O Estado de São Paulo (2020-03-17)

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A4 TERÇA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS


PARTICULARES.


José Eduardo
Cardozo,

ex-ministro da


Justiça


»Tucanos. No arrazoado


das opiniões no PSDB,


quem teve papel fundamen-


tal no impeachment de Dil-


ma acha que, por enquanto,


o momento ainda é de tra-
balhar pelo País nos gover-

nos estaduais e no Congres-


so, enquanto o presidente


se implode politicamente


por conta própria.


»Aguenta. Paulo Hartung,


amigão de FHC e de Lucia-


no Huck, afirma: “O me-


lhor remédio é, sempre, o


presidente cumprir o man-


dato. Fui contra (o impea-


chment) na época da Dilma


e sou contra agora”.


»Se liga. Nessa linha, Ro-


drigo Maia e Davi Alcolum-


bre foram aconselhados a


manter o foco e mostrar


serviço com medidas volta-


das ao bem do País.


»Se liga 2. Até porque, nes-


te momento, o presidente


ainda tem força nas ruas.
No Congresso, porém, cres-

ce a certeza de que esse


apoio está minguando.


»Alto lá. “Esperávamos


que o coronavírus fosse um


inimigo comum capaz de


unir os Poderes em busca


de soluções. Não é isso que


tem acontecido. Mas ainda


não é motivo para impeach-


ment. A relação deteriorada


não justifica um pedido des-


se tipo”, afirma Efraim Fi-


lho (PB), líder do DEM.


»Cadê todo mundo? Para o


presidente do PSB, Carlos


Siqueira, “impeachment


não é questão jurídica, é


política. Se não nascer na


rua, não acontece”.


»Esquece. Líderes do Cen-
trão têm dito que qualquer

votação na fora do binômio


“aquecer a economia e com-


bater a covid-19” pode ser


prejudicial ao Congresso. O


momento é de eleger priori-


dades, o que pode ser ruim


para o governo.


»Fora. “Hamilton Mourão


assume e lidera neste mo-


mento. Tudo indica que en-


frentaremos a maior crise


da nossa história e Bolsona-


ro não tem condições ( de
comandar )”, diz Janaina Pas-

choal, que defende a saída


do presidente.


»Eu?!. José Eduardo Car-


dozo (PT) teve o celular


hackeado no fim de sema-


na. Mensagens foram dispa-


radas do aparelho do ex-mi-


nistro. Quem as recebeu


estranhou logo de cara: a


foto do perfil era o presi-


dente Bolsonaro cumpri-


mentando manifestantes


em frente ao Planalto.


»Corrida... De olho na rápi-


da aprovação do novo mar-


co legal do saneamento


básico, o senador Tasso Je-


reissati (PSDB-CE) avalia


que a melhor estratégia é


manter o texto no Senado


da mesma forma como foi


aprovado pela Câmara, para


evitar que ele volte para a


análise dos deputados.


»...sem obstáculos. Tasso


avalia negociar com o gover-


no o veto aos pontos que


ele considera ruins da ver-
são dos deputados. Ele é o

relator da proposta no Sena-


do e acha que o projeto, co-


mo está, é muito favorável


às privatizações no setor.


COM MARIANA HAUBERT

E MARIANNA HOLANDA

E


m privado, Fernando Henrique Cardoso tem dito a


interlocutores que um eventual abreviamento do


atual governo pode punir também “gente séria”,


porque transmitirá aos eleitores a sensação de ser possí-


vel trocar de presidente a qualquer momento, diminuin-


do, assim, a importância do voto na urna. Em livre tradu-


ção feita por quem conhece bem o ex-presidente: o risco


de outra medida drástica como um impeachment é o País,


fraturado, continuar elegendo políticos despreparados


para a Presidência, como Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.


Para FHC, crise ameaça


valor do voto na urna


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Bolsonaro vê luta de poder


com Congresso após atos


Planalto. Criticado por ir a manifestação pró-governo anteontem, presidente não participa


de reunião sobre coronavírus com chefes dos Poderes, que temem escalada autoritária


BRASÍLIA


Em novo capítulo da crise ins-


titucional, o presidente Jair
Bolsonaro acusou ontem o

Congresso de usar o avanço


do coronavírus para uma “lu-


ta pelo poder”, chamou co-


mandantes da Câmara e do


Senado de “esses caras” e insi-


nuou haver uma articulação


por seu impeachment ao di-


zer que “seria um golpe isolar


chefe do Executivo por inte-


resses não republicanos”.


