Adega - Edição 173 (2020-03)

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sofisticado, então comecei a gostar de vinhos.
Comprei alguns livros novos sobre vinhos, mas
nada demais”, conta.
A situação na Argentina, contudo, fez com que
o dono da empresa para a qual trabalhava decidisse
mudar para o Brasil. Reppucci resolveu vir junto
e, aos poucos, foi adquirindo partes da companhia.
Com o tempo, fez fortuna na área de construção
de obras públicas e concessões com a firma “CCI
Concessões e Construções de Infraestrutura”. Foi
em uma viagem a Buenos Aires que o “vício” de
colecionar livros antigos se iniciou.
“Comecei a ir a uma livraria chamada Antaño”,
revela. Ele fez amizade com Alfredo Breitfeld, dono
da livraria antiquaria considerada a mais importante
da América do Sul. Foi lá, nos anos 1980, que des-
cobriu o mundo dos livros antigos e raros e adquiriu
seus primeiros títulos. Com o tempo, Reppucci pro-
vavelmente se tornou um dos melhores clientes da
Antaño, mas não só dela, como de outras livrarias
antiquarias pelo mundo, especialmente na Itália,
Espanha, França e Estados Unidos.

Aos primórdios
A curiosidade e a paixão de Reppucci pelos livros
antigos com tema de vinho foi crescendo cada vez
mais e o levou até um campo muito estimado pe-
los colecionadores de livros, os incunábulos. Incu-
nábulos são primeiros livros impressos na história,
desde 1450, quando o alemão Johannes Guten-
berg inventou a primeira prensa de tipos móveis,
até 1500. São verdadeiros tesouros, raros e caros,
sobreviventes, seculares, dignos de veneração.
A parte onde essas preciosidades estão guarda-

Se é difícil definir a paixão pelos vinhos, mais
complicado é a pelos livros ligados à essa bebida.
O argentino Juan Carlos Reppucci, de 77 anos,
bem que tenta explicar sua “compulsão” pelos li-
vros com o tema do vinho, mas é quase impossível
explicar logicamente como alguém reúne mais de
7 mil títulos, que se tornaram a maior “biblioteca
vinária” do planeta, respeitada pelos maiores cole-
cionadores de obras ligadas à cultura do vinho no
mundo, incluindo museus.

Um grupo de amigos
A impressionante biblioteca de Reppucci, que
há mais de 40 anos se instalou no Brasil, fica
em um apartamento contiguo ao seu (no qual
viveu o piloto Emerson Fittipaldi) na região do
Itaim em São Paulo. Segundo ele, sua coleção
começou fortuitamente. Nos anos 1970, atuava
como engenheiro de estradas na Argentina e “ia
sempre a lugares ermos”. “Estava na província de
Entre Ríos e lá fizemos amizade com três casais.
Os homens faziam churrasco com vinho, nada

Coleção do argentino Juan
Carlos Reppucci começou
nos anos 1980 e hoje
supera os 7 mil livros
sobre vinho, sendo a maior
biblioteca do mundo sobre
o tema

A PRENSA DE GUTENBERG E A PRENSA DE VINHO
Diz-se que Gutenberg usou modelos
em madeira já existentes (criadas na
Ásia) para montar sua famosa prensa.
Nela, porém, ele substituiu a madeira
por metal e blocos de impressão com
cada letra. Para disponibilizar os tipos
em grandes quantidades e em diferentes
estágios de impressão, Gutenberg aplicou
o conceito de fundição de réplicas, que
propiciava letras criadas ao contrário

em latão e réplicas feitas a partir desses
moldes, derramando chumbo derretido.
Os pesquisadores especularam que
Gutenberg usou um sistema de fundição
que usa areia esculpida para criar os
moldes de metal. As letras foram criadas
para se ajustarem de maneira uniforme.
Ele ainda fez sua própria tinta, criada
para fixar no metal, e não na madeira.
Gutenberg também foi capaz de

aperfeiçoar um método
de achatamento de
papel de impressão,
usando um lagar de
vinho, tradicionalmente
usado para
pressionar uvas
e azeitonas,
adaptado ao design
de sua impressora.

fotos: Rogério Albuquerque

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