Adega - Edição 173 (2020-03)

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Edição 173 >> ADEGA 85


nuar como assistente de operações) e as transfor-
mações continuaram. Por exemplo, os Rothschild
passaram a instituir 100% de carvalho novo no
envelhecimento de 18 meses do vinho principal,
assim como fazer uma seleção cada vez mais ri-
gorosa das parcelas. Vale dizer que hoje o porcen-
tual de barrica nova já está em 70%.
No entanto, não se pode dizer que L’Évangile
floresceu apenas após esse período. Ele sempre
foi considerado um dos grandes vinhos do Pome-
rol, com história riquíssima e enorme consistên-
cia, mesmo durante períodos mais conturbados.

Início
Em meados do século XVIII, a família Léglise, de
Libourne, fundou a propriedade que se tornaria
o Château L’Évangile. Eles estavam diretamen-
te envolvidos no cultivo de vinhas do Pomerol e
L’Évangile apareceu pela primeira vez em regis-
tro em 1741 com o nome de Fazilleau. Somente
na virada do século XIX, quando foi adquirida
por um advogado chamado Isambert é que a pro-
priedade passou a se chamar L’Évangile.
Em 1862, ela foi comprada por Paul Chaperon.
E ele foi o responsável por construir sua reputação,
além de criar a residência, o Château propriamen-
te, com arquitetura estilo Segundo Império francês.
Na segunda edição do que é considerado um
dos primeiros guias de vinho da França, o Cocks
& Féret, em 1868, L’Évangile foi listado como
um “Premier Cru du Haut-Pomerol” (lembrando
que não existe uma classificação oficial de pro-
priedades na região, assim como a que foi feita
no Médoc em 1855). Em 1900, Chaperon fale-
ceu, e seus descendentes continuaram seu traba-
lho administrando até 1957. Naquele ano, Louis
Ducasse assumiu a propriedade, que estava deca-

dente e havia sido bastante danificada pela geada
em 1956. Ele conseguiu replantar o vinhedo e
restaurar o prestígio de L’Évangile.

Terroir
O vinhedo de L’Évangile é dividido em 26 parce-
las. As vinhas ocupam 22 hectares, compostos de
solo argilo-arenoso com cascalho puro, em um
subsolo contendo resíduos de ferro. A essência do
vinho está na Merlot, predominante, com cerca de
80% ou mais do corte, completada pela Cabernet
Franc, ou “Bouchet”, como a variedade é chamada
localmente. O planalto de Pomerol tem uma lon-
ga linha de cascalho na superfície e três vinhedos,
incluindo o de L’Évangile, compartilham esse solo
raro. A propriedade ocupa uma posição estratégica,
fazendo fronteira com Pétrus e Cheval Blanc (este
já em Saint-Émilion), e é, indubitavelmente, um
dos grandes châteaux de Bordeaux.

Paul Chaperon


foi o responsável


por construir


o Château


propriamente,


com arquitetura


estilo Segundo


Império francês


AD 94 pontos
CHÂTEAU L’ÉVANGILE 1982
Château L’Évangile,
Bordeaux, França. Acredito
que passou seu apogeu.
Sinto isso na estrutura e
no perfil terciário, com
muito couro, embora ainda
tenhamos um pouco de
fruta. A boca está mais
curta e vale mais pelo nariz.
Vai abrindo com elegância
ao nariz com mais terciários
e mineralidade. A acidez
está presente e mantém
o paladar no alto. Sua
cor mais para os tons
de marrom ajuda no
diagnóstico. CB
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