REVISTA VOO LIVRE - EDIÇÃO 28 - NOVEMBRO DE 2022

(REVISTA VOO LIVRE) #1

Joana sob o signo do fogo (pág.83)


Decerto perdeste o senso
disseram os algozes
à destemida guerreira de França
Quiseram calar as vozes: aquela que ressoava
à frente de calorosas batalhas
e a outra mais potente que
desenhava com fios melódicos
de imagens poéticas
os sussurros de arcanjos


No turbilhão de moucas vozes
demônios de batina
preparavam sua fogueira


Lâminas brutais
dilaceraram seus cabelos de menina
O cru algodão lanhou
sua pele clara


As fagulhas famintas
devoraram seus pés
e a última carícia
de pelos
de seu cavalo alado


Na avidez de amante fatal
as chamas penetraram
seu ventre virgem
a dor
mãos incandescentes de labaredas
enlaçaram cintura
bafejaram um fino
etéreo véu envolveu
seu rosto olhos suplicaram
à altivez dos céus
lábios cerrados indagaram
humanademasiadamentehumana
questão: Pai, por que me abandonaste?


Agora és fogo fátuo
Capturada pelo portal de cores
és arco-íris
cintilância inalcançável
é sussurro do vento
orquestra de respingos de chuvas
És o canto perene da terra

Joana do morro
Evocou Medeia –a feiticeira triste
que viaja em seu carro alado
pelos atemporais
A traição feriu de morte a vida

A prole envolvida em
manto foi à consagração
No ritual ensandecido
das núpcias
jaz nos braços de Jasão

Joana conquistou seu quinhão
Voa ao lado de Medeia
em seu carro alado
cuspindo fogo
que desenha a linha do horizonte
onde mira o coração

Vem molhar meu colo
vou te consolar
vem, mulato mole
dançar dans mes bras
Vem, moleque me dizer
onde é que está
Ton soleil, ta braise

CORGOSINHO, Isa. Memórias da Pele.
Coleção 3 Mulherio das Letras –Belo
Horizonte: Venas Abiertas, 2021. 102 p.

@martacortezaopoeta @isabel10corgosinho
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