de ‘unidade de emergência’ à
imprensa, em vez de enviar sua
equipe de negociação para uma
reunião? Ao contrário de você,
continuarei apoiando todas as
medidas governamentais apro-
priadas (contra o coronavírus),
deixando de lado as considera-
ções políticas.”
Outros líderes políticos tam-
bém criticaram a medida. “Te-
mos a máfia aqui”, escreveu Ya-
riv Oppenheimer, ex-diretor do
Peace Now, uma entidade de es-
querda, pelo Twitter. Nitzan Ho-
rowitz, líder do Meretz, disse
que “tribunais e atividades parla-
mentares não devem ser suspen-
sas, mesmo em emergências”.
Ayman Odeh, líder do Lista Uni-
da, disse estar preocupado com
a democracia israelense. “Ve-

mos o fascismo no regime”, dis-
se, “não na sociedade, mas na-
quele que chefia o governo”.
Mesmo antes do anúncio de
Ohana, os rivais de Netanyahu o
acusaram de explorar a pande-
mia para consolidar seu poder e
tentar forçar a formação de um
governo de unidade nacional
com ele no comando.
“Todos que nos criticaram
quando avisamos que estáva-
mos nos transformando na Tur-
quia deveriam reconhecer que
há a exploração cínica da crise
do coronavírus”, escreveu, no
sábado, no Twitter, Moshe Yaa-
lon, ex-chefe do Exército e filia-
do ao Azul e Branco.
No início do dia de ontem,
após a ordem de Ohana, mas an-
tes do adiamento formal do jul-
gamento de Netanyahu, Yaalon

acrescentou: “O Azul e Branco
quer erradicar o coronavírus, in-
condicionalmente e sem inte-
resses políticos. O partido não
pode ser cúmplice na elimina-
ção da democracia por um réu
que quer fugir da Justiça”.

Coronavírus. O desgaste de
Netanyahu ficou ainda maior
por causa das iniciativas para
conter o coronavírus. Na noite
de sábado, o premiê disse que
iria rastrear cidadãos infecta-
dos usando tecnologia que ha-
via sido empregada “na luta de
Israel contra o terrorismo”.
Com 200 casos registrados até
ontem, o governo ordenou o fe-
chamento de locais sagrados, ca-
fés, restaurantes, academias,
creches e instituições culturais.
/ NYT, EFE e AFP

Coalizão. Premiê vê ex-aliados se distanciarem após evocar pandemia do coronavírus para chamar governo de emergência e suspender


atividades de tribunais na véspera de um julgamento contra ele; com aval de 61 dos 120 deputados, Gantz terá chance de montar governo


PARIS


A França registrou ontem abs-
tenção recorde no primeiro
turno das eleições municipais,
mantidas apesar do avanço do


coronavírus no país, que têm
4.500 infectados e 91 mortos.
A participação ficou em 38,7%,
ante 54,5% de 2014.
Especialistas consultados
pela AFP acreditam que os can-
didatos mais prejudicados se-
rão os conservadores, uma vez
que eles têm como base os elei-
tores mais velhos. A doença é
mais mortífera entre idosos.
A realização do segundo tur-
no, previsto para ocorrer den-
tro de uma semana, está indefi-
nida. Segundo o constituciona-
lista Didier Maus, se a nova eta-
pa da votação for adiada, os re-
sultados do primeiro turno de-

veriam ser anulados. Os casos
de infecção por coronavírus
no país dobraram em 72 horas.
Sob críticas por não ter sus-
pendido a votação, o presiden-
te Emmanuel Macron afirmou
que o objetivo era “manter a
continuidade da vida demo-
crática e das instituições”. Ele
disse ter tomado a decisão
após consultar cientistas que
afirmaram, segundo o próprio
Macron, “não haver nada que
impedisse os franceses, mes-
mo os mais vulneráveis, de ir
às urnas”.
Na entrada dos 35.000 cen-
tros eleitorais do país, havia re-

cipientes com gel antissépti-
co. No chão, foram coladas fi-
las adesivas para que os eleito-
res mantivessem a distância
de pelo menos um metro entre

eles.
“Se respeitarmos as regras
antes e depois de votar, não há
por que ter medo”, disse Va-
nessa Bouissou, de 40 anos.

