Adega - Edição 173 (2020-03)

(Antfer) #1

Edição 173 >> ADEGA 61


adorei. Por muitos anos, desejei e tive esperança de
que uma premiação como essa não seria necessária,
mas, infelizmente, para avançarmos em certas áreas,
precisamos criar as nossas próprias plataformas. O
prêmio é bem abrangente e tem várias categorias.
Temos conhecimento de que se trata de uma pre-
miação sexista, mas espero que essa premiação não
precise continuar por muitos anos”.


Questão de atitude
Sabendo que o número de enólogas na Austrália
está em declínio, Sue tem se empenhado para tentar
reverter essa situação. No ano passado, juntamen-
te com outras quatro enólogas, ela lançou o vinho
“Hear me Roar” (Ouça-me rugir), um Shiraz produ-
zido com uvas de diferentes regiões do sul da Austrá-
lia como Barossa Valley, Coonawarra, Eden Valley
e McLaren Valley. O vinho esgotou-se rapidamente
e todo o lucro obtido com as vendas foi direciona-
do para programas de orientação, desenvolvimento
profissional e bolsas de estudos para mulheres na
indústria de vinhos da Austrália. “Nosso plano agora
é produzir o ‘Hear me Roar’ com outras variedades
de diferentes estados, como, por exemplo, um Char-
donnay da região de Victoria ou Western Austrália
ou até mesmo alguma variedade da Itália”.


Jane também acredita na força de programas que
visam a qualificação de mulheres na indústria, po-
rém, ela acrescenta que, para um melhor resultado,
é necessário também investir em programas para re-
inserir essas mulheres de volta em suas funções após
a licença maternidade. “É muito comum ouvirmos
que as mulheres devam trabalhar tanto quanto o
homem ou que a mulheres devam persistir ao invés
de reclamar de discriminação, porém, já está mais
que comprovado por pesquisas que as mulheres têm
tido dificuldades de voltar para o mercado de traba-
lho após a licença maternidade e estou me referindo
aqui às funções de viticulturista ou enóloga, cargos
para os quais já provamos que temos mérito suficien-
te para ocupar”.
Ela também acredita que as mudanças já estão
acontecendo e que elas estão partindo de onde me-
nos esperávamos: a geração nascida entre os anos de
1981 a 1996, os chamados “Millennials”. Conhecida
principalmente pelos “ideais de vida flexíveis”, essa
geração tem lutado por direitos iguais, para homens
e mulheres. “Hoje, é muito comum ver homens lu-
tando pelos mesmos direitos de licença maternidade
que o das mulheres e, ao mesmo tempo, vemos mu-
lheres decidindo muito cedo que não serão mães, e
está tudo certo”, finaliza Sue.

“Essa
indústria
é bem mais
difícil para
a mulher do
que para o
homem”

Vanya Cullen, da
vinícola Cullen, em
Margaret River
Free download pdf