Adega - Edição 173 (2020-03)

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É justamente isso o que o professor Jeremy
Galbreath da Universidade de Curtin em Perth
/ Western Austrália discutiu em uma de suas
pesquisas de 2016, indagando sobre a crescente
lacuna entre homens e mulheres na indústria
do vinho na Austrália.

Menos mulheres
Hoje, somente 10% do número de profissionais
trabalhando na produção de vinhos na Austrália
são mulheres e esse número está em declínio
desde 2007. Após investigar os desenvolvimentos
nessa indústria, os resultados mostraram que o
número de mulheres em função de vinificação
diminuiu 1,04% desde então no país, sendo que

a queda foi mais acentuada na região da Austrá-
lia Ocidental (onde fica Margaret River) com
um índice de 6,15%. A localidade em que houve
o maior índice de crescimento foi na região de
Nova Gales do Sul com 2,89%, de acordo com
Galbreath.
“Na Austrália, os números são bem equi-
librados entre homens e mulheres quando se
formam nas universidades nos cursos de eno-
logia, porém, alguma coisa acontece no meio
do caminho e os homens tendem a progredir na
carreira e as mulheres não avançam da mesma
forma e quantidade”, afirma o professor. Uma
pesquisa realizada pela Master of Wine Harriet
Tindal mostrou que, em 1980, apenas 13% do
total de graduados na Universidade de Adelaide
no curso de enologia eram mulheres. Contudo,
em 2015, esse número atingiu uma alta histó-
rica de 55%, com um índice mínimo de pelo
menos 35% de graduadas em anos anteriores.
No entanto, mesmo que ao se graduarem
essas mulheres estejam dispostas a exercerem o
trabalho pesado, se mudarem para as zonas ru-
rais e trabalharem longas horas na vinícola tal
como os homens, pesquisas identificaram que,
quando as elas optam por ter filhos, isso repre-
senta um agravante para o progresso de suas
carreiras e, de fato, algumas podem abandonar
completamente a indústria.
“Descobrimos que, historicamente, a indús-
tria do vinho (global) tem sido patriarcal e do-
minada pelos homens. Embora certamente isso
tenha mudado ao longo dos anos e as mulheres
participem cada vez mais em níveis mais altos
com cargos executivos, importação, exportação
e marketing, ou até mesmo em funções de vini-
ficação por exemplo, a minha percepção é de
que a indústria do vinho ainda tende a ter uma
cultura masculina”, avalia Galbreath.
E isso fica mais evidente quando essas mu-
lheres decidem iniciar uma família, uma vez
que, está demonstrado que essa decisão afe-
ta mais as mulheres do que os homens com a
pressão para deixar o emprego depois de terem
filhos, ou abster-se de ter mais filhos. “Existem
funções mais flexíveis na indústria que tornam
viável a permanência das mulheres no traba-

Acima, Sue Hodder,
da vinícola Wynns
Coonawarra Estate, e
Sarah Pidgeon. Abaixo
Jane Thomson, criadora
do Australian Women in
Wine Awards
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