Adega - Edição 173 (2020-03)

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dré-Louis Simon, um bibliógrafo e escritor francês
que se dedicou à literatura do vinho. Além de escre-
ver diretamente sobre o tema, ele também escreveu
livros com bibliografias que até hoje servem de re-
ferências para livreiros e colecionadores. “Ele listou
tudo, os livros que tinha e os que não tinha, mas sa-
bia que existiam, e onde estavam”, aponta Reppuc-
ci tirando uma das diversas obras de catálogo feitas
por Simon. Além delas, ele também possui alguns
exemplares cujo ex-libris (propriedade do livro) re-
vela que foram da biblioteca do francês.
Perguntado sobre obras de outro escritor fran-
cês conhecido por ser um dos primeiros “críticos”
do mundo, André Julien, Reppucci não titubeia e
logo Carla aparece com diversas edições dos mais
conhecidos títulos do autor, como “Topografia
de todos os vinhedos conhecidos” e “Manual do
Sommelier”, por exemplo, em edições raras.

Questão de origem
Voltando aos livros antigos, Reppucci mostra um
fac-símile da primeira bíblia de Gutenberg. “Não
existe nenhum exemplar à venda e, mesmo que
tivesse, teria um preço impossível de comprar.
Colecionadores não vão atrás de fac-símiles, mas
tenho um fantástico, feito em 1950 nos Estados
Unidos. Fotografaram a original e colocaram as
cores e tudo”, conta.
Contudo, Reppucci não revela quanto gastou
com sua coleção de livros e, apesar de não ter para-
do de comprar, diz que é cada vez mais seletivo. Se
antes ele ia atrás dos livreiros, hoje são eles que lhe
contatam caso tenham novidades que possam lhe
interessar. “Eles têm que vender, então, sabendo
que o vinho é o motivo da minha coleção, sempre
me mandam. Hoje em dia compro – sempre que o
dinheiro permite – algo mais selecionado, mais anti-
go, mais singular. Muitas vezes me oferecem muito
do normal, mas livro nunca acaba pois descobrem
que alguém em 1700 escreveu sobre o tema...”, diz.
Ele aponta ainda que, assim como no mundo
dos vinhos, no universo dos livros raros também
conta muito a origem. “De onde saem os livros?
Como foi mantido? Nos livros também têm muito
problema de roubo, falsificação, temos um aqui
que foi feito uma edição pirata em 1700 na Suíça.
Era um livro difícil de encontrar, então foi feita
uma cópia”, revela.

A BÍBLIA DE
GUTENBERG
Gutenberg e seu
parceiro financiador
Johannes Fust
começaram a
imprimir calendários,
panfletos e outras
coisas em sua
“gráfica”. Em 1452,
Gutenberg produziu
o único livro a sair
de sua loja: uma
Bíblia. Estima-se que
foram impressas 180
cópias, com 1.300
páginas, das quais
60 em pergaminho.
Cada página continha
42 linhas de texto
em tipo gótico, com
colunas duplas
e algumas letras
em cores. Para a
Bíblia, Gutenberg
usou 300 blocos
separados de letras
moldadas e 50.000
folhas de papel.
Hoje, existem 21
cópias completas da
Bíblia de Gutenberg
e quatro cópias
completas da versão
em pergaminho.

específico do qual o nome lhe fugiu momenta-
neamente. De repente, a prestativa Carla aparece
com outro tesouro da biblioteca, “A Crônica de
Nuremberg”, um famoso incunábulo de 1493,
por se tratar do maior livro ilustrado de sua época,
com cerca de 1600 xilogravuras. “É um livro raro,
não tem muitos exemplares dando a volta no mun-
do”, comenta Reppucci.

De antes da prensa
Mas ele possui livros ainda mais antigos e ra-
ros. Um deles é um exemplar manuscrito (isso
mesmo, feito por escribas) por volta de 1230 da
Ruralia Commoda, de Pietro de’ Crescenzi. Um
manual de agricultura cujo autor se baseou em
outros títulos clássicos para produzir, como o De
Re Rustica, de Columella, por exemplo. Ao ser
questionado se tinha algo desse clássico autor ro-
mano, a resposta de Reppucci é bastante direta:
“Sim, vários”. E vai empilhando alguns que tira
das prateleiras.
Instigado por perguntas sobre alguns autores e
obras clássicas do mundo do vinho, Reppucci vai
dizendo à Carla para procurar em seu vasto catá-
logo, todo organizado, e “seguro em nuvem”, faz
questão de dizer. Ele conta que já houve grandes
colecionadores de livros sobre vinho no mundo, o
mais conhecido da história provavelmente foi An-

fotos: Rogério Albuquerque

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