O confronto em praça públi-


ca – um dia após Bolsonaro igno-


rar recomendação do próprio


governo e participar de ato con-


tra o Congresso e o Supremo


Tribunal Federal (STF) – fez


com que dirigentes do Legislati-


vo e do Judiciário interpretas-


sem suas atitudes como sinais


de uma escalada autoritária.


A estratégia, no entanto, não


é partir para o ataque, mas, sim,


mostrar serviço para enfrentar
a pandemia do coronavírus e

apresentar projetos que pos-


sam tirar o País da recessão eco-


nômica. As reuniões que ocorre-


ram ao longo do dia de ontem,


foram, oficialmente, para tratar


apenas do combate à doença,


mas, nos bastidores, ultrapassa-


ram essa fronteira.


Na avaliação da cúpula do


Congresso e do Supremo, Bolso-


naro estica a corda porque ten-


ta transferir responsabilidades


pelo prolongamento da crise,


adota o discurso de que não o


deixam governar e se isola cada


vez mais no Palácio do Planalto.


Enquanto o presidente con-


traria a orientação para evitar


aglomerações e parece distante


de decisões relevantes do seu


próprio governo, os ministros
da Economia, Paulo Guedes, e

da Saúde, Luiz Henrique Man-


detta, recorrem a estratégias pa-


ra amenizar o impacto dos pro-


blemas provocados não apenas


pelo coronavírus, mas por uma


série de declarações polêmicas


de Bolsonaro. Até agora, o presi-


dente do Supremo, Dias Toffo-


li, atuou como “bombeiro” e


tentou reconstruir pontes com


o Planalto. Em conversas reser-


vadas, porém, ele tem dito que


essa atitude belicosa começa a


passar dos limites.


Toffoli chamou ontem uma


reunião com Mandetta e os pre-


sidentes da Câmara, Rodrigo


Maia (DEM-RJ), e do Senado,


Davi Alcolumbre (DEM-AP).


Estavam no encontro, ainda, o


ministro do STF Luiz Fux – que


será seu sucessor no comando


da Corte a partir de setembro –,
os presidentes do Tribunal Su-

perior Eleitoral (TSE), Rosa


Weber, e do Superior Tribunal


de Justiça (STJ), João Otávio de


Noronha, o procurador-geral


da República, Augusto Auras, e


o advogado-geral da União, An-


dré Mendonça (mais informa-


ções nesta página).


Na prática, os chefes dos Po-


deres querem mostrar que não


ficarão de braços cruzados dian-


te do que classificam como ati-


tudes até “irresponsáveis” por


parte de Bolsonaro, como a de


estimular manifestações em de-


fesa de seu governo e contra o


Congresso e o Judiciário, cum-


primentar simpatizantes e tirar


selfies com muitos deles em um


momento de avanço do corona-


vírus. Bolsonaro está sendo mo-


nitorado pela equipe médica e,


para evitar risco de contágio,


passará por novo exame hoje –


o primeiro teste detectou que


ele não foi contaminado duran-


te recente viagem aos EUA.


“Eu não vou viver preso no Pa-


lácio da Alvorada, por mais cinco


dias, com problemas grandes pa-


ra serem resolvidos no Brasil”,


disse o presidente, em entrevista


ao apresentador José Luiz Date-


na, da Rádio Bandeirantes. “Se
afundar a economia, acaba o meu

governo, acaba qualquer gover-


no. É uma luta pelo poder. Estou


há 15 meses calado, apanhando,


agora vou falar. Está em jogo uma


disputa política por parte desses


caras (Maia e Alcolumbre) .”


Bolsonaro afirmou que Maia


dirigiu a ele um “ataque frontal”


ao chamá-lo de irresponsável.


“Nunca o tratei dessa maneira.


É um jogo. Desgastar, desgastar,


desgastar. Tem gente que está


em campanha até hoje para


2022 dando pancada em mim o


tempo todo”, insistiu o presiden-


te, que sonha com a reeleição.


‘Piloto’. Maia, por sua vez, de-


clarou que Bolsonaro precisa “as-


sumir” a Presidência porque é o


“piloto” do avião. “Devemos, em


prol da sociedade, esquecer nos-


sas diferenças políticas, nossas


divergências, e olhar o problema
do povo”, afirmou o deputado.