“Praticamente todos os eleito-
res trazem sua própria caneta
para votar”, completou o me-
sário Daniel Mooser, comer-
ciante aposentado de 74 anos.
Em Paris, a ex-ministra da
Saúde Agnès Buzyn aparecia
em terceiro lugar nas pesqui-
sas, atrás da ex-ministra de
Justiça de Nicolás Sarkozy, a
conservadora Rachida Dati, e
da atual prefeita, a socialista
Anne Hidalgo, empatadas na
dianteira.
“Uma nova derrota após a
registrada nas eleições euro-
peias de 2019 seria uma mos-
tra de os poderes mágicos de
Macron já não são tão mági-
cos, o que pode despertar am-
bições de adversários para as
presidenciais de 2022”, ava-
liou Bruno Cautrès, especialis-
ta da universidade Sciences
Po. / AFP

Adversário de Netanyahu reúne apoio


mínimo para chegar ao poder em Israel


Abril de 2019
A eleição para o Knesset, o Par-
lamento israelense, terminou
sem que um dos maiores parti-
dos, o Likud e o Azul e Branco,

tivesse conseguido maioria. O
pleito foi convocado depois que
os líderes da coalizão chefiada
por Binyamin Netanyahu anuncia-
ram não ter chegado a um acor-
do em relação a um projeto de
lei que ampliava o recrutamento
obrigatório para o serviço militar


  • tema rejeitado pelos judeus


ultraortodoxos. O impasse se
manteve e uma nova eleição foi
convocada.

Setembro de 2019
De novo, nem o Likud nem o Azul
e Branco conseguiram maioria.
Bibi, em princípio, tentou um acor-
do com os ultraortodoxos, que

ainda rejeitam o projeto de alista-
mento compulsório. O primeiro-
ministro interino, então, acenou
ao Azul e Branco, de Benny
Gantz, que se recusou a apoiar o
governo de Bibi por causa de de-
núncias de corrupção. Sem acor-
do para formar um coalizão, uma
nova eleição foi convocada.

3 de março de 2020
Apesar de declarar vitória antes
da apuração final, Netanyahu não
conseguiu a maioria. Entre uma
eleição e outra, Netanyahu se
tornou em novembro de 2019 o
primeiro chefe de Governo na
história de Israel a ser indiciado
por corrupção, fraude e abuso de

confiança. Um de seus proces-
sos deveria começar a ser julga-
do amanhã, mas o governo lide-
rado por ele emitiu ontem or-
dem de suspender as ativida-
des do Judiciário por causa do
coronavírus. A medida fez parti-
dos minoritários passarem a
apoiar o partido de Gantz.

PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS

l Base parlamentar

AMMAR AWAD/REUTERS - 1/2/

Rivais. Benny Gantz e Binyamin Netanyahu em outdoor nas eleições do mês passado: impasse sobre governo de coalizão se arrasta desde o ano passado

CLOTAIRE ACHI/ REUTERS – 15/3/

Participação em votação


municipal ficou em


38,7%, enquanto em


2014 foi de 54,5%; direita


deve perder mais votos


Coronavírus eleva abstenção em


eleição francesa e ameaça 2º turno


Proteção. Álcool em mesas eleitorais e distância mínima

CRONOLOGIA

Crise política se


arrasta há 1 ano


61
deputados é o número necessá-
rio para que uma coalizão consi-
ga formar um governo. O Parla-
mento de Israel tem, no total,
120 cadeiras

33
deputados têm o Azul e Branco,
partido do centrista Benny Gantz,
principal opositor do Likud, de
Binyamin Netanyahu
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