REVISTA VOO LIVRE - EDIÇÃO 28 - NOVEMBRO DE 2022

(MARINA MARINO) #1

7. Vocêtemumaescritamuitopoética.Em
A Família Dionti que retrata uma família
especial,nummundodedurezas, apoesia
aflora:


Umacasaenfermizada,aarderemfebre(...) Josué
dádebeberàcasa,eofilhoquepergunta:


—Pai,oproblemacomanossacasaégrave?


—Não,nãoédoençadefindação:elaaindanãoperdeu
avontadedesemorardegente.Elapodeficarboa,basta
querernasvontades.


Comoéqueapoesiabrotanastuasobras?


Penso que a poesia convive conosco, é uma
força primária, elementar.A poesia está onde
pisamos,noqueservimosemnossoprato,nos
filmes que assistimos, nos semáforos, na
conversaemumcafé,numabraçodesajeitado.E
também pode estar na escrita. Em minhas
narrativas, a poesia é um fim e, ao mesmo
tempo, um recurso a acessar universos
fantásticos eoníricos.Apoesianuncaestáem
excesso,massemprefaztransbordar.


8. Vocêtrataomundorural.EmAFamília
Dionti,mastambémnocurta metragemA
língua das coisas, mundos repletos de
fantasiaepoesia,mundodonossoManoel
de Barros que te inspirou. Qual a
importância do mundo rural para você,
numa época em que aspopulações vivem
maisemcidades?


Nomundorural,algomágico,deoutraordem,
está sempre à espreita, na iminência de
acontecer. Assim como a ação de um
personagemafetaoutrospersonagenseatrama,
gosto de conferir à natureza igual função:
deslocando-adacondiçãodeambientaçãoaum
papel de protagonismo, também capaz de
interferir na história, seja através da redenção
inerente em um eclipse total, ou dos versos
escritosnasnervurasdeumafolhadeárvore.


Ouavançandoaindamais,imiscuindoanatureza
no próprio personagem, como em A família
Dionti, em Serinoque choraetranspiraareiae
seu irmão, Kelton, que derrete de amor,
literalmente.

9. Quaissãoo(a)steus(tuas)mestre(a)sem
literaturaefilme?
Gosto da liberdade que o gênero realismo
fantásticopossibilita,porisso,euoexploroem
meus livros e filmes. Os momentos de
hesitações deumanarrativafantástica, emque
nosdeparamoscomalgonãorealeficamossem
saber em que ordem crer e acompanhar, são
fascinantes.Seduz-meapossibilidadedaruptura
do real, abrindo suas janelaspara o devaneio,
para amemória eparaossonhos, permitindo
que tudo coexista.Entreosmuitos escritores,
queexploramofantásticoounão,masquesão
fortesreferênciasnaminhaescrita,possocitar:
GabrielGarcíaMárquez,GuimarãesRosa,Mia
Couto,ManoeldeBarroseJorgeLuisBorges.

10 .Comoescreve,quandoescreve,oquete
inspira,AlanMinas?
Euescrevoquasetodososdias,maspensoem
histórias quase todo o tempo. O elemento
basilar que me inspira numa escrita é o
sentimento, tendoem vistasuamais profunda
expressão, a catarse. Quando a história ainda
está no campo das ideias, associo o meu
protagonistaaumsentimento,quepodeseguir
presente em toda, ou boa parte, da narrativa.
Mas que, aos poucos, também vai recebendo
outras características: emocionais, físicas etc.,
conferindo profundidades. E não é raro eu
quererrefletirsobreumsentimentoe,somente
depois, surgir o arcabouço da trama e de
personagens.
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