Adega - Edição 173 (2020-03)

(Antfer) #1

Edição 173 >> ADEGA 17


“Um enólogo


nunca está


satisfeito”,
John Duval

Uma nova onda
Em seus quase 30 anos de Penfolds, John Duval
ajudou a liderar a vitivinicultura da Austrália em
seu período de ouro no reconhecimento interna-
cional. Infelizmente, esse reconhecimento não
aconteceu no Brasil. Entre diversos fatores, atri-
buo isso principalmente à concentração dos gran-
des vinhos australianos em uma importadora que
não os promoveu. Numa antítese do que aconte-
ceu com outras regiões como o Alentejo. Acredito
que é por isso que Duval e seus vinhos permane-
çam um tesouro a ser descoberto por aqui. Não
vivemos o período dos blockbusters australianos,
mas felizmente temos a oportunidade de partici-
par dessa fase em que a força não se perdeu, mas



  • como sempre foi o caso de Grange e na forma
    como John Duval desenha seus vinhos – encon-
    trou equilíbrio, vibração e textura.
    Duval e Toso são fãs de barricas de forma-
    to maior para encontrar a interação perfeita da
    madeira com o vinho. Toso ama os foudres pelo
    que aportam ao vinho, mas também por “serem
    tão lindos. É como um piano da calda na sala de
    casa”. Ele confessa que conseguiu ter seu piano na
    sala argumentado a seu chefe que “uma barrica eu
    uso por cinco anos e um foudre por 10 a 20 anos”.
    E John Duval acrescenta que “outra coisa positiva
    é que, no caso dos foudres, se você quiser tirar o
    piano da sala, é só rolar para fora”.
    Plexus, em latim, significa a combinação de
    elementos para formar uma estrutura. Annexus é
    o anexo, e ele nasce a partir de Plexus, apenas 250
    caixas de Grenache e 250 caixas de Mataró, a for-
    ma como os produtores locais chamavam a Mour-
    vèdre. Os vinhedos de Annexus Grenache são as
    vinhas mais antigas do norte de Barossa, com mais
    de 150 anos, e ficam a leste de Éden Valley. Se-
    gundo Toso, são “esculturas vivas”.


AD 97 pontos
ANNEXUS GRENACHE 2016
John Duval Wines, Barossa, Austrália (Cantu R$
850). As 250 caixas produzidas deste vinho vêm
de videiras com mais de 150 anos de idade. Mais
que um vinho, é um elixir. Segundo John Duval,
é “approach” de Pinot Noir para a Grenache. A
fruta tem vibração e elegância encantadoras. É
como beber algo que está suspenso no ar. Pureza
é a palavra que o define, com clareza de fruta


acompanhada de ervas e flores. Um vinho para os
amantes de grandes Nebbiolo. CB

AD 95 pontos
ANNEXUS MATARO 2017
John Duval Wines, Barossa, Austrália (Cantu R$
850). Vinhas antigas de solo arenoso de Barossa
Valley. Um vinho sério e para ser levado a sério.
Taninos presentes, finos e com elegante textura
a giz, acompanhando belíssima acidez. Muito
aromático, cerejas, especiarias e rosas. A estrutura
de um vinho único, de perfil de solo que Felipe Toso
define como “feminino”, e que a gente não consegue
encaixar em um estilo. Finalmente apresenta bela
salinidade e mineralidade de sílex na boca. CB

Seleção
E, como não poderia deixar de acontecer, John
Duval decidiu fazer um grande monovarietal de
Shiraz; Eligo, em latim, elegido. Diferente das
seleções de barricas, este nasce de uma seleção
de videiras feitas no campo, com Duval e seu fi-
lho Tim caminhando entre os vinhedos e esco-
lhendo-as uma a uma.

AD 97 pontos
ELIGO SHIRAZ 2015
John Duval Wines, Barossa, Austrália (Cantu R$
1.200). É um 100% Shiraz, com 50% das uvas
vindas de Barossa Valley, e a outra metade do Eden
Valley. O nariz é muito vivo, com pimenta branca
e fruta perfeita, como que polida à mão. Bosque e
flores, mineralidade, frutas azuis frescas, terroso e
especiarias. Estrutura linda, com taninos “stealth” em
perfeito equilíbrio com a com acidez. 100% do vinho
passa 20 meses em barricas de 300 litros de carvalho
francês de grãos finos, sendo 55% novas e o restante
de 2º, 3º e 4º anos. Um estilo de nobreza que associa
poder e educação. O fim de boca é azul, mirtilo puro.
Um vinho feito para durar para sempre. CB
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