O presidente causou perplexi-


dade ao decidir não participar,


ontem, de uma videoconferên-


cia em que chefes de Estado da


América do Sul discutiram me-


didas conjuntas para o enfrenta-


mento da pandemia do corona-


vírus. Coube ao ministro das Re-


lações Exteriores, Ernesto Araú-


jo, representar o Brasil. Araújo


também cumpre período de iso-


lamento por ter participado da


comitiva de Bolsonaro aos


EUA. Para o presidente, no en-


tanto, há “histeria” em torno do


coronavírus. / DANIEL WETERMAN,


JULIA LINDNER e VERA ROSA

BRASÍLIA


O presidente do Supremo Tribu-


nal Federal (STF), ministro


Dias Toffoli, adotou ontem um


tom diplomático e preferiu não


entrar em atrito com o Planalto.


Sua intenção ao organizar um


encontro com os presidentes da


Câmara, Rodrigo Maia (DEM-


RJ), e do Senado, Davi Alcolum-


bre (DEM-AP), foi mostrar que


todos os Poderes podem organi-


zar uma reação conjunta no


combate ao coronavírus.


Com a reunião, que ocorreu


um dia após o presidente Jair


Bolsonaro ignorar orientações


e participar de atos contra o


Congresso e o Supremo, Toffoli


quis transmitir a mensagem de


que o enfrentamento ao avanço


da doença compete a todos. “Es-


sas manifestações não foram


pauta da reunião de hoje (on-


tem) ”, disse o magistrado, que
chegou de missão oficial ao Mar-

rocos na noite de domingo.


Questionado por que Bolso-


naro não compareceu à reu-


nião, Toffoli disse apenas que o


ministro da Saúde, Luiz Henri-


que Mandetta, estava ali repre-


sentando o governo.


“O presidente Jair Bolsonaro


está o tempo todo com o seu
ministro da Saúde. Aliás, é um

excelente ministro, uma pessoa


extremamente preparada. Hou-


ve impressão positiva por parte


de todos”, elogiou o presidente


do Supremo.


Mandetta, porém, não é do


grupo de Bolsonaro, que se irri-


tou quando o ministro conside-


rou um “equívoco” as manifes-


tações de domingo, mesmo em


defesa do governo, por causa do


coronavírus. Médico, o titular


da Saúde tem alertado com in-


sistência sobre a necessidade


de se evitar aglomerações, em


razão da pandemia. / J.L.


Xico Graziano


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Toffoli debate crise com


cúpula do Parlamento


BOMBOU NAS REDES!


No entorno do


presidente, já


são 13 infectados


Protagonismo de Mandetta na crise incomoda presidente. Pág. A5 }


l Fora da pauta


Presidente do Supremo


se encontra com Maia,


Alcolumbre e Mandetta


para discutir avanço do


novo coronavírus no País


“Essas manifestações não


foram pauta da reunião de


hoje (ontem)**. O Executivo**


estava presente através do


seu ministro da Saúde.”


Dias Toffoli


PRESIDENTE DO SUPREMO

ADRIANO MACHADO/REUTERS

De longe. Bolsonaro cumprimenta apoiadores em frente ao Palácio do Alvorada; desta vez, presidente evita contato direto


“Eu jamais me arrependerei do voto em Jair Bolsona-


ro. Mas não gostei dessa atitude irresponsável do pre-


sidente da República. Levou-nos à beira do abismo.”


Ex-deputado federal pelo PSDB


»CLICK. O procurador
Deltan Dallagnol mos-

trou em suas redes so-


ciais um dos “desafios


do teletrabalho”. Ele de-


fende o isolamento para


combater o coronavírus.


DIVULGAÇÃO / INSTAGRAM: @DELTANDALLAGNOL

lChegou a 13 ontem o número


de brasileiros que tiveram conta-


to com o presidente Jair Bolsona-


ro nos Estados Unidos, entre os


dias 7 e 9 , e receberam resulta-


do positivo para coronavírus.


Dois casos foram confirmados


ontem. Um deles foi o do presi-


dente da Confederação Nacional


da Indústria (CNI), Robson Bra-


ga de Andrade, que teve contato


com Bolsonaro e com o secretá-


rio de Comunicação, Fabio Wajn-


garten. O segundo resultado posi-


tivo de ontem foi o do Marcos


Troyjo, secretário especial de


Comércio Exterior e Assuntos


Internacionais do Ministério da


Economia. Além dos brasileiros,


o prefeito de Miami, Francis Sua-
rez, que encontrou o presidente,

também tem a doença.

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