O Estado de São Paulo (2020-03-17)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2020 Política A


Protagonismo de


Mandetta na crise


incomoda presidente


Ministro da Saúde, que tem se destacado nas ações de combate ao


novo coronavírus, vê seu trabalho ser ‘esvaziado’ por Bolsonaro


Mateus Vargas / BRASÍLIA


Em meio ao avanço do novo


coronavírus, o ministro da


Saúde, Luiz Henrique Man-


detta, começou a ver seu tra-


balho ser esvaziado pelo Palá-


cio do Planalto. A presença


do presidente Jair Bolsonaro


nos atos de domingo atrope-


lou o discurso do ministro de


enfrentamento à doença e de-


sautorizou uma de suas prin-


cipais recomendações, a de


que a população evite gran-


des aglomerações.


Nas redes sociais, onde en-


contra apoio até de opositores


de Bolsonaro, Mandetta foi


aconselhado a mostrar contra-


riedade, pedindo demissão.


Na última semana, a presen-


ça de Mandetta em entrevista


coletiva ao lado do governador


de São Paulo, João Doria


(PSDB), adversário do Planal-


to, também incomodou o presi-


dente. O grupo de Bolsonaro


diz que o ministro deveria ter


dado mais crédito ao presiden-
te pelas medidas anunciadas.

Ao mesmo tempo que contra-


ria Mandetta, Bolsonaro tenta


tirar dos bastidores o contra-al-


mirante da reserva Antonio Bar-


ra Torres, um médico bolsona-


rista que foi colocado no coman-


do da Agência Nacional de Vigi-


lância Sanitária (Anvisa) para,


entre outras missões, impedir a


liberação do plantio de maco-


nha, no que foi bem-sucedido.


É para Barra que Bolsonaro


telefona para se consultar so-


bre assuntos de saúde. Neste


ano, ele já esteve cinco vezes no


gabinete de Bolsonaro para en-


contros individuais; Mandetta


foi apenas duas vezes, confor-


me a agenda pública. O diálogo


do oficial com o presidente flui


por afinidades como mundo mi-


litar, motos e armas.


No domingo, o presidente da


Anvisa acompanhou Bolsonaro


na manifestação de rua contra o


Congresso e o Supremo Tribu-


nal Federal e a favor do gover-


no. A presença dele foi usada pe-


lo Planalto como uma chancela


à decisão do presidente de parti-


cipar do ato, mesmo com reco-


mendação contrária de Mandet-


ta a aglomerações e de médicos.


A atitude de Barra causou per-


plexidade entre autoridades da


área de saúde. Servidores da An-


visa lamentaram, em nota, a ida


do seu chefe ao ato.


‘Equívoco’. Após a aparição pú-


blica do presidente, Mandetta


declarou que as aglomerações


eram um “equívoco” diante do
avanço da doença no País. Des-

de os primeiros casos confirma-


dos, Bolsonaro e o ministro da


Saúde apareceram juntos ape-


nas uma vez. Foi na última quin-


ta-feira, durante uma live no Al-


vorada, quando usavam másca-


ras. No dia seguinte, Mandetta


estava ao lado de Doria.


Se dentro do governo Man-


detta enfrenta desconfiança, fo-


ra dele tem recebido elogios até


de adversários de Bolsonaro.


Em 5 de fevereiro, o ex-presi-


dente Fernando Henrique Car-


doso postou no Twitter que


Mandetta “mostrou equilíbrio”


e disse que “é disso que outros


ministros precisam, não de


ideologias de gênero, raça ou do


que seja”.


Mandetta chegou ao ministé-


rio apoiado pelo governador de


Goiás, Ronaldo Caiado, e o mi-
nistro da Cidadania, Onyx Lo-

renzoni, seus colegas no DEM.


Ao mesmo tempo, mantém rela-


ção amistosa com outras figu-


ras do seu partido como os pre-


sidentes da Câmara dos Deputa-


dos, Rodrigo Maia (RJ), atual-


mente um dos maiores críticos


de Bolsonaro, e do Senado, Da-


vid Alcolumbre (AP).


O ministro da Saúde nunca in-


tegrou o grupo próximo de Bol-


sonaro nem comprou pautas


ideológicas. No fim do ano pas-


sado, chegou a confidenciar a


antigos colegas da Câmara que


trocaria o cargo no governo por


uma candidatura a prefeito de


Campo Grande (MS). No mes-


mo período, o contra-almiran-


te que chefia a Anvisa dizia a alia-


dos que estava cotado a assumir


a pasta da Saúde.


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


PABLO VALADARES/CÂMARA DOS DEPUTADOS

lO ministro da Saúde, Luiz Hen-


rique Mandetta, comparou a parti-


cipação do presidente Jair Bolso-


naro nas manifestações de do-


mingo às pessoas que lotaram


praias no Rio. Mandetta também


comparou a postura de Bolsona-


ro, que teve contato com ao me-


nos 272 manifestantes, com o


trabalho de jornalistas que o en-


trevistavam com proximidade


maior do que a recomendada –


dois metros. / JULIA LINDNER


Janaina defende renúncia de Bolsonaro. Pág. A6 }


Ministro compara


atos com ida a praia


Força-tarefa. Alcolumbre, Mandetta, Dias Toffoli e Maia em reunião em Brasília para discutir ações conjuntas de combate à disseminação da covid-

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